Cinco

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Eram seis quarenta quando começou um temporal, Cecí estava sem internet e ansiosa para falar com Davi

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Eram seis quarenta quando começou um temporal, Cecí estava sem internet e ansiosa para falar com Davi.

Os domingos eram dias melancólicos para Cecí, a chuva tornava tudo ainda mais intenso. Ela preparou uma xícara de café, pegou um livro, “Este é um livro sobre amor” da Paula Gicovate, e começou a ler.

Os trovões deixavam ela agitada, as descargas elétricas pareciam transpassar seu corpo.

O livro que estava lendo da Paula Gicovate, era como um refúgio do mundo e também um espelho... ela se via refletida no livro. Haviam outros livros em seu armário, mas aquele era o preferido de Cecí. “ Jantou meu coração quente com um pouco de vinho. E não me ofereceu nenhum pedaço. ” esta era uma das frases preferidas de Cecí. Todos os textos contidos no livro, tinham uma intensidade que ela apreciava demasiadamente.

Cecí, tinha o habito de escrever todas as noites que passava sozinha, mas no sábado não havia escrito nada e sentia necessidade de escrever algo. Pegou seu caderno, uma caneta, encarou o papel em branco, e resolveu escrever sobre Davi…

Ele chegou de repente, como quem só quer comprar um café, um fio de cabelo estava grudado na sua bochecha esquerda, mas ele não percebeu, ou não sentiu. Os fios de cabelo são tao leves, tão leves quanto sua energia, e meu deus, eu nem acredito nessas coisas!”

Cecí pausou a escrita, e suspirou.

Ou talvez, eu apenas gosto de negar que acredito nas coisas que acredito.
  Ele pagou o café que bebeu, saiu pela porta, e me levou junto sem pagar nada.
Eu sinto algo, algo que não sei decifrar, mas já não tenho mais dezesseis anos pra estar apaixonada por um cara que conheço à apenas um dia e meio. Estou negando novamente, eu sei, eu sei... mas caramba, eu passei tantos anos sem sentir isso, e agora… agora eu sinto? Eu não quero bloquear nenhum sentimento, mas eu não sei, eu não sei... ”

Cecí, fechou o caderno e chorou, estava tendo uma crise emocional. Isso acontecia  quando algo desorganizava à bagunça interior que ela arrumava todos os dias.

Filha, posso entrar?
Alice falava abrindo a porta, e encontrando a filha em prantos.

O que houve, meu bem?

Cecí, chorava soluçando.

E-eu não sei… é só que eu não sei…
Alice abraçou Cecí, já havia encontrado à filha naquela situação três vezes e tinha aprendido a lidar com aquilo, ficava em silêncio abraçando-a, até ela se recuperar.

Uns minutos depois, quando suas lágrimas haviam cessado, Cecí começou a falar.

Eu acho que estou apaixonada pelo Davi, e não consigo digerir isso, eu o conheci ontem e hoje estou aqui em prantos porquê não sei o que fazer com isso, mãe... você acha isso possível?

Uma vez você me disse que não, que paixões são incontroláveis. Lembra? Aquela vez que eu me apaixonei pelo moço do mercado? E estava ficando louca com o que sentia, você me explicou que era pra mim relaxar, que sobre essas coisas não temos controle algum…

Cecí, suspirou.

Lembro, mãe... mas você sabe que fazem anos que eu não me apaixono por ninguém. E agora isso?

— Filha, vou repetir… paixões são incontroláveis.

— E o que eu vou fazer?

— Relaxar, vocês estão se conhecendo, não é algo platônico como foi comigo.

Alice sorriu.

Mas mãe, você conseguiu relaxar?

— Eu deveria dizer que sim, mas… não consegui. Não até a paixão passar e eu perceber que não ia dar em nada. Porém, são situações diferentes.

— Eu entendo, acho que só estou apressando as coisas…

— Concordo, mas não se sinta mal por isso…

Eu vou tentar, afinal… eu nem sei o que ele sente por mim, se já sente algo e enfim…

Cecí suspirou.

Bom, agora que já está melhor vou terminar de secar a água que entrou pelo vão da porta, ou você quer dar um mergulho lá na sala?

Cecí sorriu, era admirável o bom humor de Alice.

Hoje não, mãe… estou sem biquíni.

— Pobre garota desprovida de roupas de banho.

As duas sorriram. A tempestade interior de Cecí havia cessado. Alice ia saindo do quarto quando lembrou, do envelope que achou perto da porta e qua agora estava caído no chão do quarto. Abaixou-se e pegou-o.

Achei isso perto da porta, é seu?

— Acho que não, você abriu?

— Não, achei que era algo particular seu. Mas vamos ver o quê é.

Alice abriu o envelope, molhado pela chuva, e leu na parte exterior do papel “Cecí”, sorriu.

Definitivamente é seu!

Entregou o envelope e o papel para Cecí.

Vou lá, já volto…

Alice saiu do quarto, enquanto Cecí observava o envelope sépia, e o seu nome escrito no papel.
Abria o papel com cuidado, ele estava úmido demais, poderia rasgar facilmente.

Cecí.
Estou em casa, minha mãe chegou faz pouco tempo, falando sobre ter conhecido uma garota muito simpática, e bonita. Você.
Eu não imaginava que fôssemos nos aproximar tão rápido, e agora você já conhece o que restou da minha família... não que minha mãe seja pouca coisa, mas agora somos só nós dois. Entende? Espero que sim.
Mas não é sobre isso.
Está começando a chover, e isso normalmente me deixa extremamente melancólico, mas não consigo sentir a melancolia, só um desconforto no meu peito. Você já sentiu isso?
Quero te perguntar uma coisa. E quando tiver a resposta mande-me uma mensagem com um lugar para nós nos encontrarmos e a hora ( eu adoraria te ver nos degraus da sua casa), bom a pergunta é: Quanto tempo demora pra alguém se apaixonar?

Caso queira saber minha resposta pra isso, eu diria que alguns minutos ao meio dia, ou algumas horas a noite.

Também gostaria que não falássemos sobre isso no Facebook, não quero parecer chato, mas eu prefiro ver sua boca se movendo e as palavras saindo dela como borboletas no verão.

Davi.”

Isso… não pode ser real…
Alice entrou no quarto novamente.

O quê não pode ser real?
Cecí alcançou o papel para Alice. Ela sentou ao lado da filha, e leu atentamente a carta.

Davi realmente existe, ou nós estamos em um sonho juntas?

Cecí sorriu, mas ainda estava incrédula com o que havia lido.

Eu acho que estamos sonhando, mãe quem sai na chuva pra deixar uma carta embaixo da porta de alguém?

Davi.
Alice falou apontando para assinatura no papel.




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