Capítulo 6 - ...Fica na Festa?

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O que eu, na minha mente alcoolizada, interpretei como uma simples batida de carro, tinha sido, na verdade, algo muito maior – eu só não tinha reparado. O nosso carro se chocou, graças a Deus sem muita força, contra um primeiro carro e rodou para longe; mas esse primeiro carro bateu com um segundo carro antes de parar.

As pessoas que se juntaram à nossa volta toda hora nos perguntavam se estávamos bem, se tinha alguém desacordado. Um cara disse que havia chamado a emergência, e eu ouvi as palavras “sangue” e “desmaiada” mais de uma vez. Todos nós ficamos dentro do carro. A Lana se encarregava de manter a Sabrina acordada, já que a batida dela contra o vidro tinha sido a pior.

Duas ambulâncias chegaram mais rápido do que nós esperávamos. Fiquei em dúvida se deveria ou não chamar a minha mãe – ela ia ter uma síncope e gritar comigo ou sei lá. Mas ficaria ainda mais pirada se eu não dissesse nada. Preferi esperar sair do carro pra ligar pra ela.

Um paramédico me ajudou a sair e me apoiou até a beirada da ambulância, onde eu sentei por um instante. Eu estava meio tonta e dolorida, mas era só. O Edson veio logo em seguida, apertando alguma coisa contra o corte na cabeça, que já tinha sangrado o suficiente pra deixar seu rosto manchado.

A Lana veio acompanhando uma maca, onde minha prima estava. Me levantei de imediato, surtando de preocupação. Não foi uma boa idéia. Junto com a vertigem da batida, vieram as garrafas de cerveja e a vodca da noite inteira e... blééé. Lavei o chão.

Ou melhor, sujei.

Ironicamente, só me perguntaram se eu estava bêbada depois que eu vomitei. Fiz que sim, e refizeram a pergunta pro Edson. Ele disse que não, que só tinha ido nos buscar. Perguntei se a Sabrina ficaria bem, e me disseram que ainda não sabiam, que ela estava com muita dor de cabeça e isso podia não ser um bom sinal. Subi – com muita ajuda – na ambulância pra acompanhá-la até o hospital.

Antes de fecharem a porta, vi a cena toda. Entendi porque tinham dito a palavra “sangue” tantas vezes antes de a ambulância chegar. Do carro em que havíamos batido, somente metade ainda estava quase intacta. O lado do passageiro tinha batido de tal forma contra o segundo veículo que tinha ficado totalmente destruído. O resgate ainda tentava tirar quem quer que fosse de lá de dentro.

Os paramédicos fecharam a porta e a ambulância entrou em movimento. O pior, pelo que dava pra ver, estava longe de já ter passado.

Liguei pra minha mãe pouco depois que cheguei no hospital. Uma médica do ambulatório me examinou e concluiu que não havia nada de errado comigo – exceto por uma marca gigante que o cinto de segurança havia me causado. “Agradeça por isso”, ela me disse. Eu agradeci.

Só então, eu peguei o telefone. Eram 5:20 da manhã. Liguei em casa três vezes antes que ela atendesse:

- Alô! – uma dona Abigail muito estressada exclamou ao telefone.

- Mãe, sou eu. – falei, desejando que a minha voz não soasse assim tãão bêbada quanto definitivamente estava.

- Carlota, cadê você? – de repente ela estava preocupada. Respirei fundo.

- No hospital.

- O QUE VOCÊ ESTÁ FAZENDO NO HOSPITAL, CARLOTA?

- A gente bateu o carro mãe. – tentei amenizar o tom ela falando mais baixo, mesmo tendo certeza de que não ia funcionar – Eu to legal.

- EM QUE HOSPITAL VOCÊ TA?

- No São Leopoldo, mãe.

- TO INDO PRAÍ!

O Diário (nada) Secreto - vol. 2Onde as histórias ganham vida. Descobre agora