CAPÍTULO 03 - KEEP YOUR HEAD ON YOUR BODY

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A batida na porta foi sutil, quase como se a pessoa do outro lado tivesse medo de bater.
- Entre.
Ao entreabrir a porta, foi possível identificar as quatro patas do centauro que logo tomou conta da sala.
- Queria me ver?
- Sim. Feche a porta e fique à vontade.
Marcus fechou a porta e se acomodou em um canto da sala.
- E então?
Písidon pegou uma pasta fina, atravessou a sala e estendeu a mesma para o centauro.
- Eu estava pensando... E se tivermos alguma solução?
Após encarar o tritão por alguns segundos, o centauro pegou a pasta da mão do amigo.
- Você não dá sinal a mais de 2 semenas, Písidon. Está um caos. Um solução não cai do céu.
- Oh, não caiu do céu não. É algo que nós guardamos com muito pesar e cuidado. Algo valioso demais para ser desperdiçado, quando na verdade eu percebi que nós só desperdiçamos tempo esses meses todos. Abra a pasta, Arc. Você entenderá.
Encarar Písidon estava sendo difícil para Marcus. O tritão estava acabado. Olheiras em seu casco indicavam cansaço e o cabelo, sempre impecável mesmo debaixo d'água, estava uma bagunça. Ele representava em carne e osso o caos que acontecia em seu mundo.
E apenas para evitar essa visão por mais tempo, o centauro abriu a pasta e encontrou papéis na mesma. Largando a pasta em cima de uma poltrona ali próxima, pegou os papéis na mão e analisou um por um enquanto Písidon voltava para trás de sua mesa e se sentava em sua cadeira que mais parecia um trono.
- E então?
- Calma, P. Me dê um segundo...
E então ele entendeu o que eram aqueles papéis e quais eram os planos de Písidon.
- Arc?
- É - Marcus andou até a mesa de Písidon e soltou os papéis na mesma, encarando o amigo em seguida - Você enlouqueceu.
Písidon sorriu.
- Eu sabia que você ia dizer isso. Mas para e pensa, Marcus. São dois seres férteis. E precisamos disso.
- São dois seres que, sabe-se lá como, fugiram por anos. Os prendemos porque vacilaram um segundo e foi a nossa brecha. Não podemos nos arriscar a perdê-los novamente.
- Aí é que está o problema, Marcus. Estamos arriscados, se é que você pode me entender. Não há muito o que se fazer se não tomar algumas decisões. E essa é uma decisão que eu já tomei. Só estou lhe apresentando a ideia. Leia, aprenda, supere e siga as ordens do seu líder. Estou decidido. Será assim.
Com um suspiro, Marcus compreendeu que não havia mais o que fazer se não embarcar na loucura do líder e ajudá-lo com o tal plano.
- Podemos chamar a Lóthus? Ela nos ajudaria com as sereias. Precisaremos delas. E ninfas douradas também.
- Na verdade, já era para Lolo estar aqui.
Neste momento, uma batida um tanto quanto forte na porta ecoou no quarto e sem aguardar respostas, os longos cabelos vermelhos invadiram o cômodo.
- Perdoem a demora. Problemas com ninfas sem vergonha e seus centauros sem vergonha, Marcus. Não está fácil.
- Os cascos tem data de validade hoje em dia, eles só querem aproveitar ao máximo.
- É, o bosque do Arco-Íris sabe muito bem disso. Fede a cavalo molhado.
- Molhadas ficam suas ninfas, querida Lolo.
A cara da ninfa foi impagável para Marcus.
- Ok. Já chega. - Interrompeu Písidon - Lóthus, você leu os papéis que lhe entreguei?
- Sim... - a ninfa se aproximou e sentou-se na beira da estante ao lado da mesa, de maneira que podia ver os dois homens presentes na sala - E devo dizer que achei uma ideia ousada.
- Uma loucura - concordou Marcus
- Eu não falei que era uma loucura, Arc. - o centauro a encarou como se ela estivesse tão louca quanto o tritão - É inusitado. É arriscado. O plano tem que ser executado com agressividade e surpresa, e vocês sabem disso. Há riscos no meio disso tudo e não podemos nos permitir uma brecha para que esses riscos se solidifiquem.
- Lóthus, você está me dizendo que está de acordo com tudo isso?
- De acordo? Oh Marcus, não totalmente. São humanos que foram espertos os suficiente para fugir de nós vivendo entre nós. Não suspeitamos porque o corpo de certas criaturas não mudam tanto. Só com relação aos poderes. E eles se aproveitaram disso. E como descobriram essas coisas? Ninguém sabe até hoje, eles não abrem a boca. Mas devemos lembrar que temos uma humana fértil e um humano um tanto quanto grande o suficiente para pelo menos servir para procriação. Devemos usar isso a nosso favor. Já devíamos ter feito algo com eles mesmo, e por que não tentar salvar os desacreditados? Eles não são imortais, se nos têm serventia... Que nos sirvam.
O silêncio que tomou conta da sala só provou o quanto os 3 odiavam a ideia da agressividade mas colocavam como prioridade a sobrevivência das espécies.
E pensando nisso, Písidon lembrou-se de um detalhe muito importante que vinha acontecendo a mais de um mês.
- Marcus. Lóthus. - os dois encararam o líder - Eu sei que estão apagando as almas.
O cabelo de Lóthus brilhou tanto e de repente se apagou, tornando-se um cabelo seco e fosco. Seu humor no momento se baseava em medo. E Marcus manteve sua expressão normal, mas seu rosto perdeu completamente a cor.
Písidon riu.
- Não vou apagá-los. - aos poucos o cabelo de Lóthus voltava a ser bonito e brilhante e a cor de Marcus ia voltando - Eu os entendo. Só não queria que escondessem de mim, sabe?
- Você é... correto demais, Písidon.
- Oh Arc... Eu sei. E odeio essa violência toda com nossa espécie. Mas sabe, nós nunca fomos espécies civilizadas. Deuses, nós criamos campos de batalha para entretenimento! Eu admirei a raça humana por tanto tempo que achei que podíamos criar leis e segui-las normalmente como eles faziam. Mas não podemos. Somos como os homens da caverna, na raça humana. Seres que quase não raciocinam, apenas agem por extinto. Ciclopes iniciaram uma Guerra, um pavor, que se espalhou pelas diversas espécies que protegemos. Precisamos chegar a um momento em que só a violência combateria a violência. Só o pavor de ser apagado seria maior do que o pavor de perder o casco. E mesmo assim tantos ainda se arriscaram por desespero. Nossos mensageiros! Ninfas! Centauros! Sereias e tritões! Tantas espécies... Foi uma decisão dura, eu aposto que foi. Mas foi uma decisão sábia. Não se culpem, não se sintam mal, não temam à mim. Está tudo bem. Mantiveram a ordem o tanto que puderam. Agora eu, Písidon, seu líder e amigo, lhes apresento uma possível solução para nossos problemas. A decisão é tão difícil quanto, mas acreditem quando lhes digo que é uma solução para pelo menos metade das coisas ruins que vêm acontecendo. Então, Marcus, dê uma chance a isso. Por favor.
O centauro respirou fundo e encarou Písidon por uns segundos. Logo após, encarou Lóthus. Os dois se olharam por um bom tempo, até que os olhos de Marcus  brilharam num dourado tão intenso que iluminou a sala inteira por um momento.
- Tudo bem. - ele fechou os olhos e quando os abriu de novo, estava decidido - Vamos fazer isso.

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