Capítulo 25

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Com a chegada da primavera, um sol fraco despontava no alto do céu azul e seus raios degelavam o resquício de neve que ainda se mantinha no topo das folhas e no tronco das árvores. Anna estava entretida com a linha, ou pelo menos fingia estar, enquanto sua irmã e Matthew conversavam perto da janela. Por algum motivo, incompreensível para si mesma, a presença de Matthew a abalava.

- Com licença - pediu Jane e levantou-se do sofá.

- Toda - concedeu Matthew.

Anna ergueu, pela primeira vez, os olhos da costura e fitou a irmã, mas ela não estava atenta a ela para perceber seu olhar suplicante. Não queria ser deixada ali sozinha com Matthew, pois não tinha certeza do que dizer a ele. Com Harrison era muito fácil, mas parecia haver uma barreira entre ela e o viúvo que Anna não era capaz de derrubar.

Assim que Jane saiu, Anna comprimiu os lábios e, largando a costura no colo, sorriu para Matthew que correspondeu com outro sorriso. Era incrível, pensou Anna, que aquele homem tão doce e gentil em todo aquele tempo não houvesse encontrado uma esposa. Ela conhecia a história de Matthew, pois Edith havia lhe contado, num dia em que ela parara num dos corredores para observar um quadro pendurado na parede. A pintura remetia-se a uma paisagem muito bonita: um céu nublado, um barco em meio à tempestade e, ao longe, nas rochas, uma mulher que parecia aguardar, tendo a esperança de que aquela pequena embarcação trouxesse de volta quem ou o que ela estivesse esperando.

- Esse quadro - segredou-lhe Edith - foi pintado pela mãe de Simon.

- É lindo - observou Anna com sinceridade. Seus olhos ainda estavam hipnotizados pela imagem.

- Sim, ela era muito talentosa.

Saindo de seu estado de encantamento, Anna voltou-se para Edith. Ambas caminharam até a sala de piano. Duas cadeiras encontravam-se à frente da lareira que estava acessa. A matrona sugeriu que se sentassem ali para aproveitar aquele calor e Anna concordou.

As duas mulheres ficaram mudas, ouvindo apenas o crepitar e os próprios pensamentos.

- Matthew se casou muito cedo - iniciou Edith rompendo aquele silêncio, mas com o olhar vidrado no fogo. - Sabe, ele não era esse homem tão responsável como é hoje. Matthew tinha apenas dezenove anos quando decidiu pedir Amy em casamento. Ela era apenas dois anos mais nova que ele, mas a família consentiu sem nenhum tipo de protesto. Bom, Matthew sempre foi um grande partido e não falo isso apenas pelo dinheiro, mas porque meu filho sempre foi muito indulgente.

Anna manteve-se atenta às palavras de Edith. Ela falava do filho como se pudesse reviver a sensação de cada um dos momentos dos quais se recordava.

- Os dois se casaram e foram morar no interior. Em apenas dois anos, Amy engravidou e, como se fosse possível, Matthew sentiu-se ainda mais feliz. Aquele período foi tão maravilhoso, quem poderia imaginar que haveria complicações naquele parto e que Amy morreria depois da dar a luz ao pequeno Simon?

Aquela pergunta foi feita com um sorriso amargo e Anna sentiu-se penalizada tanto por Edith quanto por Matthew. Ela e suas irmãs bem sabiam que as perdas abriam feridas difíceis de serem cicatrizadas. Não foi difícil imaginar como ele se sentiu.

- Assim que soube que ela havia morrido, eu não pensei duas vezes antes de sair de Hatfield House. Matthew chorou aquela perda por muito tempo, chegando a negligenciar o próprio filho. Precisei trazê-lo de volta com Simon antes que ele caísse num abismo de lembranças, pois cada canto daquela casa era uma parte de Amy. Aqui, Matthew recuperou-se. Passou a cuidar de Simon e concentrou-se em construir novos negócios. Hoje ele é um pai maravilhoso e tem seu próprio dinheiro, mas eu confesso que gostaria que ele encontrasse alguém com quem pudesse compartilhar suas conquistas. - A matrona tirou os olhos do fogo e pousou-os sobre Anna. - Sei que Amy não levou todo o amor que Matthew tinha com ela. Ele ainda tem muito amor para dar.

Tudo o Que Mais Importa (Versão Wattpad)Where stories live. Discover now