Crise existencial

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Como você pode chamar isso de amor? Sendo que você mais chora do que sorri. Então é isso, afinal ninguém disse que faria bem, ninguém disse que seria fácil.

- Eu quero que saiba que te desejo tudo de bom, você é legal, me entende. Mas acho que confundimos as coisas e esse pequeno erro está matando a gente. - Digo enquanto escorre uma lagrima. Ver Paula na maca vulnerável, perdida me deixou desesperado.

Dei a volta no tempo e me lembrei de uma garotinha correndo de vestidinho rosa, com crucifixo no pescoço, linda, cabelos vermelhos e incrivelmente encantada com a vida.

Paula ainda olha para o mundo como antes?

- Não faz essa cara, Lucas. - Da uma pausa. - Não gosto quando sentem dó de mim.

- Você não gosta de muita coisa. - Digo rindo, mas ela entristece, por que? Quem é aquele garoto de cabelos cacheados? - Se quiser conversar, nos ainda somos amigos.

- Agora eu não me suporto, nem eu aguento ficar comigo mesma. - Fala tossindo, ainda sente dores e não diz. - Não vou forçar ninguém a me suportar.

Isso me ofendeu, forçar? Suportar?

Abro e fecho a boca várias vezes, mas me tiraram a voz, a porra dos pensamentos, meus pensamentos me tiraram a voz, eu estava lutando contra isso.

Contra dor e sofrimento.

Devia ser homem, como meu pai, um herói!

Tudo começou a ficar embaçado é difícil de ver. Abrir a porta do quarto foi um desespero, agonizante, minha mão quente tocando a maçaneta fria que não queria facilitar minha saída. Quando finalmente consigo, o chão do corredor é um buraco sem fundo e branco. A voz da Paula me chamando ecoava chegando aos meus ouvidos e depois, esquecido, deixado de lado. Sai do hospital nas paredes sujas de lá.

O céu estava ameaçando um começo de temporal , nuvens acinzentadas, céu escuro, um vento que fazia os coqueiros balançarem.

Meu carro estava logo ali, minhas chaves estavam no meu bolso, eu conseguia ver o perigo na minha frente, o sinal vermelho dizendo pare! Pare! Mas eu só continuei.

Dirigir estava sendo fácil, meu choro não estava tão intenso como antes, mas também eu não estava dirigindo.

Era meu modo piloto automático. Sabia de cor o caminho do meu apartamento.

Só que não cheguei em casa, eu não via o prédio grande em que eu estava sobrevivendo. Eu "cheguei" em casa, tudo parecia tão certo, meu coração me levou até aqui, onde cresci, eu precisava deles. Meu medo era mais forte.

Liguei o carro novamente e os flash-back's passando em meu surto de crise existencial.

"Ela teve uma overdose"

"Como?"

"Se entupiu de remédio, queria mesmo morrer, deixou até um bilhete."

"Cadê?"

'Não estou preparada, sou fraca, chega de decepcionar as pessoas'

Então eu passei o sinal, ele não estava aberto, será que além de perder meu filho(a), vou perder minha vida?

Ninguém vê (INCESTO) HIATUSWhere stories live. Discover now