Júlia Santos

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Depois de circular os mundos do romance (Acorrentado), do mistério (3301) e dos contos (A garota das 06h06 e Borboleta), Júlia Santos (@lietains) viajou até para a São Paulo das primeiras décadas do XX, trazendo de um velho baú a esquecida escritora, poeta, diretora de teatro, tradutora, desenhista, cartunista, jornalista e militante política brasileira (ufa!), Patrícia Rehder Galvão (1910-1962), mais conhecida como Pagu.

Em seu conto "O último ato de pagu", terceiro lugar do concurso "Mulheres Históricas" do perfil @FiccaoHistoricaBR, a autora desenha de forma magistral a primeira mulher a ser presa por motivos políticos na história de nosso país; a ativista apaixonada; a artista; e, acima de tudo, a mulher.

Entre os livros favoritos de Júlia, estão clássicos latinos como "O amor nos tempos do cólera", do autor colombiano Gabriel Garcia Marquez e "De amor e de sombra", da autora nascida na Venezuela, mas criada no Chile, Isabel Allende. Na sua lista ainda figuram autores brasileiros como o paulista Mário de Andrade e seu "Macunaíma"; o baiano Jorge Amado e "Capitães de areia" e a ucraniana mais brasileira de todos os tempos Clarice Lispector e "A Hora da Estrela". E, por fim, ela revela sua queda por livros contemporâneos como "Um dia", do inglês David Nicholls e "Como eu era antes de você", da também inglesa Jojo Moyes.

Sobre seus primeiros passos no Wattpad (ela está no mundo encantado laranja e branco desde 2015), ela afirma que sua entrada se deu ao perceber que "a plataforma era a melhor para publicar livros originais, já que nas outras eu via mais fanfics sendo bem recebidas do que histórias originais, então decidi começar a publicar no wattpad". Um segredinho sobre a autora: Júlia diz amar escrever sobre "qualquer coisa relacionada com tristeza". "Tragédia, morte, sofrimento, separação, ilusão, rejeição, despedida, sentimentos em torno do suicídio, amor. Tristeza é poesia e quando escrevo sobre parece que as palavras fluem", revela a autora.   



Quando você começou a escrever?
Comecei a escrever aos 12 anos. Sempre me interessei por livros, desde criança. Quando descobri o universo das fanfics no orkut foi que comecei a me arriscar na escrita e me apaixonei intensamente e perdidamente.

Qual foi sua primeira obra publicada no Wattpad?
Foi Acorrentado, um romance homossexual que trata sobre liberdade, medo, morte, desejo, ganância, corrupção e ódio.

Em quais autores(as) você se inspira para escrever? Poderia indicar obras deles(as)?
Me inspiro um pouquinho em cada livro que leio, sejam publicados ou virtualmente. A autora de Psicose/Lobotomia, Andie Prado, foi uma inspiração para mim durante muito tempo por ser tão inteligente ao desenvolver seus livros e ser uma excelente escritora. Minhas maiores inspirações são Clarice Lispector e Fernando Pessoa.

"O último ato de Pagu" foi sua primeira incursão no mundo da ficção histórica? Como foi desenvolver algo do gênero?
Sim. Eu sempre escrevi na atualidade, desenvolver o tempo histórico dentro da história exigiu pesquisa para os detalhes não escaparem e para entender o que se passava na época. Escrever uma Ficção Histórica também permite explorar uma infinidade de coisas na narração, coisas da realidade, e isso é um ponto muito interessante.

Quais suas técnicas na hora de desenvolver uma narrativa com pano de fundo histórico?
Prestar atenção na hora de narrar os elementos que compõem o determinado tempo histórico, sempre pesquisando para não ficar incoerente.

Qual seu maior desafio na hora de escrever?
A procrastinação e o bloqueio. É algo que acontece com frequência e às vezes parece insuperável.

Por que escolheu Pagu como sua personagem no conto?
Desde que aprendi sobre ela na escola graças a um professor que é LOUCO por ela, me apaixonei perdidamente por Pagu e principalmente por sua militância, sua resistência, sua forma de encarar o mundo. Quando vi sobre o concurso pensei logo nela, também pela história dela coincidir com o período político brasileiro atual, uma constante luta entre direita versus esquerda e marginalização do comunismo. Pagu, além de esquecida e deixada de lado, antes de tudo foi humana e teve seus muitos momentos de fraqueza, mas resistiu até não ter forças físicas e psicológicas para continuar lutar. Também foi totalmente marginalizada e julgada por causa do primeiro casamento. Eu acredito que a sua persistência faz dela uma mulher história, ela tentou até não conseguir reunir forças para continuar tentando..

Pagu é uma personagem geralmente esquecida tanto na história da literatura nacional quanto na história dos movimentos políticos do país como tantas outras mulheres do panteão histórico nacional. Qual a importância do resgate da inclusão de personagens como ela na literatura contemporânea?
Acredito que exista um "conto de fadas" em que as pessoas acreditam na conquista de um objetivo e acabam se esquecendo da luta, dos princípios, dos ideais. Pagu deixa uma evidência gigante que conquistar/ganhar não é tudo, é a menor das conquistas, de fato. Com essa ânsia por "finais felizes", as pessoas desistem no primeiro obstáculo e esquecem da verdadeira luta, e não é assim que deve ser. Pagu e outros personagens da história do mundo não são conhecidos porque não obtiveram conquistas significativas, mas lutaram. Trazer Pagu e outros para a literatura contemporânea poderia ajudar a desmistificar esse imaginário que muita gente têm, além de mostrar outros pontos de vistas acerca da história e de outros assuntos.

Quais ficções históricas você recomenda para os leitores?
Primeiramente, todas as que participaram do concurso. "De amor e de sombra" de Isabel Allende pode se encaixar em ficção história também por retratar a ditadura chilena. É um livro MARAVILHOSO e destruidor, recomendo a todos sempre que posso.


Para quem quer saber mais sobre a Pagu, eis um filme de 1987 sobre a artista, dirigido pela saudosa Norma Bengell. Pagu é interpretada pela hoje cineasta Carla Camuratti. O título do filme é "Eternamente Pagu" e pode ser visto completo no link abaixo. 

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