Fim das férias

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Música: Ticket to ride- Tiago Iorc.

Passamos mais alguns dias na fazenda antes de voltar para Londres.

-Quer que eu dirija um pouco?- Perguntei, observando o semblante cansado de Ed.

-Hum, não. Pretendo chegar vivo em casa.- Ele soltou uma risada.

Revirei os olhos e voltei minha atenção outra vez para o pacote de salgadinhos que eu devorava.

Horas depois chegamos em casa e Ed se jogou no sofá, adormecendo logo em seguida e eu peguei o notebook, me sentando na bancada que fazia divisão com a cozinha.

Usei meu tempo lendo e respondendo os muito e-mails à respeito de trabalho que eu havia simplesmente ignorado. Ed acordou de seu cochilo e se sentou no sofá, sorrindo em minha direção. Sorri de volta, antes de falar.

-Acho que está na hora de voltarmos pra Los Angeles, meu amor...

-Bom, eu não tenho nenhum compromisso lá por enquanto...- Ele respondeu espreguiçando.- Pretendo ficar mais um tempo por aqui.

-Eu preciso trabalhar, Ed.

-Não precisa, não.

-Claro que preciso... A gravadora de LA precisa de mim.

-E você não pode resolver daqui?- Franziu o cenho.

-O fuso confunde tudo, além disso o Stu quer que eu participe de uma reunião com uns outros advogados.

-Tenho certeza que você consegue resolver daqui.- Ele me deu uma piscadela.

Suspirei, antes de dar a volta na bancada e me sentar ao lado de Ed, jogando minhas pernas em cima das dele.

-Ja chega de férias, ta na hora de você trabalhar, Edward.- Fingi uma expressão brava.

-Eu estou trabalhando. Me casei.

-Vou fingir que não me ofendeu.- Semicerrei os olhos e ele riu.- Mas sério, músicas, estúdio... Coloque essas lindas e habilidosas mãos para tocar violão.

-Posso escrever aqui mesmo e existem muitos estúdios em Londres, caso isso seja novo pra você.- Sua voz era cheia de sarcasmo.

-Mas não tem o Benny e você já combinou com ele a gravação da próxima música. A tal "música feliz"- Fiz as aspas.

-Mas não combinei a data e ele pode enfiar aquele traseiro em um avião e viajar até aqui.

-Lamento dizer que o senhor é quem vai enfiar esse seu traseiro em um avião e voltar para LA. Nosso vôo é em três dias.- Me levantei e sai em direção a bancada outra vez.

-E por que não falou comigo antes?- Agora sua expressão era irritada.

-Porque eu decidi sozinha. Assim como você fez com o natal.- Arqueei uma sobrancelha, o desafiando.

-Eu quero passar mais tempo em Londres, Ana.

-Nesse caso, vejo você quando decidir voltar para casa.- Sorri irônica.

-Você vai voltar sozinha?- Perguntou com tom e sorriso debochados.

-Você me deu um emprego e eu vou trabalhar. Se você não quer voltar comigo, querido marido, eu volto sozinha.- Encarei o plano de fundo do computador, fingindo prestar atenção em algo.

Ed respirou fundo e bufou algumas vezes antes de falar.

-Três dias certo?- Me encarou e eu confirmei com a cabeça.- Nesse caso, podemos jantar com uns amigos?

-Claro que sim, querido.- Usei todo o meu cinismo, o deixando mais irritado.

Ed subiu as escadas, me deixando na bancada, apenas rindo de sua reação. Subi pouco depois e ele estava jogado na cama, usando o celular. O encarei, encostada na soleira da porta, até que ele desviasse os olhos do aparelho e me encarasse também.

-Que foi?

-Ta irritado comigo?

-To.

Fiz um biquinho, antes de me sentar na cama, bem próxima a ele e acariciar seu rosto.

-Me desculpa?

-Ok, Ana Laura.

-Não, Ed. Me desculpa de verdade.

-Ta legal.- Ed bufou.

-Se eu mudar as passagens pra semana que vem você desfaz essa cara?

-Não, porque eu sei que você precisa ir e isso é que me irrita.

-Eu sei que você ama Londres e quer ficar aqui, porque sente que é o seu lugar, mas eu também amo Firenze e não posso estar lá sempre, certo?

-É diferente.

-Não é, não... Mas de qualquer modo, eu preciso voltar, Ed. Você pode ficar mais aqui, sair com os seus amigos e curtir suas férias.- Dei de ombros.

-Eu quero curtir com a minha esposa, Ana Laura. Entendeu?

-A gente pode sair em LA...

-Tanto faz.- Bufou outra vez.

-Bom, já que você vai ficar emburrado ai, quer que eu acerte o jantar com os seus amigos ou você mesmo faz?

-Eu faço.- Ele pegou o celular outra vez, ignorando completamente minha presença.

Ed acertou os detalhes e ambos nos arrumamos para sair. No caminho, tratei de fazer piadinhas e tirar alguns sorrisos dele, que insistia na carranca.

Fomos à casa de Steve, um antigo amigo dele e enquanto eu conversava com a esposa dele, Olivia, ele evitava me encarar. A casa foi se enchendo de antigos amigos de Ed e aproveitei um momento em que ele estava sozinho para me aproximar.

-Você sabe que ficar com essa carinha de bravo e me evitando a noite inteira só vai me fazer ter vontade de te provocar, não sabe?

-Você sempre tem vontade de me provocar.- Ele desviou os olhos outra vez, mas não me pareceu verdadeiramente bravo.

-A culpa não é minha se você fica adorável quando está todo irritadinho, Ed.

-Adorável?- Me encarou, irônico.

Dei de ombros e ele me deu um beijo na testa, antes de se afastar outra vez. Eu apenas esperava que o beijo fosse um sinal de que estava tudo bem.

Durante o jantar e do restante da noite, Ed devolveu meus olhares e sorriu enquanto conversávamos em grupos diferentes de pessoas. Na volta para casa, resolvi arriscar um diálogo.

-Não esta mais irritado?- Perguntei ainda com certa cautela.

-Não.- Ed riu fraco e colocou a mão em minha perna.- Não consigo ficar com raiva de você por muito tempo.

Sorri com a resposta e continuei investindo nas piadinhas, arrancando risos cada vez mais altos de Ed.

Vivendo o AcasoWhere stories live. Discover now