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Aquelas palavras do Léo não saíam da minha cabeça: Eu não mereço essa felicidade

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Aquelas palavras do Léo não saíam da minha cabeça: Eu não mereço essa felicidade.  Isso me atormentou a ponto de eu ter demorado horas pra dormir novamente. Acordei antes das cinco da manhã, ainda estava escuro. Fiquei olhando meu amor, ele parecia tão sereno, mas por dentro ele estava um turbilhão de sentimentos. Eu o amava demais e a dor dele estava doendo em mim também. Eu queria poder ser capaz de mandar aquela tormenta pra longe dele e fazê-lo feliz.

Silenciosamente, levantei e fui tomar um banho, depois troquei de roupa e fui ao quarto do Caio. Nosso menino dormia placidamente. Dei-lhe um beijinho na testa e segui em direção a cozinha. Preparei um maravilhoso café da manhã, digno de novela. Arrumei a mesa com todo carinho e amor para os homens da minha vida.

Voltei pro quarto e o Léo continuava dormindo. Deitei-me ao seu lado, encostei minha cabeça em seu peito e aspirei seu perfume. Durante todo o tempo que ficamos afastados, eu nunca esqueci o cheiro dele. É incrível como as coisas ficam na nossa memória e o cheiro do meu amor tinha ficado entranhado na minha. Quando namorávamos, mesmo que o Léo chegasse sem fazer barulho nenhum, eu conseguia sentir o cheiro dele. O safado dizia que o meu olfato era mais apurado que o do cachorro dele. Ri ao me lembrar disso fazendo Léo acordar.

- Você tá sonhando? - voltei da minha lembrança com essa pergunta. Olhei pra ele sorrindo.

- Estou sonhando acordada. - dei-lhe um selinho. Ele me olhou e riu.

- Me conta. - sentei na cama e ele permaneceu deitado, colocou um braço atrás da cabeça para melhor me olhar.

- Eu te cheirei agora e lembrei como eu te sentia chegar em casa pelo cheiro. - ele riu também voltando ao passado. - E você, seu safado, ainda comparava o meu olfato ao do seu cachorro. - belisquei a barriga bem definida, mas só lhe provoquei uma gargalhada.

- Mas era verdade, você tinha um olfato melhor que o do Sansão. - gargalhou mais.

- Engraçadinho. - ri - Tenho saudade do Sansão. Ele era um amorzinho.

- Depois que você apareceu na nossa vida, aquele cachorro falso esqueceu da minha existência.

- Ele era tão lindo e fofo. Eu adorava ele. Não tinha nada de Sansão mas tudo bem.

- Ei... meu cachorro era forte e super corajoso. Era porque quando você o conheceu ele já estava velhinho. - sorriu depois seu sorriso se findou. - Ele morreu pouco tempo de você ir embora.

- Nós deveríamos ter um cachorrinho. - tentei mudar o rumo da conversa para algo mais leve. - Acho que o Caio iria adorar. - ele assentiu. - Quando eu fui embora, nos primeiros meses, quando eu ouvia um latido eu virava pensando ser o Sansão. Desejava que você fosse atrás de mim com ele pra me buscar.

- Eu devia ter ido. - ele se levantou ficando sentado de frente pra mim, beijou minha testa e eu dei um sorriso triste.

- Uns quatro anos depois de nós estarmos separados, eu estava numa lanchonete da faculdade com alguns colegas e eu senti seu cheiro. - sorri com a lembrança. - Eu me levantei e fiquei procurando por você. Eu estava convicta que era o seu cheiro, que era você. Mas como eu não te vi, achei que tava ficando louca. Acabei me convencendo que era a saudade que eu sentia e a vontade de te ter de novo.

- Era eu. - ele me confidenciou.

- O que? - falei sem acreditar.

- Eu voltei da Austrália e tava alucinado querendo te ver. Ver você naquela lanchonete com seus amigos me deu mais raiva, você estava feliz e eu tive mais vontade ainda de me vingar de você. - ele abaixou a cabeça. - Eu queria ir até você e dizer um monte de desaforos e te beijar ao memso tempo, mas eu me contive porque eu jurei pra mim mesmo que só apareceria na sua frente quando eu tivesse muito dinheiro pra esfregar na sua cara. 

Léo estava visivelmente abatido, eu levantei seu queixo e o fiz olhar nos meus olhos.

- Já passou, meu amor. Nós dois fomos enganados. Eu não entendo porque você disse que não merecia essa felicidade.

- Eu tinha esperança que você pensasse que foi só um pesadelo e esquecesse.

- Meu amor, a sua dor é a minha dor. Mesmo que eu não saiba o que tenha acontecido, eu sei que você está sofrendo, eu sei que não foi um simples pesadelo. Foi algo concreto. - ele suspirou.

- Os pais do Caio morreram por minha causa. Eu matei meu irmão e minha cunhada.

- Léo! - o abracei. - Por que você está dizendo isso, meu amor? - ele me olhou.

- Porque é a verdade. Era pra eu ter morrido naquele acidente, não eles.

- Não, Léo. Aquilo foi uma fatalidade.

- Você não entende, Ísis. - disse se levantando da cama. - Era pra eu estar naquele carro e não eles. O Gui me pdiu, mas eu não quis ir porque eu estava tão obsecado na minha vingança que não fui entregar aquele maldito carro. Eu estava trabalhando nos meus projetos de trabalho e eu simplesmente me neguei a ir. - me levantei e fui pra perto dele.

- Léo, você nem sabe se teria tido acidente se você tivesse ido no lugar deles. Você só pode especular. Você não tem uma resposta conclusiva. Aconteceu com eles. Foi uma fatalidade. Você tem que agradecer...

- Agradecer? - ele me interrompeu com mágoa nos olhos.  - Agradecer por meu irmão ter morrido no meu lugar.

- Não, meu amor. - falei calmamente. - Agradecer porque o Caio sobreviveu e hoje ele é a nossa alegria. Agradecer porque ele não ficou desamparado, ele teve você pra se sustentar. Eu amo aquela criança como se tivesse saído do meu ventre.

- Eu o privei dos pais, Ísis. - ele falou com lágrimas nos olhos.

- Não, Léo. Não foi você que privou o Caio dos pais, foi um motorista irresponsável. Mas o Caio não ficou só. Você supriu o lado paterno e você tem a mim pra suprir o lado materno. Ou você não me considera amãe dele? 

- É claro que considero, meu amor. Ele te ama tanto. - deu um sorriso amargurado.

- Então esqueça o passado, amor. Nós tivemos a chance de escrever uma nova história. Então vamos escrevê-la sem as sombras do passado. Eu, você e o Caio. Livres de mágoas, de tristezas, de culpas, de rancores. - eu o beijei, depois o olhei bem nos olhos. - Essa felicidade é nossa e nós a merecemos.

Nesse momento Caio entra em nosso quarto como um raio nos arrancando sorrisos.

- Bom dia, papai. Bom dia, mamãe. - nos abraçou e depois pulou para os braços do pai.

- Bom dia, meu amorzinho. - beijei-lhe o rosto. -com fome?

- Muitaaaaaaaaaaaaaaa. - Léo riu sem sombra nenhuma de tristeza.

- Então corre lá na sala de jantar pra ver o que a mamãe fez... - ele não me deixou terminar, saiu em disparada nos fazendo rir.

- É como o pai. Ansioso demais. Não quer esperar. - fomos abraçados até a sala.

Caio já estava sentado em sua cadeira.

- Que lindo, mamãe.

- Tá lindo mesmo, amor. - disse Léo.

Nos sentamos à mesa, Léo na ponta com Caio e eu de cada lado. Parecíamos uma família de comercial de margarina. Brincávamos enquanto comíamos, ríamos, conversávamos. Enquanto Caio nos contava sobre suas peripécias na escola, Léo segurou minha mão em cima da mesa e fez carinho. Eu o olhei.

- Essa felicidade é nossa e nós a merecemos. - ele repetiu o que eu tinha falado e sorrimos um pro outro.

Sim, nós merecíamos aquela felicidade. E nós seríamos felizes pelos anos que nos foram tirados, pela tristeza que nos foi imposta. Eu já era imensamente feliz com os dois homens da minha vida.



Eu odeio meu ex-namorado (Finalizado)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora