Capítulo Vinte e Seis

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Capítulo Vinte e Seis

O príncipe encarava uma pintura. Uma tela com tinta extraída das frutas, misturada com óleo e água num velho papiro desbotado colado à parede de sua tenda. Curvas suaves e esculturais pareciam formar um corpo pintado num denso rubro, e os longos cabelos representados num branco gelo. Em modo de ataque com sua arma, só poderia ser uma arqueira, ele deduziu. Aquele devia ser uma das poucas coisas que aquele vilarejo conseguira salvar do celebre incêndio de Sharwood, Thor pensou. E, por algum motivo, aquilo estava na tenda que lhe ofereceram por apenas algumas moedas de prata.

Ele deixou seu peso cair sobre o colchão de palha sentindo a primeira vez a exaustão que seu corpo carregava há mais de quatro dias. Thor apoiou seus cotovelos sobre os joelhos, deixando um suspiro escapar de seus lábios.

Ele prensou os lábios e olhou outra vez para tela, sabendo que aquela imagem lhe trazia uma lembrança que lhe parecia tão antiga do último outono.

– Você deve erguer seu braço na altura de sua boca – a voz aveludada lhe indicou. Thor então, pôde fazer o que ele esteve tentando evitar o dia inteiro, encarar os lábios incrivelmente sensuais como desejáveis da princesa do Norte.

– Em seguida, posicione bem a seta.

A princesa Amélia se colocou em posição de ataque como indicara, ficando em diagonal para ele. E Thor, relutantemente, deixou seus olhos descerem pelo contorno de seu vestido que valorizavam suas curvas. Seria a primeira vez que ele teria a chance de olhar sem ser desrespeitoso. Ela parecia uma perfeita nobre, trajes caros, uma pele oliva reluzente de tão limpa e bem cuidada, cabelos negros com uma cascada de caracóis sedosos e um sorriso branco e perfeito. Contudo, a imagem que restara em sua mente foi sua forma selvagem que ele vira na floresta do cabelo bagunçado e o olhar arisco. E era isso que deixava-a mais interessante, porque ela não parecia como as outras nobres.

Estava cansado daquela mesmice que vivera em Wanderwell e Amarílis, garotas incrivelmente belas e charmosas, mas irritantemente superficiais e vazias. Na verdade, beleza externa era apenas um bônus para Thor, a personalidade era o que lhe chamava a atenção e ele sabia que o único motivo para atrair as garotas mais belas de seu reino era somente seu título de primogênito do rei do Leste.

E aqui estava ela a primogênita do rei do Norte. Ela não tinha mudado quase nada em comparação as últimas imagens que Thor tinha guardado em sua mente, apenas se tornara uma mulher. Uma mulher incrivelmente atraente e cheia de personalidade.

– E, por fim, deixe ela partir – ela sussurrou largando a flecha de seu arco. Ela atravessou o campo e acertou em cheio o alvo.

Thor se recompôs, olhando a flecha no centro do alvo. Deixar-se levar por aquele sentimento seria consentir com o que seu pai queria, um casamento. Um casamento diplomático o qual ele pudesse tirar benefícios.

– Tem uma boa pontaria, princesa.

– Foram anos de prática. Gostaria de tentar? – ela lhe estendeu o arco.

– Setas não são meu forte.

– Nunca foram – ela rebateu com um sorriso atrevido. – Lembro-me de nossas competições quando éramos mais novos. Não é possível que não tenha melhorado nada nesse tempo todo.

Thor arriscou e aceitou o arco, se posicionando. Desejou ter prestado mais atenção nas suas dicas, mas nunca dominou aquela arma.

– Levante mais seu cotovelo, príncipe. Quando se sentir pronto, solte-a.

Thor a soltou sem ter a certeza da resposta, e como o esperado, errou vergonhosamente o alvo. Mia começou a rir.

– Ou talvez seja tão ruim como antes.

Ceres - Agora o Inimigo é Outro [LIVRO 2 - COMPLETO]Where stories live. Discover now