— Eu nem tô puta — ela deu de ombros, sem vacilar no sorriso, e abriu a porta da picape. Lançou-lhe um olhar um pouco mais honesto, algo parecido com súplica. — Mas que tal a verdade?

— Sobre o quê?

— Você e Brody, pra começar — respondeu simplesmente, entrando na picape e dando a partida. Não arriscaria olhar para ele.

Jake ficou imóvel por alguns segundos, antes da luz dos faróis o fazer despertar. Há muito não pensava naquilo. E não o fazia sem motivos.

— Você... Sabe?

Ela pulou pra fora da picape que, de motor rodando, carregava a bateria do Mustang.

— Eu sou o quê, cega?

— Foi você quem namorou ele.

— Ah, que ótimo — reprovou a provocação, mas não conseguiu evitar de sorrir. Não deixaria barato. — Como vai a Sarah, Jake? Deve estar tão contente. Ela me odiava pra caralho.

— Ela não... Odiava você — negou, olhando para os próprios pés como se estivesse prestes a vomitar. Conhecendo Lori, aquela conversa aconteceria de uma forma ou de outra. Resolveu que, se fosse assim, seria em seus próprios termos. — Sarah apenas não suportava o cara que eu me tornava quando estava com vocês. E eu meio que passei a concordar com ela. Brody só... Me abriu os olhos.

— Você devia ter me contado. Não sairia com Brody se soubesse do penhasco que ele tinha por você.

— Bom, eu estava ocupado. Sendo preso e tudo mais — foi sua vez de ser amargo e implicante. Mas então, veio-lhe uma lembrança. A ligação. Poderia se sentar por um momento, senhor? É sobre seu irmão. Ele engoliu em seco e continuou. — E aí, o Danny... Ficou sabendo disso também?

Lori não pôde deixar de perceber a mudança.

— Apenas recentemente. Eu ligaria, mas... — As palavras, aos poucos, foram sumindo, assim como a vontade de lhe fazer se arrepender por abandoná-la. Algo lhe dizia, agora, que ambos já haviam sofrido o bastante. — Como ele tá?

— Em remissão, mas sabe como é — respondeu, levantando o olhar para a velha amiga como se fosse fazer uma confissão que há muito estava entalada. — Os médicos... Não lhe dão mais de oito anos.

— Gah. Eu sinto muito, muito mesmo... — ela se pôs a confortá-lo. Estavam próximos, agora, mas não o suficiente. Ela hesitou, pensando se devia abraça-lo. E por fim não se moveu. — Sabe que eu estaria lá pra você, né?

— Eu sei. Sarah me disse o mesmo. Mas ela já estava do outro lado do país quando soube.

— Ela foi embora? Por quê?

— Foi cursar Fotografia em São Francisco. Era o seu sonho — ele pareceu dar de ombros, mas não foi muito convincente. Pensava em como Sarah costumava amar que ele cozinhasse para ela. Ele preparava hambúrgueres e eles assistiam ao Superbowl com seu sogro, George, que o adorava como um filho. — E, bem, nós não estávamos nos nossos melhores dias... Já fazia algum tempo.

Pra falar a verdade, completou em pensamento. As coisas começaram a dar errado quando você e Brody apareceram e me deixaram viciado.

— Mas como ela pôde ir, com tudo que estava acontecendo? — Lori se indignou sem enxergar a ironia. Sua curiosidade falou mais alto. — Quando foi que vocês terminaram?

— Ah, Sarah não sabia, garanti que fosse assim. Ela já estava se preparando para ir e eu não quis arruinar a vida dela também — seu tom de voz parecia mostrar que ele ainda tentava se convencer daquilo. Havia sido bom para Sarah. Havia sido bom até que Brody aparecesse, Lori voltasse e ele se perdesse em si mesmo. — Pensamos até em tentar a longa distância, mas depois de tudo que aconteceu, eu não conseguia mais... Atrasá-la, sabe?

Portões da MorteWhere stories live. Discover now