Capítulo 4 - Eu Tenho Que Te Contar Uma Coisa

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- Lolita, eu preciso falar com você!

Ok, nós somos amigas e tal, mas eu não esperava que a Lana ligasse justamente pra mim com tamanho desespero. Quero dizer, ela e Diego tinham brigado feio naquela semana – do tipo não-falo-mais-com-você – por causa do Antônio, e ela não tinha dito uma palavra a respeito.

E agora lá estava ela, totalmente pirada ao telefone.

- Ta tudo bem? – perguntei, com certo cinismo. Eu já sabia do que se tratava. Pelo amor de Deus, eu estava lá, lembra?

Não que ela tivesse percebido. Porque eu não acho que ela tenha percebido absolutamente nada.

- Ahn... eu não sei. - ela bufou, fazendo um barulho bizarro no telefone – Puta merda, eu acho que eu to afim do Antônio.

Pra Lana dizer algo como “puta merda”, a coisa tem que estar feia.

- Eu posso até comentar, mas acho que você vai ficar brava. – falei, tentando não rir. Graças a Deus ela não podia me ver!

- O que? Fala logo!

- Lana, eu já tinha sacado. Tipo, o Diego já sacou. O Diego, Lana. Ele é tipo uma porta.

- Você que acha. – bufou outra vez – Ta assim tão na cara?

- Você nem se dá ao trabalho de disfarçar!

- O Diego me disse isso essa semana. A gente teve uma briga horrível e ai o Antônio entrou na sala e eu meio que nem me liguei mais no que ele tava falando. Ele ficou tipo, totalmente puto da vida.

- Eu percebi que vocês não estão se falando. – era melhor do que dizer “é, eu estava bem do lado de vocês ouvindo tudo”.

Um minuto de silêncio. A Lana devia estar na cama, cercada por lições de casa interminadas, torcendo a camiseta nos dedos ou sei lá. Eu conseguia imaginar a expressão confusa na cara dela.

- E sabe, não é que eu... não goste do Diego. – hesitou – Droga, eu sei lá. Eu gosto do Diego, tipo, como eu não iria gostar? Eu to com ele há quase dois anos!

- Isso não quer dizer nada, Lana. Você não é obrigada a gostar dele só porque estão juntos há mais tempo. – afirmei, mas ela não pareceu me escutar. Continuou divagando.

- É que o Antônio, ele é... totalmente diferente. Com-ple-ta-mente diferente do Diego, sabe? – suspirou, e eu entendi exatamente o que ela estava querendo dizer. Porque com certeza ele era. Tipo, mais bonito e mais gostoso. E como!

- E o que você acha que isso é? – indaguei.

- Não sei. Acho que eu só to admirando o gramado do vizinho. – outro suspiro. Ela estava muito cheia de suspiros e bufares – Talvez nem seja nada, né? Acho que tudo aumentou de tamanho porque eu surtei.

- É uma possibilidade.

- Mas o Diego ainda está de cara feia comigo. Ele nem atende quando eu ligo, Lolita!

- Você deu mancada, Lana, é claro que ele ta de cara feia com você! Tem que dar um tempo pra ele se acalmar.

- Já fazem quatro dias e meio, Lolita!

Mas quem é que está contando?

- Você já ficou brigada com ele por mais tempo que isso! – exclamei, de brincadeira. O que era, de fato, uma enorme verdade. Eles brigavam tanto que não dava pra entender como ainda estavam juntos. E as brigas duravam semanas.

- Mas nunca por nada parecido. – bufou outra vez, então pareceu se acalmar – Acho que eu vou até a casa dele.

- É uma boa idéia. Ainda são... – olhei o relógio – Nove horas da noite, talvez ele esteja acordado.

O Diário (nada) Secreto - vol. 2Onde as histórias ganham vida. Descobre agora