Freedom

CAPÍTULO 07 - WATER CREATURES

As ondas do mar batiam na areia e voltavam com suavidade. O céu estava extremamente estrelado e a lua brilhava como nunca antes. Era, de fato, uma bela noite.
E Scarlett não queria estar vendo-a.
Há dias a humana não conseguia dormir direito. Seus sentidos não lhe permitiam, sentia sono à tarde e quando chegava a noite não pregava os olhos. Ao contrário de Demétrius, que roncava deitado no colchão e só acordava quando Scarlett se deitava.
O tempo sem dormir também era um tempo em que Scarlett não fazia nada. Por essa razão, a jovem utilizava a madrugada para andar pela ilha. Conhecê-la melhor. Nos últimos dias conhecera as fadas que Demétrius tanto falou e chegou a ver um ser estranho colocando as roupas e algumas frutas em uma pedra, e em seguida uma das fadas pegou os mantimentos e o ser desapareceu.
Estava curiosa para saber quem era.
O que era.
Sentada na beira da praia, observando as calmas ondas, Scarlett logo notou uma cauda ao fundo. Parecia um golfinho, claro. Mas ela sabia que não era.
Em um piscar de olhos, ao olhar para as pedras, foi possível ver alguma coisa sentada.
Alguém.
Não, algo.
Scarlett se aproximou das pedras e avistou a sereia sentada, ajeitando peças de roupas e uma escova de pentear.
- Olá.
Claramente assustada, a sereia logo fez menção de voltar para o mar.
- Não! Acalme-se. Não vá... Por favor.
Os grandes olhos, que naquela luz de velas combinando com a luz da lua pareciam ser meio roxos, encararam Scarlett e um sorriso tímido estampou o rosto do ser.
- Olá.
- Quem é você?
- Meu nome é Zara - a menina se ajeitou na pedra - Trago os mantimentos e as vestimentas para vocês.
Scarlett caminhou para mais próximo da pedra em que Zara se encontrava
- Você vem toda noite, não vem?
- Sim. Písidon exige que vocês tenham tudo, sem faltar nada.
- Písidon? Esse não é o tritão?
- Oh, não um tritão qualquer. É nosso líder.
- Dos mares?
- Das raças.
Aquele era um momento de confusão. Scarlett não sabia que todas as espécies obedeciam à apenas um líder. Achava que cada uma tinha o seu e que eles conversavam entre si. Sabe lá Deus como, mas era o que pensava.
Isso era ainda mais... confuso.
- Ok, então...

As duas passaram a madrugada inteira conversando. Scarlett havia se rendido e sentado na pedra mais próxima à Zara que podia. A sereia havia explicado que, infelizmente, por ser metade peixe, não poderia chegar tão perto à areia pois corria o risco de encalhar como baleias e golfinhos. O que era péssimo, pois a mesma achava a areia linda e completamente atraente.
Ao fundo já se era possível ver o sol nascendo. Aos poucos o céu deixava de ter uma cor azulada e passava a ser colorido, um laranja intenso e um amarelo suave tomava conta do céu. Neste tempo, os longos cabelos da sereia já estavam secos e agora era possível enxergar sua verdadeira cor. Eram de um azul incrivelmente bonito, capaz de hipnotizar qualquer um. Quando a sereia tirou os olhos do sol e os voltou novamente para Scarlett, a humana pôde ver a verdadeira cor dos mesmos. Os olhos ametistas da sereia encantavam. Brilhavam como duas pedras preciosas, em combinação com sua pele extremamente branca e seu cabelo azul, eram, com certeza, a perdição de qualquer homem ou qualquer outro ser que trombasse a garota no mar.
Ela era completamente deslumbrante.
Zara deu um mergulho e voltou a sentar-se nas pedras. Havia feito isso durante um intervalo de 1 hora. Não podia ficar muito tempo fora d'água, pois desidratava. Não era como Písidon, segundo a própria sereia, que podia até mesmo andar em terra firma, pois sua cauda se transformava em pernas e vice-versa, e ele aguentava horas seco.
Quando a garota se ajeitou na pedra, foi possível enxergar sua cauda melhor. O azul era compatível com seu cabelo, e tinha um reflexo às vezes compatível com seus olhos ametistas. Mas o que chamava atenção era aquele verde, que vinha sabe-se lá de onde mas estava lá. Presente. Muito presente. A cauda de Zara era uma mistura de cores hipnotizantes, tanto quanto a própria. Incrível.
Scarlett estava hipnotizada.
- Tenho que ir. Tenha um bom dia, Scarlett. Volto à noite para que possamos conversar mais!
E antes que pudesse responder, Zara já havia mergulhado e nadado para longe. A velocidade era incrível.
Céus, as sereias eram mesmo seres encantadores.

+

Písidon estava indo à loucura. Um dia após a cena intrigante com Lóthus, a mesma não havia dado notícias e ele precisava mesmo hibernar.
Trocar de casco já não era mais uma opção, era uma necessidade.
E ele não faria isso sem ela.
Como se sua mente tivesse sido lida, a batida na porta foi facilmente reconhecida.
- Está aberta.
Os cabelos da ninfa invadiram a sala e logo seu pequeno e definido corpo adentrou o ambiente.
- Olá.
Písidon sorriu
- Olá.
Lóthus fechou a porta e se aproximou do tritão.
- Como está se sentindo?
Encostando-se na mesa, um pouco sentado, Písidon puxou Lóthus pela cintura, deixando a ninfa grudada em si.
- Fraco, admito – os dedos da ninfa invadiram seus cabelos grisalhos, fazendo-o fechar os olhos – Preciso trocar este casco e hibernar o quanto antes.
- Eu estou com medo, P. Três dias sem você aqui é o bastante para muita coisa ruim acontecer.
Písidon abriu os olhos e encarou a ninfa.
- Cinco.
- Cinco? – os dedos dela pararam de mexer no cabelo dele, deixando-o frustrado – Não conseguimos três e agora você me diz que são cinco?
- Utilizarei uma fada a menos para isso. Logo, o feitiço será mais fraco e por isso aumentará dois dias de hibernação. Não posso me dar ao luxo de cansar tantas ao mesmo tempo. Já quase não a temos.
Lóthus estava visivelmente insatisfeita com a revelação de Písidon. Seus olhos brilhavam de medo, seu cabelo não estava tão aceso como sempre. Estava apavorada.
- Não fique assim - levando sua mão ao rosto da ninfa, a carícia foi terna - Sobreviverão cinco dias sem mim. Os humanos vão ter tentado algo. Até eu voltar, estará tudo bem. Ou quase isso.
Ao suspirar, a ninfa aproximou seu rosto do de Písidon e logo sua língua invadiu a boca do tritão. O beijo durou. Longo e suave, era a despedida pelos dias que passariam longe.
- Estarei aqui. Aguardando você. - ela sussurrou ao afastar um pouco os lábios dos de Písidon.
- Voltarei logo. Mal sentirá minha falta.