Capítulo 30

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Fui levada para outra sala e Camila foi comigo. Ela fez de questão de ir chamar Giancarlo enquanto a doutora me preparava para fazer o meu primeiro ultrassom.

Eu estava tão nervosa, que acompanhava cada movimento da Dra. Bianchi como se a minha vida dependesse daquilo.

A porta se abriu e primeiro Camila, depois Giancarlo entraram. Ele estava tão nervoso e tão sério. Ao observar seus olhos escuros sem nenhum brilho, tive vontade de chorar de novo. Eu precisava dele e estavámos tão bem... Eu sei que o bebê não foi planejado, mas é o nosso filho, ele tem que ao menos ficar ao meu lado.

- Tudo pronto, vamos começar - a médica anunciou.

Eu iria fazer o ultrassom intravaginal, usado no comecinho da gravidez. A doutora introduziu o aparelho e senti uma pequena pressão. Foquei meu olhos na tela, que aos poucos foi ganhando alguns borrões preto e branco.

A Dra. Bianchi ergueu as sobrancelhas ao ver a imagem na tela e eu busquei imediatamente os olhos de Giancarlo. Quando viu a minha preocupação, ele segurou a minha mão e sorriu. Era o primeiro sorriso que ele dava desde que recebeu a notícia da minha gravidez e aquilo me deixou mais tranquila.

- Tudo bem, doutora? - Camila perguntou.

- Hã... sim. Eu só fiquei bastante surpresa. Isso não é raro, mas não é muito comum.

Eu odiava o suspense que aquela mulher fazia. Por que ela não dizia de uma vez por todas o que estava acontecendo?

- Doutora? - Giancarlo chamou e ela parece ter voltado a realidade.

Primeiro olhou para Giancarlo e depois para mim. Abriu um largo sorriso e finalmente falou:

- São trigêmeos!

Camila ficou boquiaberta.

Giancarlo arregalou os olhos em pânico.

Eu sorri.

Realmente, sorri.

É claro que eu deveria está tão assustada quanto eles, mas só conseguia imaginar os serzinhos que estavam no meu ventre e que em um dia só, conseguiram me surpreender duas vezes. Meus olhos se encheram de lágrimas e eu apertei mais a mão de Giancarlo.

- Vamos ter três filhos? Assim, de uma vez só? - eu perguntei, ainda emocionada.

- Sim. Ainda é cedo para ouvir os coraçõezinhos, mas a partir da sétima semana, poderemos. Pelo que vejo você está com quatro semanas e os três parecem muito bem.

A medida em que a Dra. Bianchi falava, eu me sentia cada vez mais encantada. Era real. Eu estava mesmo grávida. E já não tinha nenhum sinal da preocupação inicial que eu havia sentido ainda a pouco.

*     *     *

Quando a doutora enfim me liberou, eu estava um poço de alegria e ao mesmo tempo, nervosismo. Eu estava contente por ser mãe, mas também estava apavorada com a possibilidade de não ser boa o suficiente para as três vidas dentro de mim.

Ser mãe de uma criança já é um grande desafio e exige muita resposabilidade, atenção, cuidado e amor. Agora ser mãe de três e de uma vez só, exige o triplo disso.

Quando chegamos na sala de espera, onde Matteo, Pietro, Renata e dona Marta estavam, todos olharam para mim com preocupação. Eu tentei sorri para todos eles.

- Estou bem. Alguma notícia do meu pai?

Matteo assentiu e respondeu pelo outros:

- Um médico veio falar conosco a pouco tempo. A operação está indo bem e eles tem quase oitenta por cento de certeza de que o seu pai não ficará paraplégico.

Aquilo me tranquilizou um pouco. Mas eu estava louca para contar ao meu pai sobre a gravidez. Eu também queria contar aos outros, mas parecia muito cedo para isso. Sem falar que as circustâncias não são nada boas.

Matteo olhou de relance para Giancarlo que fez um leve balanço de cabeça. Os dois pediram licença e se retiraram. Fiquei me perguntando o que eles teriam para falar, mas preferi ficar quieta.

- Tem certeza que está bem? - Renata perguntou, seu rosto só expressava preocupação.

- Estou. Olha, eu tenho que falar com você. Pode vir comigo?

Ela me olhou meio receosa, mas assentiu. Camila foi conosco, mesmo eu falando que não era necessário e que seria melhor ela ficar com a mãe dela.

- O que está acontecendo? Para quê todo esse misté...

- Eu estou grávida, Renata. De trigêmeos.

Minha amiga parou imediatamente de falar e arregalou seus olhos azuis. Ela olhava de mim para Camila e vice-versa, sem conseguir acreditar. Eu já esperava aquele tipo de reação dela.

- Você está brincando? Grávida? Ai meu Deus, Letícia! Como isso aconteceu?

- Quer mesmo que ela explique? - a voz de Camila estava carregada de humor.

Renata corou até a raíz do cabelo e balançou a cabeça com veemência.

Quando eu ia começar a contar mais detalhes da minha gravidez para ela, Pietro apareceu, sério. Ele olhou primeiro para Renata, que desviou o olhar e depois para mim.

- Letícia, a polícia está aqui e quer falar com você.

Eu fiquei meio hesitante. Será que eles tinham novidades sobre o que aconteceu com o meu pai? Já tinham pegado quem atirou nele? Ou que pelo menos tivessem descobrido o motivo desse crime. Meu pai não conhece ninguém aqui em Florença. Não tinham motivos para atirarem nele.

Eu fui até a recepção onde estava Marta, falando com um dos policiais. Giancarlo e Matteo ainda não estavam por perto e aquilo me irritou um pouco. Odiava a maneira com que o meu marido estava se comportando. Ele estava me evitando de propósito e algo em mim dizia que ele não queria os nossos filhos.

Pus uma expressão impassiva no rosto para disfarçar o meu sofrimento e fui falar com os policiais.

- Senhora Agnelli? - um dos policiais falou.

- Sim, sou eu.

- Poderíamos fazer algumas perguntas?

Eu assenti e eles começaram a perguntar onde eu estava na hora do crime. Se o meu pai possuia inimigos ou se eu tinha alguém que não gostasse mim o suficiente para descontar no meu pai. Aquilo era um absurdo! Eu e o meu pai só estávamos em Florença a pouco mais de dois meses. E metade desse tempo meu pai estava cego ou internado em um hospital. Como ele, um homem simpático e bondoso poderia fazer algum inimigo? Não tinha nenhum sentido.

Eu continuei falando com os policiais por mais alguns instantes e finalmente eles me dispensaram. Giancarlo ainda não estava por perto e eu decidi que não iria ficar atrás dele. Se é para se afastar, então que seja.

Doutor Salvatore se aproximou de mim com um sorriso hesitante. Ele estava se comportando de maneira estranha nessas últimas horas.

- Alguma novidade, doutor? - perguntei.

- Ainda nenhum. Mas pode me chamar apenas de Luca - e sorriu.

É impressão minha, ou o doutor Salvatore... quer dizer, Luca, está flertando comigo?

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Eita. Será?

Só sei que no próximo capítulo, alguns segredos finalmente serão revelados...

Era Uma Vez Em Florença Onde as histórias ganham vida. Descobre agora