O anjo de Eva

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Um ano depois...
Eva:
Após os terriveis e últimos acontecimentos que vos contei e daquela minha noite inteiramente chorosa no quarto dos meus pais, entre lágrimas e soluços consegui ouvir os meus pais a susurrar, talvez para que eu não ouvisse daquilo que se tratava. Mas eu ouvi. Possuo de uma grande capacidade auditiva, algo que os meus pais já deveriam saber e ter isso em conta. O que é que eles haviam decidido? Colocar-me num psicólogo. Quer dizer, mais concretamente, a minha mãe decidiu em colocar-me num psicólogo. O meu pai estava e continua a ser totalmente contra, pois diz que os meus pensamentos terríveis (entretanto, sonhos começaram também a surgir) nada tinham de maligno. Mas a minha mãe era uma pessoa totalmente crente na igreja católica, e para ela aquilo era tudo menos normal. Principalmente os sonhos. O primeiro sonho que tive (no meu quarto, pois agora obrigam-me a dormir lá todas as noites) foi um sonho estranhíssimo e um tanto ou quanto assustador. Ainda hoje não consigo compreender se foi sonho, ou realidade. Mas antes que vos possa contar o meu sonho, tenho de vos explicar o que entretanto aconteceu.

Uma semana após a trágica noite;
Eliot chorava. O seu choro era de uma intensidade enorme. Chorou durante a noite toda e faltou ao trabalho. Algo que não acontecia já desde os primeiros dias do nascimento da pequena. Seu pai havia falecido.

Eva:
Eu conhecia o meu avô. Aliás, era uma figura muito próxima de mim. Quase como um segundo pai, sabem? Quando tinha cerca de 4 aninhos, deslocavamo-nos até á "terrinha" onde o meu avô (Zé) e a minha avó (Bia) (diminutivos utilizados para Maria de Jesus e José) viviam.
O meu passatempo favorito com o meu avô, e creio que fosse o dele também, era passear ao longo de um pequenino jardim em redor do quiosque onde a minha avô trabalhava, de mãos dadas. Paravamos sempre em frente de uma enorme gaiola, pública, pertence da câmara municipal, creio. Ficávamos quase que meia hora a contemplar os passarinhos. E principalmente os melros. Eram os pássaros favoritos de meu avô. Os melros pretos.
Quando recebi a notícia, dada pelo meu pai e pela minha mãe nessa noite, fiquei perplexa por uns minutos olhando para eles, frente a frente. Não chorei. Não sei porque. Pois adorava o meu avô Zé. A minha mãe repetia as palavras "ele está no céu, está num sítio melhor". Ouvi estas palavras e fui até ao meu quarto. Deitei-me. Fechei os olhos. Sonhei a noite toda com o tal jardim, eu e o meu avô passeando de maos dadas. Mas o que a minha mãe achou de anormal nesse sonho não foi isso: foi o facto de, não sei bem se estava com os olhos abertos ou fechados (mas creio que abertos, de certeza que estavam abertos...) Ouvi e vi. Não consegui ver a cara. Mas vi uma luz intensa que pairava por cima de mim (estando eu de barriga para cima naquele momento). Uma luz branca, com uma silhueta que era impossível detalhar. Mas a voz. A voz era a do meu avô. E dizia "Eu estou aqui."

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