Capítulo 01 - Hills Like White Elephants

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"Aborto." Eu a respondi. Eu lembro dela me explicando essa história com tanta paciência, uma vez que eu estava tendo dificuldades em entendê-la.

"O homem estava tentando convencer Jig a fazer um aborto."

Eu podia vê-la tentando disfarçar o choque de me ver ali. Ela soltou um lento suspiro e assentiu. "E o que fez você chegar a essa conclusão?" Ela perguntou.

"Ele insiste que um aborto mal pode ser considerado cirurgia e que é perfeitamente natural, e que ele vai estar com ela durante todo o processo, mas apenas se ela realmente quiser fazer o aborto."

Ela aceitou a resposta, mas o interrogatório ainda não tinha acabado.

"Você acha que há algum simbolismo com relação ao local em que eles estão?" Ela perguntou.

Seus brilhantes olhos verdes estavam focados, mas não transmitiam qualquer pista do que pudesse estar passando em sua cabeça, como eu achava que eles fariam.

O que você está fazendo, Lauren? Eu pensei comigo mesma.

"Sim, senhora."

"Como assim?" Ela perguntou.

Pela primeira vez em quatro anos eu não podia dizer o que seus olhos estavam dizendo e isso estava me afetando, mas eu sabia que eles estavam tentando dizer alguma coisa. Era uma emoção indetectável, mas eu sabia que eles estavam gritando silenciosamente.

"A estação de trem simboliza uma encruzilhada. Em um lado da estação, há um deserto, e do outro, um vale frutífero. Um lado simboliza morte e o outro vida, e eles poderiam escolher qualquer um deles para seu bebê."

Ela se encostou em sua mesa e assentiu, olhando para mim.

"Então por que motivo o autor não apenas diz sobre o que eles estavam falando?"

Eu sorri levemente, ela havia comentado sobre isso. "Ernest Hemingway era famoso por seu 'método iceberg', o que significa que ele coloca você no clímax da história, na ponta do iceberg, quando a verdadeira história está sob a superfície."

Um leve sorriso enfeitou seus lábios enquanto ela assentia.

"Excelente resposta, senhorita Cabello." Ela disse. "Você pode sair da sala, mas eu gostaria de dar uma palavrinha com você depois da aula."

Eu assenti e saí apressada da sala, fechando a porta atrás de mim. Eu soltei um suspiro enquanto andava em direção aos sempre lotados corredores da faculdade.

Eu não deveria voltar, é uma má ideia, não depois de tudo que aconteceu. Contudo, foi ela quem disse que queria me ver.

Enquanto eu andava por entre os corredores, notei inúmeros calouros desesperados para encontrar suas salas, e não pude evitar lembrar do meu primeiro dia nessa universidade, enquanto eu procurava por aquela mesma sala de aula da qual estava desesperada para escapar apenas alguns minutos atrás.

• • •

"Eu desisto." Eu pensei enquanto me sentava em um banco vazio perto da lanchonete. Lugar esse que, a propósito, foi o único prédio em toda a universidade que fui capaz de encontrar. Eu vou me atrasar para minha primeira aula em uma faculdade devido à minha falta de senso de direção. Eu olho de relance – pelo que parece ser a milionésima vez hoje – para o mapa em minhas mãos, o qual supostamente serviria para me guiar para as minhas inúmeras aulas e que falhou miseravelmente em sua missão e o viro de ponta cabeça, pensando que talvez eu estivesse olhando-o do jeito errado, mas isso só me deixa mais confusa.

The Iceberg Method (Português)Where stories live. Discover now