É Complicado

712 55 140
                                    


14 de agosto de 2015, 20 minutos depois 
Fordham Heights, Nova York

Jake aproveitou o tempo que ela demoraria para chegar e empurrou Eleanor até o lado de fora, de frente para a picape. Verificou que o óleo estava bom, o que excluía a possibilidade do carro estar parado ali por muito tempo. Mas o tanque de gasolina estava vazio e a bateria sem carga. Após encher o tanque, o garoto guardou o que pôde no porta-malas de seu mais novo carro. Alguns álbuns de fotografias que não teve coragem de abrir. Um antigo e belo violão em sua caixa chamuscada. Enfeites de sala, um surrado livro de receitas e uma máquina fotográfica analógica.

Enquanto guardava pensou também em como gostaria de poder encaixotar seus sentimentos de confusão sobre o ano que passara e simplesmente conversar com Lori de cara limpa. Foi surpreendido por uma voz que há muito já não lhe era familiar.

— Alguém andou ocupado — ela apareceu de não-se-sabe-onde, com seu queixo erguido de orgulho e olhos grandes de curiosidade. — E eu aqui pensando que seus dias de Robin Hood estivessem acabados.

Vestia uma regata verde, que ele nunca tinha visto antes, um pouco suada. E levava consigo uma maleta transparente carregando cabos vermelhos e pretos. Jake a fitou de cara nem um pouco limpa antes de replicar.

— Sei que é difícil de acreditar, mas essas coisas são minhas.

Ele fechou o porta-malas e andou em sua direção.

— É claro que são — Lori piscou para ele, dirigindo seu sorriso e atenção ao Mustang. — Pode abrir o capô pra mim?

— Claro — assentiu desconcertado, abrindo a porta do carro. Lá dentro, tomou coragem para dizer. — Ham... Obrigado por vir. Eu não sabia pra quem ligar.

— Eu imaginei — respondeu com certa mágoa na voz. Abria a maleta dos cabos e os conectava com aptidão.

— Olha, eu sei que não fui o melhor dos amigos — ele começou, saindo do carro e ficando de frente para ela. Sentia-se pequeno e diminuído, como se voltasse a ser criança. — Mas eu senti sua falta, Lori.

— Você podia ter ligado, sabe — ela rebateu, ao terminar de conectar os cabos, e lhe correspondeu o olhar. Era como um soco no estômago.

— Eu estava em reabilitação. Por dois meses... — Explicou inutilmente, a mão nervosa afagando a própria cabeça. — Você sabe disso, não?

— Fiquei sabendo — ela tentou fazer pouco caso e se virou para conectar os cabos, agora, à picape de Sra. Sullivan. O sarcasmo saía como um cuspe. — Mas ainda bem que não chegou perto de telefones. Parece que eles podem realmente foder com o processo de recuperação.

Jake assentia com a cabeça.

— Você tá certa, eu devia ter ligado. Só não era assim tão simples.

— E por que não? — Disse sobre o ombro. O garoto havia tido um ano e tudo em que conseguira pensar eram essas desculpas esfarrapadas? — Eu sou algum tipo de gatilho pra você ou sei lá?

Ele abaixou a cabeça.

— É complicado.

— Sabe, eu tô cursando Engenharia Mecatrônica na Universidade agora — Lori largou os cabos, virando-se para ele com um sorriso de provocação nos lábios. — Essa merda é complicada. Você é simplesmente fodido, Jake.

— É o que me dizem — rebateu, desviando o olhar. — Eu sinto muito, mesmo, por ter sido desse jeito, Lori... Mas tinha que ser. Não sei mais o que posso te dizer.

Portões da MorteOnde as histórias ganham vida. Descobre agora