CAPÍTULO 21: O primeiro (e único) pedido de casamento.

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André passou aquela noite em claro. Viu o sol nascer no mar, na sacada do seu quarto de hotel. Assistiu Evelin dormir. Conversou com seus amigos em Dortmund, com um fuso horário de cinco horas à frente dele. Assistiu à programação da madrugada da televisão brasileira. Tentou dormir diversas vezes.

Nem nas noites que antecederam as duas finais de Copa do Mundo que ele jogou, André Schürrle estava tão nervoso.

Se estivesse em Dortmund, teria passado a noite inteira jogando videogame.

Se estivesse em Ludwigshafen, teria importunado Sabrina a noite inteira.

Mas estava no Rio de Janeiro e ele não poderia acordar Evelin para aquilo.

Para falar de seus medos. Seus anseios. Seu nervosismo.

Faltava cerca de doze horas para seu voo de volta para a Alemanha, quando Evelin acordou naquela manhã. André estava sentado na beira da cama, de costas para ela, e não havia percebido que a namorada abriu os olhos.

Guten Morgen! — Evelin se aproximou e abraçou ele, passando os braços pelo peito do namorado e o beijou na bochecha — Milagre você estar acordado antes de mim.

Ele deu de ombros. Contar os motivos que o levaram a passar a noite em claro estava, naquele momento, um pouco fora de cogitação.

— Tive dificuldades para dormir — não iria fazer mal soltar uma mentira inocente — Acho que da mesma forma que eu estava ansioso para vir para cá, agora estou ansioso para voltar para casa.

— Entendo — Evelin se virou e deitou na perna dele — Eu amei esse lugar e estar aqui com você, mas estou sentindo muita falta da nossa casa. Nosso sofá. Nossa cama.

E eram momentos como aquele, que a coragem súbita crescia dentro de André e ele tinha certeza absoluta, que aquela era uma das decisões mais certas que ele tinha tomado.

Desde que Evelin se mudou para seu apartamento, ele tinha certeza absoluta que a vida tinha ficado melhor. Mais calma. Mais leve.

E os problemas que ele tinha, ficavam mais fáceis de resolver quando ele compartilhava com ela, na calada da noite, enquanto eles dividiam o travesseiro dele.

Porque Evelin sempre abraçava André na hora de dormir. E por isso, eles dormiam em apenas um travesseiro.

Apesar de ter quatro na cama.

— O Rio de Janeiro está aprovado? — ele perguntou, desviando de seus próprios pensamentos.

Ela levou um braço para trás da cabeça, se apoiando, com um largo sorriso no rosto.

— Mais do que aprovado. Quando é o inverno deles? Nós podemos voltar em um momento que o sol não castigue tanto as costas de alemães teimosos.

André soltou uma gargalhada gostosa que entrou nos ouvidos de Evelin como uma de suas músicas preferidas.

— Esse momento é o inverno — André comentou e foi a vez de Evelin rir.

E foi impossível não virar para ela e ver aquele largo sorriso aberto, enquanto ela ria dele.

— Você conseguiu ser o que eles literalmente chamam de gringo, liebe.

— Afinal, fotos hoje em dia não provam nada. Qualquer coisa pode ser manipulada — ele piscou para Evelin que abriu a boca e ao entender, concordou com ele — Eu preciso de provas que eu estive aqui.

E como quem aponta para o próprio nome e número nas costas, André o fez. No caso, estava apontando para suas costas vermelhas que estavam começando a descascar.

Erstes MalOnde histórias criam vida. Descubra agora