Capítulo 36

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Corri até o meu quarto e peguei a minha bolsa no closet. Já fazia três meses desde a minha volta ao Rio de Janeiro e eu consegui realizar o meu grande sonho de comprar um apartamento no bairro do Leblon. O meu sonho não tinha custado muito barato, mas valia a pena. 

O apartamento era enorme e eu fiz questão de decorá-lo sozinha e amei o resultado final. Era muito estranho ter dinheiro para gastar com o que quiser, já que há uns seis ou sete meses atrás, eu estava morrendo de medo de não ter mais como sustentar nossa pequena casa. Quem não estava nada feliz com essa mudança "da água para o vinho" era meu pai. Por ele, o dinheiro da minha mãe continuaria intocado.

Alguém tocou a campanhia e eu fui abrir a porta. Eu achei que seria muito exagero contratar uma empregada, sendo que eu mesma poderia fazer tudo que ela iria fazer.

- Já está pronta? - Camila gritou, toda animada e se abaixou para beijar a minha barriga saliente.

Eu já estava com cinco meses de gestação e a minha barriga estava enorme. Meus bebês cresceram e tomaram bastante espaço, mas eu estava adorando a minha nova curva. Hoje seria o grande dia de descobrir o sexo dos trigêmeos e eu estava morrendo de ansiedade.

- Prontíssima. Estou tão ansiosa, Camila! Vai ser um dos momentos mais especiais da minha vida - eu ri.

- Eu aposto que também seria da vida de Giancarlo - ela falou baixo, mas eu escutei.

Desde que cheguei, eu tentava ao máximo não pensar em Giancarlo e tinha me saído bem. Mas sempre que ouvia algo relacionando à ele, meu coração apertava e a vontade de sair correndo para encontrá-lo era enorme. A mídia também não ajudava muito. E diversos rumores sobre a nossa serapação começou a circular. Felizmente, eu não dava muita importância.

- Melhor nós irmos logo, Camila. Não quero me atrasar - mudei de assunto e passei por ela, trancando a porta do apartamento.

- Letty, fingir que não aconteceu não vai te ajudar. Você quer escapar de tudo que lembre Giancarlo, mas e se seus filhos parecerem com ele? - ela insistiu.

- Camila, por favor. Você pensa que é fácil? Todo dia eu acordo e vou dormir com o coração apertado pensando no que talvez ele esteja fazendo. Quando eu falo com Pietro, ele sempre diz a mesma coisa: que Giancarlo se fechou para todos. E eu... eu não sei como me sentir a respeito disso.

Entramos no elevador e ela continuava olhando para mim como se a qualquer momento fosse me agarrar meus ombros e me sacudi para que eu finalmente parasse de agir do jeito que estava agindo.

- Eu só acho,que independente do que aconteceu entre vocês, está óbvio que ele se arrependeu. Ele deveria fazer parte da vida dos bebês também.

- Não - eu disse com firmeza, encerrando o assunto.

Camila suspirou e resolveu deixar o assunto para lá.

*     *     *

- Como é bom vê- la de novo, senhora Agnelli - a doutora Patrícia falou ao entrar na sala com um sorriso nos lábios.

Eu não via a hora de me divorciar de Giancarlo e tirar logo o seu sobrenome. Mas infelizmente para isso, eu teria que voltar à Florença e só faria isso depois do nascimento dos bebês.

- Confesso que estou ansiosa para essa consulta, doutora. Nem consegui dormir direito.

- Os seus trigêmeos estão ótimos, então vamos logo descobrir se são menininhos ou menininhas.

Eu gostava da doutora Patrícia porque ela me lembrava um pouco o doutor Luca Salvatore. E aqui estou eu mais uma vez pensando em algo relacionado à Florença. Eu realmente não tomo jeito.

A doutora iniciou todos os procedimentos e Camila estava ao meu lado, olhando para a tela com ansiedade e empolgação. Era ela quem me acompanhava em todas as minhas consultas e no começo até pensaram que éramos um casal.

Os borrões branco e preto apareceram na tela e eu já não lembrava como se respirava. A doutora passava o aparelho de um lado para o outro na minha barriga e eu só ficava observando as manchas se mexerem.

- O primeiro é menino - ela anunciou e os meus olhos ficaram cheios de lágrimas.

Camila abriu um sorriso de orelha à orelha e apertou a minha mão. Eu não consegui controlar nem o meu próprio sorrriso.

- O segundo também é um menino - a doutora sorriu para mim.

- Pelo jeito são três meninos, Letty! Você vai ter trabalho - Camila falou e eu ri.

Engraçado, eu tinha certeza de que seriam meninas. Pelo visto eu me enganei. Mas isso não importa, eu estava mais do que feliz em saber que tem garotinhos vindo para alegrar a minha vida.

- Aqui está o último... - a doutora fez suspense. - Ah! É uma menina.

- Uma menina! Ah meu Deus! - Camila soltou a minha mão e começou a dar pulinhos de felicidades.

Eu também estava radiante. Deus tinha me dado de presente não só dois fortes menininhos, mas também uma linda princesinha. Eu não conseguia acreditar em como aqueles três estavam deixando a minha vida mais feliz.

- Alô, Matteo? - Camila falava ao celular. - Você não vai acreditar! Os bebês da Letícia e do Giancarlo são dois meninos e uma menina... É, eu também fiquei surpresa... O Giancarlo está aí?

Camila olhou para mim e meu sorriso se desmanchou um pouco. Aquela dor no coração estava voltando. Me concentrei em respirar fundo e tentar ignorar. Mas a minha melhor amiga estava disposta a infernizar a minha vida, pois ela colocou a chamada no viva-voz.

- Parabéns, Giancarlo. São dois rapazinhos e um mocinha - era a voz de Matteo.

- O quê? Você está falando sério? A Letícia já sabe o sexo dos nossos filhos? - Giancarlo perguntou, com a voz cheia de emoção.

A doutora Patrícia observa todas as minhas reações em silêncio. Camila então, voltou a falar:

- Sim, Giancarlo! Ah, a ligação está no viva-voz, não quer falar algo para a Letícia?

Eu fuzilei Camila com meus olhos. Como ela pôde oferecer isso? Eu tinha deixado bem claro que não queria falar com Giancarlo a não ser que fosse muito urgente e necessário.

- Letícia? Vou está me ouvindo? - sua voz continuava do mesmo jeito e eu não sabia como reagir isso.

Pensei seriamente em não responder, mas como a trouxa que sou, acabei respondendo.

- Estou, Giancarlo.

Ele suspirou aliviado.

- Então é verdade? Dois meninos e uma menina?

- Sim.

- Eu estou muito feliz por nós, amore mio. Eu... queria ter estado aí com você.

- Eu... tenho que ir.

Fechei os olhos com força. Como eu senti falta de ouvir a voz dele. Era o som mais familiar do mundo para mim. E ao mesmo tempo que me trazia paz, me enchia de dor. Baixei a blusa e saí da sala.

Era Uma Vez Em Florença Onde as histórias ganham vida. Descobre agora