Capítulo 40

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Território Canídeo

Depois que os felinos fugiram, Darius fora avisado imediatamente e foi no local pessoalmente. Quando entrou no corredor onde ficam as celas, viu o sangue já seco no chão, pelo cheiro já se sabia que era do menino puma. Caminhou até a cela onde o sangue estava bem à frente e avistou os dois canídeos, o garoto estava sentado na cama de cabeça baixa e a garota estava sentada no chão também com a cabeça baixa.

— O que aconteceu aqui? - perguntou Darius com a voz firme para chamar a atenção de ambos que olharam assustados para frente.

Depois de alguns segundos de silêncio o menino lobo responde.

— Seu guarda matou Isaac.

Darius desviou seus olhos verdes para olhar nos olhos verdes do outro, eles eram tão iguais aos seus.

— Não foi isso que eu fiquei sabendo.

— Pouco me importa o que você sabe - responde Hendrik sem se importar com quem estava falando. Darius arqueia uma sobrancelha pelo espanto que sentiu por causa do jeito que o menino dirigiu-lhe a palavra, gostava de gente que não demonstrava medo, gostava do orgulho que o lobo negro a sua frente possuía.

— Até quando vamos ficar aqui? - pergunta a garota levantando a cabeça para encarar o líder.

— Vim aqui para ver o que aconteceu e também dizer que vocês estarão livres depois de dar seus depoimentos sobre o ocorrido - dito isso, Darius deu-lhes a costa e seguiu até a saída, Alishie e Hendrik se olharam e levantaram quando viram o guarda abrindo a cela.

...

Acompanhado dos pais, Hendrik finalmente chegou em casa, foi recebido com um grande abraço da irmãzinha, estava com tanta saudade de sua pequena.

— Como você está? - pergunta Hendrik cheirando os cabelos vermelhos de Sherry que tinha, ironicamente, cheiro de morango.

— Eu estou bem e você? Onde você esteva, mamãe não quis me dizer - disse Sherry encarando os olhos verdes do lobo negro, Hendrik olhou para a mãe que dizia com os olhos para ele mentir.

— Eu... - passou as mãos nos cabelos pretos — eu estava viajando.

— Para onde você foi?

— Segredo... - Hendrik faz uma cara de mistério e logo depois sorri dando um beijo nas bochechas fofas e avermelhadas da irmã.

Seguiu em direção ao quarto, mas antes de entrar no corredor para seguir até o destino, parou e deu um abraço em Lizzie. Apesar de tudo, sentia um forte carinho pela garota.

— Depois nós vamos conversar, e não adianta mentir que eu vou saber - diz Violeta, Hendrik apenas assente e segue para o quarto, quando entra, tranca a porta e se joga na cama respirando fundo.

...

— Por que você fez tudo isso? Você teve sorte de que o senhor Darius te absorveu, você teve sorte daquele felino ter fugido porque caso contrário você ficaria preso por tempo indeterminado, agora a sua pena vai ser de lutar na guerra, caso ela ocorra, o que eu tenho certeza de que vai acontecer! - exclamou Violeta.

— Preferia ficar preso que ver o amigo do Zachary morrer na minha frente.

— O que? Agora você está defendendo eles?

— Eles não tinham como se defender e o guarda simplesmente atirou! - disse Hendrik exaltado.

— E aquela possível mercenária que veio resgata-los? Se ela não tivesse vindo eles estariam vivos!

— Mãe, quanta ignorância, se fosse eu preso em território felino, você não daria um jeito de me salvar? - essas palavras proferidas por Hendrik fez com que Violeta parasse e refletisse — atirasse na mercenária não em um adolescente indefeso!

— O fato de ele estar onde estava foi uma consequência, você sabe o que essa pequena diversão de vocês ocasionou? Você acha que os felinos vão deixar a morte de um deles, principalmente de uma criança, passar assim, em vão? Hendrik, você e o outro felino acabaram de provocar uma guerra, valeu a pena tudo isso?

Hendrik abaixa a cabeça olhando para as mãos apoiadas na mesa e sussurra tão baixo que se sua mãe não fosse um canídeo não iria ouvir.

— Valeu.

— Por que valeu a pena? - o lobo não responde — por que valeu a pena, Hendrik? - repete Violeta fazendo o filho levantar a cabeça e a encarar nos olhos.

— Porque eu conheci a melhor pessoa do mundo! - responde o garoto já meio alterado.

— O que você quer dizer com isso, Hendrik?

— Eu o amo, mãe, eu amo aquele felino, eu amo aquele leão, eu AMO aquele inimigo.

Violeta arregala os olhos e percebe, pelas batidas do coração de seu filho, que ele não estava mentindo, que ele estava perdidamente apaixonado por um felino.

— Hendrik, quando isso aconteceu?

— Quando estávamos nos encontrando com mais frequência, não sei ao certo o dia que comecei a sentir isso, mas eu tive certeza no dia em que beijei ele pela primeira vez.

A senhora Gandares ficou sem palavras com a revelação do filho, ele falou naturalmente como se estivesse contando sobre um dia normal em que brincou no parque com Alishie.

— Eu sei que a senhora deve estar decepcionada, mas eu não pude evitar, eu não sei por que aconteceu... eu... eu - Hendrik perdeu a fala e lágrimas começaram a escorrer de seus olhos sem seu menor consentimento, Violeta levantou e foi abraçar o filho que surpreendentemente devolveu-lhe um abraço forte.

— Como eu ficaria decepcionada com você confiando tanto em mim, eu só fico triste porque não vou ter netos - ela riu arrancando um leve riso do filho.

— Por que tem que ser assim?

— A vida, como você pode perceber, não é justa com todos, principalmente com os bons. Você vai superar isso, você vai achar alguém que vá te fazer feliz, seja essa pessoa homem ou mulher, eu não me importo, seu pai não vai se importar também, mas você vai ser feliz, eu prometo!

Hendrik apenas assentiu e abraçou mais forte a mãe, depois de longos segundos eles se soltaram e voltaram aos lugares onde estavam.

— Como será que está indo Alishie com os pais dela?

— Não sei, espero que ela esteja bem, acho que eles não vão fazer nada demais com ela, afinal, eles a amam demais - respondeu Hendrik.

— Ela estava muito quieta na sala de espera antes de dar o depoimento - comentou Violeta.

— É por causa de Isaac, não sei dizer, mas os dois pareciam ter uma grande ligação, a morte dele mexeu bastante com ela, tanto que ela, em nenhum momento, olhou para o corpo dele no chão, provavelmente para não ter lembranças ruins, só lembranças boas, e o que é mais estranho é que os dois só se viram duas vezes, mas eu sentia uma ligação entre eles.

— Vocês não merecem nada disso que estão passando - disse Violeta enquanto pegava na mão do filho.

— Eu espero vê-lo pelo menos mais uma vez, porque eu acho, acho não, eu sei que neste momento ele está me odiando e me culpando, do mesmo modo que está odiando e culpando a si mesmo.

Entre Presas e Garras: Wild - 1ª TemporadaOnde as histórias ganham vida. Descobre agora