Capítulo 39

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- Você é mesmo real? Como... - não consegui completar a frase.

- Estou viva?

Eu assenti.

Tudo aquilo era tão estranho. Não conseguia acreditar que a mulher que estava na minha frente, que tinha acabado de me abraçar era na verdade a minha mãe.

- Como isso é possível? - sussurei limpando as lágrimas. - Quero dizer, onde você esteve por todo esse tempo? Como entrou aqui?

- Letícia, vamos entrar para eu esclarecer tudo.

- Mas o que eu vou dizer ao Giancarlo?

- Não precisa dizer nada.

Aquilo estava muito esquisito e eu não estava gostando. A minha mãe estava tão a vontade andando rumo a casa que eu fiquei me perguntando como ela havia decorado o caminho tão rápido, já que foram necessários alguns dias para eu andar pela enorme propriedade sem me perder. Entramos pelas portas duplas e nos dirigimos para a biblioteca da casa. Eu só havia estado lá uma ou duas vezes, por isso não estava familiarizada com a localização exata. Mas aparentemente, isso não foi problema nenhum para a minha mãe.

- Sente-se - ela pediu e eu sentei em um sofá que ficava em frente a janela que dava para os jardins.

- Como conhece tão bem a propriedade? - indaguei de uma vez, pois aquilo estava me incomodando.

- Eu já... estou aqui há uma semana.

- O quê!?

Se antes eu não estava entendendo nada, agora entendia menos ainda. Como ela estava aqui há uma semana e Giancarlo não tinha notado nada? Pensei que ele tinha total ciência do que acontencia em sua casa.

- Como você entrou? Como conseguiu se enconder de Giancarlo?

- Não me escondi. Ele sabia perfeitamente que eu estava aqui.

Foi como levar um tapa na cara. Mas uma vez Giancarlo estava me escondendo alguma coisa. Por que ele não me disse que a minha mãe estava viva e mais precisamente na casa dele?

- E ele não me disse nada - levantei, andando de um lado para o outro.

- Foi eu quem pedi para que ele não contasse nada, filha. Até porque, vocês mal se falavam.

Pus uma mão na cintura e a outra na barriga antes de voltar para minha mãe e analisá-la pela primeira vez na noite. Ela usava uma calça jeans, blusa azul escura de mangas compridas e uma sapatilha simples na cor preta.

- Por que fingiu que estava morta? Sabe o quão horrível foi a vida do papai? Ele teve que passar por cima do luto para cuidar de mim e isso custou muito à ele.

- Filha, eu fui... obrigada a fazer isso. Tem coisas que eu não posso te contar, pois seria muito perigoso para você.

- Você está envolvida em algo ilegal ou alguma coisa do tipo? - perguntei, temendo que sua resposta fosse "sim", pois eu não aguentaria pensar em perdê-la de novo.

- Não... não exatemente. Isso eu não posso te dizer, Letícia. Me desculpe.

Nesse momento a porta foi aberta e Giancarlo entrou. Seus olhos se arregalaram ao ver minha mãe e eu no mesmo cômodo há poucos metros de distância uma da outra.

- Letícia, eu posso explicar... - ele começou mas foi interrompido por Kátia.

- Não precisa, Giancarlo. Eu estava fazendo isso agora mesmo. Acabei de dizer que foi eu quem lhe pedi para não contar sobre mim para ela.

Ele ficou em silêncio por alguns segundos e então andou até mim. Pegou uma das minhas mãos entre as suas e olhou bem nos meus olhos antes de falar:

- Eu não quero que você fique irritada comigo, mas você está no seu direito.

Eu voltei o rosto para a minha mãe. Eu queria saber tudo. Exatamente tudo. Desde o momento em que ela fingiu a sua morte até aparecer no jardim da casa de Giancarlo.

- Me conte tudo - pedi e ela assentiu.

A história da minha mãe era enorme. Ela fingiu que havia morrido e disse que não foi muito difícil. Com o dinheiro que ela tinha, poderia fazer qualquer coisa. Logo em seguida ela passou anos acompanhando minha vida há distância. Eu duvidei disso, mas quando ela contou com detalhes coisas que nem meu pai sabia, como a briga de Camila com Marcela na escola, fui obrigada a acreditar. Ela disse que quando fiz vinte e dois anos, ela saiu do Brasil e veio para a Itália, e que estava aqui desde então, esperando por mim.

- Por que você fez esse acordo com o senhor Frederico? - perguntei e Giancarlo ficou tenso ao meu lado. Não entendi a reação dele, já que esse assunto nos interessa.

Minha mãe lançou um breve olhar para Giancarlo antes de se virar para mim e responder:

- Eu precisava fazer aquele acordo. Era o único jeito de deixar você e o nosso patrimônio em segurança, pois eu sabia que seu pai jamais aceitaria a herança.

Eu também sabia bem disso. O meu pai era o orgulho em pessoa e de certo modo, eu herdei um pouco disso dele.

- Como assim, deixar o nosso patrimônio em segurança? Por quê?

- Tem uma pessoa que me odeia. Essa pessoa estava atrás de mim e que não iria parar até me ver morta. Essa pessoa precisava pensar que eu tinha morrido. Mas eu tive medo que mesmo assim, ela fosse atrás de você. Por isso fiz esse acordo com Frederico, pois só ele poderia impedir que algo acontecesse com você.

Levei dois dos às têmporas, fazendo movimentos circulares em seguida. Toda aquela conversa estava me dando uma péssima dor de cabeça. Segredos, segredos e mais segredos. Parecia que a minha vida era baseada apenas naquilo.

- E por que você não contou sobre essa pessoa que estava atrás de você para o meu pai?

- Na época, seu pai estava furioso comigo, pois tinha acabado de descobrir algo sobre mim. Ele ficou transtornado, ameaçou levar você embora. Tudo que ele queria, era me ver morta.

- Com certeza você não está falando do meu pai. Ele te amou com toda a alma e com todo o coração. Jamais deixaria que alguém fizesse mal à você!

Não acredito que ela acabou de falar assim do meu pai. Ele não é um monstro. Seja o que for que ela tenha feito, eu sei que ele iria entender. Desejar ver ela morta? Não, de jeito nenhum.

- O que ele descobriu sobre você? - perguntei e Giancarlo respirou fundo ao meu lado.

- Tem certeza de que quer saber, Letícia? Isso pode... chocar muito você - ele falou, olhando para a minha mãe.

Olhei de um para outro.

- Quero - minha resposta foi firme.

- Seu pai descobriu que no começo do nosso casamento... eu o traí e tive um filho com outro homem.

Levei uma mão à boca. Eu tinha um irmão? E meu pai sabia disso?

- E... o que aconteceu com o meu irmão?

Minha mãe cruzou as mãos e olhou para os próprios pés. Parecia não saber se contava ou não para mim.

- Eu o entreguei para o pai, pois eu realmente queria o perdão do Augusto.

- Então meu irmão está vivo? Você sabe onde ele está?

- Letícia - ela começou, falando as próximas palavras com cuidado. - O pai do bebê era Frederico. O seu irmão, é o Pietro.

Caí sentada no sofá atrás de mim.

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Quantas revelações em um capítulo só não é? Letty e Pietro são irmãos. Quem diria!?
Gostaria de pedir desculpas por ter demorado tanto para postar esse capítulo. Estou trabalhando em outra história e fiquei muito envolvida nela. Obrigada por continuarem aqui comigo.
Beijos,
Nick.

Era Uma Vez Em Florença Onde as histórias ganham vida. Descobre agora