Capítulo 11

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O tempo inclemente fazia com que lá fora uma chuva torrencial caísse, impedindo Jane de fazer sua caminhada matinal pelo jardim. Ela suspirou, dirigiu-se até a biblioteca e ficou por lá, tentando distrair a mente. Sentia-se tão confusa com o comportamento de Edward!

Depois do baile e de tudo que ele compartilhara com ela, algo parecia ter mudado e ela o sentiu distante, embora ele ainda concedesse a ela seus sorrisos e fosse educado e gentil. Todavia, a cumplicidade que haviam adquirido ao longo daqueles dias e na última dança parecia ter se esvaído, pois ele agia de forma bastante superficial com ela e parecia fugir de todos os lugares em que ela estava.

Não era apenas impressão sua, ela constatou. Provavelmente ele tinha medo. Medo de algo maravilhoso, pensou Jane com tristeza.

Pegou seu romance e sentou-se no sofá. Tentou se concentrar nas palavras, mas não conseguiu, pensando em Edward. Pousou o livro em seu colo e observou a chuva forte batendo contra a janela de vidro.

- Srta. McCarthy?

Ao ouvir o som daquela voz, Jane assustou-se e, levantando-se, fez com que o livro que estava sobre o colo caísse no chão.

- Sr. Radford?! - Um tanto confusa, ela arregalou os olhos. Era estranho, como se seus pensamentos tivessem se materializado e ele estivesse ali agora como um chamado seu.

Edward ergueu uma sobrancelha diante da reação de Jane.

- Ao que me parece, eu sempre consigo surpreendê-la. - Edward sorriu de canto e piscou.

Jane correspondeu com um sorriso morno, a despeito das sensações que aquela piscadela encadeou em si.

Edward caminhou até Jane, abaixou-se para pegar o volume e percebeu que não era a Bíblia que ela sempre carregava. Era um romance e, pela forma de manuseio e o desgaste, notou que não se tratava de um volume de sua biblioteca.

- Mamãe gostava e é um dos prediletos de Anna - explicou Jane ao notar seu ar de curiosidade. - Eu, no entanto, nunca o tinha lido.

- Não quero atrapalhar - disse Edward e pediu a ela que voltasse a se sentar, devolvendo-lhe o livro.

Jane o tomou de suas mãos e retornou a posição em que estava. Então, lembrando-se de que ele a havia chamado e, não, ele não havia se materializado lá por sua causa, perguntou:

- O senhor queria me dizer algo?

- Não, nada de importante. - Ele deu de ombros. - Apenas a vi por aqui e fiquei curioso.

- Está bem. - Ela arqueou a sobrancelha. - Então voltarei para minha leitura.

Edward ficou de pé, observando-a. Desde que a deixara chegar perigosamente perto, ele havia decidido que deveria se afastar. Desejava a simpatia dela e não o seu amor. Tinha seus defeitos, mas não jogaria com o coração dela, já que tudo que ele menos queria era se apaixonar fosse por ela ou por qualquer outra.

No entanto, quando entrou e a viu ali, pensativa, os grandes olhos cinza contemplando a chuva, ele não foi capaz de resistir. Os detalhes o chamavam e o atraiam como a abelha é atraída pelo néctar das flores. Os longos cílios escuros dela fechavam-se e abriam-se como o bater das asas de uma borboleta; os lábios, embora finos, pareciam exercer sobre ele um fascínio incomum.

Ele também reparou que Jane usava um vestido que moldava sua cintura fina; o tecido de um verde-escuro com mangas que chegavam até seus cotovelos; o pano cobria seu pescoço e a parte do colo era adornada apenas pela delicada renda preta. Edward sorriu consigo mesmo. Até na maneira de se vestir Jane possuía um recato virginal. E, de alguma forma, a simplicidade dela parecia envolvê-lo mais que a extravagância de qualquer outra mulher. Sabia que devia se virar e sair dali, mas, assim como no dia do baile, não resistiu ao impulso de se aproximar dela.

Tudo o Que Mais Importa (Versão Wattpad)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora