Capítulo 6

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Elizabeth e Jane tomaram o café da manhã juntas, e Jane foi mais uma vez recebida com entusiasmo e simpatia pelo sr. Bingley. Elizabeth e o sr. Darcy não trocaram uma só palavra com a exceção dos cumprimentos de praxe. Ele estivera meditando sobre o que ela lhe dissera mais cedo, e ansiava por continuar a conversa, mas não houve oportunidade durante o café ou a caminho da igreja e durante o retorno, já que não queria sua conversa sujeita ao escrutínio das irmãs Bingley. Após retornarem da igreja, Jane e Elizabeth partiram imediatamente para Longbourn na carruagem do sr. Bingley. Ambas se sentiam felizes por estarem voltando para casa. Não foram muito bem recebidas pela mãe, porém o pai se mostrou feliz em vê-las de volta.

O sr. Darcy ficou apenas com suas próprias conclusões quanto ao significado das palavras de Elizabeth. Ao analisá-las, começou a se perguntar se seu comportamento em Hertfordshire havia deixado a impressão geral de que ele se sentia superior aos habitantes locais, como ela havia sugerido. Refletindo sobre sua conduta durante todo o último mês, percebeu que se conduzira como ela o descrevera. A princípio ele se mostrara tímido, mas a seguir não procurou maior contato com ninguém já que sua estada naquela região seria muito breve e ele não encontrara ninguém que quisesse conhecer melhor, exceto Elizabeth. Ela estava certa ao dizer que ele não se importava com o que seus vizinhos pensassem dele. Ele certamente não queria que tivessem uma opinião desfavorável a seu respeito, mas não lhe passara pela cabeça considerar a opinião da população local. Aparentemente ele era considerado desagradável por ser quieto e reservado. Porém nunca havia revelado o suficiente de si mesmo que permitisse a alguém formar uma idéia precisa sobre seu caráter.

No começo, o sr. Darcy só conseguiu pensar em como Elizabeth estava enganada a seu respeito. Ficou um pouco indignado que ela se imbuísse do direito de julgá-lo tão severamente, embora ele tivesse pedido sua opinião. No entanto, ele logo percebeu o quão fortuita fora a reprovação de Elizabeth. Ela lhe dera uma idéia de seus sentimentos e uma oportunidade de modificá-los. Ele não poderia simplesmente fazê-la gostar dele, precisaria permitir que ela enxergasse sua verdadeira natureza.

Elizabeth, por sua vez, também refletiu sobre as palavras que dirigira ao sr. Darcy naquela manhã. Queria saber como ele reagiria à sua repreensão. Ele aceitaria a chance que ela lhe dava, ou aquelas palavras mudariam os sentimentos dele por ela? "Bem," ela pensou, com alguma satisfação, "foi ele quem pediu". Elizabeth percebeu que a vantagem era dela, pois sabia o que ele sentia por ela, e também conhecia seus próprios sentimentos. Ela não o amava, e não o amaria se ele não a deixasse conhecê-lo o suficiente para saber se isso seria possível. Conhecia-o o suficiente para saber que ele nunca seria inautêntico, e dessa forma, não estava preocupada que ele demonstrasse maneiras falsas só para agradá-la. Ela observara o quanto esse tipo de comportamento o incomodava nos outros, principalmente na srta. Bingley. Ela só queria que ele revelasse mais de sua verdadeira personalidade, e se pegou desejando que não se sentisse desapontada.

No dia seguinte, o primo do sr. Bennet e herdeiro de Longbourn. sr. Collins, chegou a Longbourn à procura de uma esposa, com o falso pretexto de remediar a distância que existia há muito entre seu pai e o sr. Bennet. Esperava exonerar-se da culpa de ser o herdeiro de Longbourn ao se casar com uma das filhas daquela família. O homem era uma tal mistura de presunção e humildade que Elizabeth o achou engraçado. Falava por longos momentos sobre a humildade de sua residência, expondo com orgulho todos os confortos oferecidos por sua modesta casa. Dissertava incessantemente e com muita eloquência sobre sua nobre patronesse, Lady Catherine de Bourgh, a quem dedicava a mais ampla gama de elogios. A própria Lady havia sido tão boa e beneficente a ponto de lhe conceder uma visita ao humilde chalé e aconselhá-lo de maneira generosa quanto à arrumação de sua modesta morada. Elizabeth e o pai acharam o sr. Collins muito engraçado, mas a mãe estava encantada com a intenção dele de se casar com uma de suas filhas. Ele deixara de ser "aquele homem odioso" que tomaria Longbourn dela e de suas filhas e "a poria na rua antes que seu marido esfriasse em seu túmulo", para se tornar "o caro sr. Collins que era um jovem tão agradável."

No dia seguinte à sua chegada, o sr. Collins se incluiu em um passeio a Meryton com todas as meninas Bennet, exceto Mary. Lá, eles encontraram o sr. Denny, um oficial conhecido de Lydia e Kitty que lhes apresentou um novo oficial, George Wickham. Bem quando estavam todos juntos conversando, o sr. Bingley se aproximou do grupo para inquirir sobre a saúde da srta. Jane Bennet, seguido por Darcy, um pouco mais atrás. O sr. Darcy, que tentava não olhar para Elizabeth, estacou ao reconhecer o sr. Wickham e uma expressão de frio rancor estampou seu rosto, o que não passou despercebido à Elizabeth, e que aguçou intensamente a curiosidade dela. O primeiro impulso do sr. Darcy foi se retirar imediatamente e se ver livre da presença daquele homem. Mas aquele homem estava com a sua Elizabeth, e ele não poderia deixá-lo com ela. Pensou também nas palavras de Elizabeth dois dias antes e sentiu que a opinião dela a seu respeito só pioraria. Assim, ele se juntou ao grupo enquanto Bingley dizia à srta. Bennet que estavam a caminho de Longbourn para saber de sua recuperação. Após trocar cumprimentos formais com todas as irmãs e ser apresentado ao sr. Collins, o sr. Darcy apenas se manteve imóvel, observando Elizabeth continuar sua conversa com o sr. Wickham. Por sua vez, Elizabeth tentava manter a compostura e não parecer abalada pela presença do sr. Darcy. Achou difícil manter a conversa com o sr. Wickham.

O sr. Darcy não conseguia chegar ao ponto de falar tranqüilamente com o sr. Wickham e se viu, assim, privado de conversar com Elizabeth. Porém, num esforço para lhe mostrar que podia ser agradável, travou conversa com o sr. Collins, o que não escapou à observação de Elizabeth, e lhe inspirou um imediato sentimento de simpatia. Tão empenhado estava o sr. Darcy em considerar a reprovação de Elizabeth que nem ao menos se arrependeu de ter que falar com o sr. Collins. Assim que este mencionou sua nobre patronesse, que estava sempre a poucas palavras do início de qualquer de seus discursos, o sr. Darcy a identificou como sendo sua própria tia. O sr. Collins ficou tão extasiado com a sorte de encontrar o estimado sobrinho da honorável senhora a quem ele servia com a maior humildade, e era tão generoso em seu louvor a ambos, tia e sobrinho, incluindo alguns elogios à prima também, que o sr. Darcy se viu com liberdade para prestar mais atenção à conversa entre o sr. Wickham e Elizabeth do que à própria interlocução. Ouviu o sr. Wickham dizer que havia ingressado no regimento de Meryton e que sua residência naquela vizinhança, portanto, ele estava feliz em informar, seria de certa duração. O sr. Darcy ficou desanimado com a notícia. O sr. Wickham também ansiava pela estimulante interação social da qual ele certamente faria parte durante sua estada em Hertfordshire. E o sr. Darcy não gostou nem um pouco da maneira com que Wickham olhava para Elizabeth enquanto dizia isso.

As irmãs Bennet estavam a caminho de ir tomar chá com a tia, sra. Phillips, que morava em Meryton. Desta forma, todos caminharam na direção da residência dos Phillips. Ao chegarem, a duas garotas mais novas insistiram para que os oficiais se juntassem a elas, e a sra. Phillips reiterou o convite de uma janela do segundo andar. O convite foi, porém, declinado e os oficiais partiram. Imediatamente após, Bingley e Darcy, este último satisfeito com o fato de que as moças estivessem finalmente livres da companhia dos oficiais, particularmente de um deles, também se despediram para que elas pudessem prosseguir com a visita à tia. Depois que o sr. Collins foi apresentado à sra. Phillips, Kitty e Lydia começaram a falar animadamente sobre o sr. Wickham. Com isso, a tia as convidou a voltar no dia seguinte à noite para o jantar e prometeu que o marido convidaria os oficiais, incluindo o sr. Wickham.

Na tarde seguinte, as cinco garotas saíram novamente em companhia do primo com destino à casa dos Phillips. Assim que chegaram, Elizabeth aproveitou a primeira oportunidade para conversar com o sr. Wickham esperando que pudesse descobrir a razão da troca fria de cumprimentos entre ele e o sr. Darcy no dia anterior. Para sua surpresa, o sr. Wickham prontamente lhe contou toda a sua história com a família Darcy (a versão dele é bem conhecida e portanto, não precisa ser recontada aqui), embora ela não tenha percebido que ele deixara de fora importantes detalhes. Elizabeth estava espantada com a história relatada. Logo, a atenção do sr. Wickham foi atraída por suas duas irmãs mais novas e Elizabeth foi deixada a sós com seus pensamentos. Ela admitia gostar do sr. Wickham, pois ele tinha um jeito franco e afável que ela achava charmoso e envolvente. Entretanto, ela não podia imaginar o sr. Darcy sendo tão horrível como o sr. Wickham o descrevera. Mesmo assim, ele havia lhe contado a história sem a mínima cerimônia e pretensão, e com tamanha sinceridade que ela se sentia tentada a dar crédito a todas as suas afirmações.

Continua...
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