Capítulo 8 - Laços... de Família?

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Eu não sei quando foi exatamente que eu resolvi entrar numa máquina maluca do tempo, mas acho que deve ter sido isso que aconteceu. Porque, depois de todo o bafafá entre o Diego e a Lana ter baixado e deixado de virar notícia, o semestre simplesmente estava acabando.

Junho já estava começando, e eu tinha ao meu lado um mundo virado de cabeça pra baixo. Eu me dei conta de como as coisas iam mal quando recebi a devolutiva das provas bimestrais, e isso me levou a pensar em mais uma porção de coisas que não ia tão bem assim.

Pois, além das quatro notas abaixo de seis que eu tinha tirado naquele bimestre (sendo elas Física, Química, Matemática e, pasmem, Religião), muitas outras coisas não iam bem. Quero dizer, só pra começar, o casal vinte da escola tinha se separado. E isso podia estar sendo levado muito bem pela Lana (acreditem, estava), mas pelo Diego...

A coisa estava bem difícil pra ele.

As primeiras semanas foram apenas de depressão e silêncio. Eu era a única que ficava do lado dele, mas nem comigo ele falava direito. O Diego não chorava, não falava, não comia – em um mês, estava um palito de tão magro. Eu tentava fazer com que ele abrisse a boca e soltasse suas mágoas em mim, mas não adiantou muito. Ele estava mais quieto que um muro.

Então tudo esfriou, e, quando eu vi os primeiros sinais de melhora nele – ele estava voltando a sentar nas primeiras carteiras – vieram as fofocas: alguém tinha visto a Lana de mãos dadas com o Antônio, alguém tinha visto ela trocando mensagens com ele num dia que ele não veio, alguém podia jurar que tinha visto os dois se beijando.

E sabe como é escola, né? Um segundo, e tudo isso já caia nos ouvidos de quem?

Foi aí que nós voltamos à estaca zero.

E tudo isso poderia já ser ruim o suficiente, não fosse o fato de o Edson resolver complicar a minha vida.

Eu passava metade do meu tempo preocupada com o Diego, porque eu estava vendo um amigo se deteriorar na minha frente. A Lana ficava triste, mas não fazia nada. Disse que tinha conversado com ele, mas que não queria me dizer como tinha sido. O que só ajudava a piorar a minha preocupação. Aquilo estava me consumindo.

Como conseqüência, é claro que o Edson ficou com ciúmes.

Começou como uma piadinha boba, mas eu devia ter percebido no momento em que ele lançou o primeiro “preocupada com o Diego de novo?” na minha direção. Eu nem sabia de onde isso tinha vindo, mas, de repente, o Diego era o novo centro das nossas brigas.

Então, é, eu já estava de problemas até a cabeça. Afogada neles, pra ser mais precisa. E ai, veio a minha mãe me arranjar mais um.

- 5,5 em religião, Lolita? – ela me disse, chacoalhando o meu boletim.

Eu sabia que devia ter falsificado a assinatura dela.

- Você não tem vergonha? – me perguntou – Você me prometeu que ia se esforçar mais esse ano! Ano passado você quase repetiu, e agora me aparece com isso?

- Eu to me esforçando, mãe. – afirmei, com veemência – Eu to estudando mais, eu to me dedicando, só que o mais incrível é que só você não repara!

- E desde quando isso aqui é esforço?

- Você nunca tirou uma nota vermelha na vida? Se você não se lembra, eu não fiquei com uma única recuperação bimestre passado.

- No meu tempo, as coisas eram diferentes. A gente...

- Apanhava de cinta e ajoelhava no milho a cada nota vermelha. – rolei os olhos – Eu sei, eu sei, o vovô era um monstro e no seu tempo a escola era mais difícil e tudo isso.

O Diário (nada) Secreto - vol. 2Onde as histórias ganham vida. Descobre agora