O que se passa enquanto a vida passa

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E o avião da vida ergue voo,
Rumando em céu estrelário
O firmamento e suas estrelas presas
Como se tivessem sido coladas, escolhidas;
Uma a uma.

Ah, o avião continua o voo
E o dia amanhece e lá na frente um sol
Que brilho!
E brilha, brilha dentro de nós com esplendor.

O mundo gira; a vida gira e com isso o avião vai mais rápido;
Mais lento nos desencontros, mas não para... mesmo sob
A tempestade não para, o avião já está no ar e pousar seria
Indubitavelmente um erro, ele só faz uma parada,
Uma só aterrisagem, e os passageiros... tantos passageiros
E a conversa se estende.

Ainda é cedo, o medo é o arremedo da coragem, disse o apaixonado,
Não, foste é tarde, o amor, embora dure, nunca dura o necessário, replicou o carrancudo,
Bom, não, na verdade não deveria ter acontecido, foi um erro, acrescentou o insatisfeito,
No fim tudo melhora, acredite, melhora, disse o crédulo,
Porém, não se esqueçam que o chão é também apoio, disse o provocador,
Por tanto, caiam, contudo, levantem,
De repente, do banheiro sai um pintor e ao ouvir a conversa acrescenta:
Talvez a vida tivesse mais cor, se eu tivesse me dedicado a pintar e não só puxar os traços.

E lá embaixo estão os que não quiseram se aventurar; viver,
E a noite se estende, e a felicidade sobe a bordo
E a agonia para acompanhar,
E a tristeza e folia tomam o seu lugar,
Num arranca-rabo entram também sentimento e razão,
Por último ele vem, remendado, mas vem;
O coração:
Sobrevivi, sorri, sobrevivi, arrisquei,
Fui tapete, me reinventei, chorei,
Sobrevivi, eu sorri, mas mais chorei,
Me inundei, esvaziei-me em pranto,
Guardei dos males não mais que experiência
Dos bens; só a lembrança,
Mas no fim... veja só, me resta apenas
Um assento ao fundo,
Meus eus... e um assento no fundo,
Meus amores desceram; ou não,
Meus amigos desceram; em vão,
Embora tudo isso aconteça; eu são,
E a realidade agora bate à porta:
Embarque.

A viagem é longa;
O tempo é curto;
Menos do que se imagina,
É o cruzar da rua
É o pôr-se da lua,
É o piscar de olhos
O ouriçar de peles,
É um gemido de prazer
Ou dor,
É o começo do sonho
E é pr’onde o sonho se vai,
Pr’onde vai?
Pr’onde foram?

E os olhos se abrem
E os olhos se fecham,
E os lábios se abrem
E os lábios se fecham
E ouvidos ouvem
E os ouvidos calam
E o povo chora
E o povo sorri e vai embora,
E o mundo continua a seguir;
E o avião, bom...
Desce aqui.

Entre Metáforas e UtopiasWhere stories live. Discover now