11. Maré de azar.

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Durante todo o percurso até o hospital Carmen não disse uma palavra sequer. Ela estava com o pensamento longe e segurando muito para não cair no choro outra vez. Chegamos correndo no corredor do hospital e Anthony está sentado ao lado de Paul, os dois estão de cabeça baixa. Troco olhares com Sebastian enquanto vemos Carmen sair correndo na frente para ter noticias do Daniel, assim que papai a vê, levanta rapidamente para segura-la. Carmen está em um desespero enorme, e pela reação de Anthony, a noticia não é nada boa.

— Vou leva-la pra beber um pouco de agua. Fique aqui com eles. — meu pai avisa e sai andando acompanhando Carmen.

— Então, podemos entrar para vê-lo? — pergunta Sebastian, curioso.

— Esperem um pouco, o medico entrou há alguns minutos e está fazendo alguns exames.

— O que está acontecendo Tony? — pergunto — E por favor, não minta pra mim.

Anthony respira fundo antes de dar qualquer tipo de resposta, acho que ele está tentando pensar em um jeito mais tranquilo de nós contar algo bem ruim.

— O Daniel acordou, ele está em ótimas condições...

— Então por que isso não parece ser uma boa noticia?

— Ele vai ficar bem, mas infelizmente seus movimentos da perna foram comprometidos.

Foi como se tivessem me acertado com um soco, bem na boca do estomago.

— Tony, me diz que isso não é sério. Por favor, me diz que é só uma brincadeira de mau gosto. - falo com bastante dificuldade enquanto tento puxar minha respiração, mas parece que não vem ar o suficiente.

— Eu queria muito que fosse, K. Mas a pancada foi muito forte, eles vão tentar fazer uma cirurgia nele no fim dessa semana, mas os médicos não sabem se o resultado vai fazê-lo voltar a andar. É cinquenta porcento chance.

— Isso não pode estar acontecendo. Ele tem um futuro enorme como jogador de basquete. Ele não pode ir pra cadeira de rodas agora, não mesmo. — diz Sebastian incrédulo.

— Temos que esperar os exames médicos, e tentar confortar a Carmen um pouco. — Tony coloca a mão no ombro de Sebastian.

— Isso é tudo minha culpa. — digo escorando minhas costas na parede e tentando respirar fundo.

— Kali, isso não é sua culpa.

Balanço a cabeça negativamente.

— É tudo minha culpa, Tony. — respondo com bastante dificuldade — Ethan veio para Greenville por minha causa. Agora Daniel está mal.

— Ei, respira fundo. Fica calma. Ele vai ficar bem. Você não tem culpa em nada disso — Sebastian se aproxima.

— Não consigo respirar. — sussurro me escorando a parede.

— Kali, calma! Senta aqui. — meu irmão fala.

— Se ela sentar vai piorar.

— Ela está tendo um ataque de panico, Sebastian. — grita Anthony.

— Então chame a porra de uma enfermeira! — exige.

Tony sai correndo atras de uma enfermeira. É como se a dor de um infarto estivesse invadindo meu peito. Aquela sensação é horrível, isso só havia acontecido comigo uma vez, quando eu tive que apresentar um trabalho em publico pela primeira vez. Eu não conseguia respirar direito e tudo a minha volta rodava sem parar. Estou prestes a cair quando Sebastian me segura forte, minha cabeça estava pesada demais para eu prestar atenção em qualquer coisa que fosse.

— Ei... Kali... Kali.. — ele repete segurando o meu rosto — Presta atenção em mim. Tenta prender a respiração. Eu sei que é difícil, mas tenta.

Tento obedecer aos comandos dele, mas é como se alguém tivesse arrancando o meu pulmão para fora. Sebastian coloca sua testa colada a minha e ergue seus olhos deixando-os fixos ao meu. Seus olhos castanho claro estão bastantes calmos. Tento pela primeira vez, e nada, segunda... nada e na terceira finalmente consigo prender minha respiração por alguns segundos e logo solto. Repito a sequencia algumas vezes até conseguir me acalmar.

— Obrigada. — sussurro.

— Sem problemas.

Eu o abraço forte e Sebastian retribui.

—A culpa não é sua. — diz tentando me acalmar — Coisas horríveis acontecem com pessoas extraordinárias as vezes.

— Nunca vou me desculpar por causa disso.

— Ele vai se recuperar, ele é o Daniel!

Eu o solto devagar enquanto escuto Anthony chegando desesperado com a enfermeira.

— Foi só um susto, ela já ta melhor. — Sebastian coloca a mão no meu ombro.

— Meu Deus, você me deu um puta susto. — diz Tony enquanto se aproxima e me abraçando forte.

— Já estou bem, Tony.

Ficamos no corredor por quase mais quinze minutos, o médico sai do quarto e diz que se a gente quiser entrar já está liberado. Não tem nem sinal da Carmen e do meu pai no corredor. Antes de Tony e Sebastian os puxo pra trás.

— Não vou entrar.

— Por que não? — meu irmão pergunta.

— Não vou conseguir vê-lo nessa situação sabendo que é minha culpa. — faço uma pausa e respiro fundo — Vou pra casa, descansar um pouco. Esfriar a cabeça, estou precisando.

— Eu te levo pra casa. — oferece Tony — Eu já vi o Daniel por hoje, e aproveito e te faço companhia.

— Te vejo mais tarde? — pergunta Sebastian.

Concordo com a cabeça. Tony vai me acompanhando para fora do hospital sem falar nada, eu estou de cabeça baixa. Acho que se eu parar por um segundo sequer vou cair no choro. Mas um ódio enorme me sobe a cabeça assim que saímos do hospital e acabo dando de cara com o Ethan, ele me olha bastante surpreso.

Ethan está com um capuz tampando metade do seu rosto, mas eu sei muito bem que é ele, não tem como confundir aquele jeito de andar e aquela blusa toda amarrotada. Assim que tira o capuz quem fica surpresa sou eu. Ele raspou a cabeça, totalmente.

— Kali...

Me aproximo rapidamente e me seguro muito para não dar um tapa na cara dele.

— Não acredito que você está aqui depois de tudo. — digo quase gritando.

— Quero me desculpar, com você e com o Daniel. — responde um pouco cabisbaixo — Quero falar com ele,  saber se ele está bem.

— Ele está ótimo na cama de um hospital, com o risco de nunca mais andar na vida. Está feliz agora?

— Ele o que? — pergunta surpreso.

— Some daqui, some da minha frente e some da vida das pessoas que eu gosto. E se for possível suma da Califórnia.

Antes que Ethan abrisse a boca pra falar algo mais, Anthony interfere.

— Acho melhor você ir embora. Não tem porque você ver o Daniel ou estar aqui depois de tudo que aconteceu. — aconselha Anthony.

— Mas....

— Não me faça pedir uma ordem de restrição contra você, Ethan.

— Tudo bem, tudo bem. Mas eu vou fazer de tudo para Kali me perdoar novamente.

É muita cara de pau pra uma pessoa só.

— Não perca seu tempo. — retruco — Vamos embora, Tony. Já perdi tempo demais no meio de tudo isso.

Não ouse me deixar | lésbicoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora