dois

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A sala incrivelmente limpa e arejada não parecia pertencer ao homem ranzinza e grosseiro que comandava todo o Instituto a punhos de ferro.

Tendo posse do último andar do prédio, dava ao Sr. Malik um local amplo para todo o seu trabalho. Com uma recepção em um estilo clean tendo o cinza como cor predominante. A parde de frente para a porta de seu escritório era de vidro, do chão ao teto. Trazendo toda a luminosidade nublada de NYC. Apesar do prédio estar próximo ao centro do caos de carros e poluição sonora, o som era completamente abafado lá dentro, dando a impressão que de um silêncio campestre.

Enquanto esperava pelo retorno de Edgar, sua secretária me serviu uma xícara de café, pedindo para que eu aguardasse ali a vinda de nosso chefe. Mais uma vez me peguei pensando sobre o motivo pelo qual eu estaria ali. Tudo o que possuía de assunto em comum com o doutor não passava da minha antiga pesquisa.

Talvez ele esteja tentando ser legal ao me despedir.

Minha vontade real era fugir dali o mais rápido possível, alegando qualquer desculpa esfarrapada para correr como um covarde de minha sentença.

Ou talvez eu esteja apenas sendo dramático demais.

Voltando a focar minha atenção em qualquer outro ponto que não seja a sala de Edgar, eu acabei me prendendo a um livro em cima de sua mesa. A escritura a mão e as páginas amarelas denunciavam a velhice do objeto. A capa era de couro e já estava desgastada.

Pelo rodapé e cabeçalho do livro havia várias anotações na letra de Edgar, das quais eu não consegui prestar devida atenção graças ao conteúdo do livro.

Falava sobre clonagem.

A clonagem perfeita de um ser humano, usando outro DNA além do clonado. Transformando toda a matéria do terceiro indivíduo em uma nova. Tecnicamente, aquele pequeno livro gasto mostrava em detalhes como fazer uma vida em laboratório.

Porém aquilo era preocupante, além de ser proibido. Não existia indícios de uma invalidação genética. Ou seja, usar uma célula que já pertença a um tecido e tenha as suas características únicas para recriar um ser humano. Isso seria atribuído a células tronco, que não passavam de células nulas. Mas mesmo assim isso ainda era um sonho distante e ousado, células tronco eram usadas apenas para recriar tecidos simples.

Um novo corpo seria... Impossível.

— Ler trabalho alheio não é o melhor nível de ética, sabia? — Ouvi a voz grave de meu chefe.

Pulei na cadeira deixando o livro cair sobre meu colo. Um suspiro assustado escapou de minha garganta fazendo Edgar rir baixo, enquanto caminhava até sua mesa de madeira maciça fazendo par com uma cadeira de couro marrom e brilhosa. Ele esticou a mão em minha direção sem desfazer o sorriso irônico.

— Tecnicamente, esse trabalho — fechei o livro. — não é seu, sr. Malik.

Mas talvez venha a ser, sr. Payne. — Respondeu rabugento tomando o livro de minha mão.

Ergui as sobrancelhas encarando seus olhos, Edgar tinha o semblante misterioso como se escondesse algo, e obviamente, escondia. Posicionou cuidadosamente o antigo livro em sua mesa, apoiando os cotovelos na mesma parecendo analisar-me.

— Sr. Malik, por que me chamou aqui? — Tentei evitar a falha em minha voz, porém foi impossível.

Edgar passou o indicador pela barba clara que crescia abaixo de seu nariz, pigarreando, nitidamente desconfortável.

Não me demite. Não me demite.

— Payne, você sabe que é a pessoa que mais confio aqui dentro, certo?

XPERIMENT | L&ZWhere stories live. Discover now