01 de Setembro de 1999

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A gravidez de Elisa encontrava-se já na reta final, porém, havia sido bastante atribulada: muitos enjoos, desmaios, perda de sangue. Algo que  Dr.Duarte sempre achou estranhíssimo, aliás, aos olhos do médico, toda esta gravidez lhe parecia estranha pois tinha tomado proporções que este nunca vira. Foi numa consulta de rotina de seguimento da grávida que Elisa se queixara a Duarte acerca de uma dúzia de nódoas negras que se haviam formado na sua barriga, que na altura quase que nem era notória. Duarte rapidamente se alarmou, qualquer um de nós se alarmaria não é verdade? No entanto, este procurou tranquilizar a futura mamã:
-Esse bebé maroto hein! Com tanta força ainda nem há 4 meses de gestação, não se alarme Elisa, as ecografias não apontam nada de anormal, recomendo-lhe apenas repouso pois o pequeno pode estar a sentir os seus esforços no trabalho, essas nódoas negras poderão ser manifestaçoes.
Foram estas as suas palavras, mas Elisa não encontrava nelas o seu conforto, mas sim em Deus. Era uma católica praticante e ia todos os dias á missa (valores estes transmitidos por sua mãe), ato este que deixou de praticar assim que engravidou. Mas não abdicava das suas orações diárias.
E o pai de Eva, onde estava? Elliot. Era assim que este se chamava. Elliot não acompanhava de perto a gravidez da esposa. Estava revoltado. Revoltado pelo facto da gravidez ter ocorrido. Não tinha sido planeada pelo casal e advinda desta, as discussões em casa do casal Sousa eram frequentes, e diárias.
Nada disto ajudou ao repouso da mãe de Eva que embora aos 4 meses tenha sido condicionada ao espaço da casa, continuava a exercer todas as tarefas domésticas, a estar sozinha dias e dias inteiros porque Elliot trabalhava das seis da manhã às sete da noite. A sua única companhia: as orações.

4h30 da manhã do dia 1 de Setembro de 1999:
-Estou sim? Necessito de uma ambulância. A minha esposa encontra-se grávida e as contrações estão cada vez mais fortes.

Deu entrada no Hospital Público da cidade as 5h30 da manhã, uma hora depois. Já se sabe como são as ambulâncias. Demoram anos a chegar.
Foi imediatamente assistida e encaminhada para a sala de dilatação.
- Tem assim tantas dores? - pergunta a Elisa o médico de serviço.

- Muitas! Vai nascer, não vai doutor?

- Olhe que não.. a dilatação ainda não está feita, o que significa que ainda não está pronta para nascer. Talvez precise de mais umas horas. Realmente não sei o que lhe poderá estar a causar tais contrações.

Foi encaminhada imediatamente para um quarto na divisão da Maternidade do hospital e foi-lhe dado um calmante, para acalmar as dores. Mas nem isso. Eram mais e mais fortes. Elliot permaneceu no hospital com a esposa tendo que sair às 6 da manhã, demorou. Demorou muito e as dores tornavam-se cada vez mais fortes e insuportáveis. Elisa chorava. Chorava e orava. Orava por Eva, para que tudo corresse bem.
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16h30 de dia 1 de Setembro de 1999:

Elisa olhava-a. Ainda meio atordoada de toda a anestesia que tinha em seu organismo. Olhava-a com uma ternura imensa. Era linda. Olhos enormes e expressivos mesmo sendo recém-nascida. Gordinha.
- A mamã alimentou-se bem - pensava Elisa.
Cabelo aruivado, olhos castanhos escuros, porém quase que transpareciam a alma. De tão brilhantes que eram.

Chamava-se Eva. A primeira criada por Deus. E não é que era mesmo?

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