Capítulo 19

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Shropshire

- O que me diz, querido Edward? - inquiriu Emma, fitando-o atentamente.

No entanto, Edward não a ouviu. Ele permaneceu olhando a paisagem, montado em seu garanhão, com seus pensamentos muito longe dali, enquanto os dois caminhavam lentamente à margem do lago que se localizava em Corn Lane.

- Edward, está me ouvindo? - insistiu Emma com uma nota de irritação.

Foi necessário algum esforço da parte do dono de Worthen para conseguir se concentrar nas palavras de Emma e juntá-las de modo que fizessem algum sentido em sua mente.

- Eu estou, Srta. McFarland - afirmou quando enfim conseguiu se lembrar do assunto. - E, sim, a senhorita está certa com relação aos bailes da estação - concordou com um sorriso forçado.

- O senhor irá, não é mesmo? Oh, diga que sim! Poderíamos ir juntos! - sugeriu ela e sorriu docemente. - Sei que ainda está longe, mas já podemos ir fazendo nossos planos! - Emma exclamou, entusiasmada.

Por alguns segundos, Edward fechou os olhos e suas mãos apertaram as rédeas de seu garanhão com firmeza, como se ele tentasse concentrar ali todo seu cansaço e irritação.

- Não é uma boa ideia - ele respondeu e tentou reprimir um suspiro aborrecido.

- Mas o senhor precisa socializar! - insistiu. - Desde que... Bem, desde a última festa que deu em Worthen o senhor não frequentou mais a sociedade. Poderíamos ir todos para Londres passar uma temporada por lá...

- Srta. McFarland! - Edward exprimiu com impaciência. - Eu não quero ir a bailes, eu... - hesitou notando que Emma se chateara com o tom de voz usado por ele e resolveu prosseguir de forma mais suave: - Eu sinto muito, Emma.

Edward nunca a chamava de Emma e aquele devia ser um dos momentos mais deliciosos de sua vida, ouvir seu nome nos lábios dele. Mas não era assim. Ela sabia que chamá-la de forma tão íntima não era sinal de que ele já estivesse sentindo algo por ela, na verdade era um sinal de que ele apenas queria amenizar o que viria a seguir.

- Emma - ele a olhou de modo afável, seus anéis escuros sendo despenteados pelo vento forte -, a senhorita é uma mulher linda e possui suas qualidades e sei que um dia um cavalheiro muito especial irá enxergá-las. No entanto, esse cavalheiro não sou eu. Sinto muito, Emma, mas eu não a amo e não seria justo com você se eu lhe dissesse que estou disposto a entregar meu coração novamente quando ele já nem me pertence mais.

Naquele momento, ao ver o sofrimento nos olhos de Edward, Emma percebeu que, por mais que tentasse e insistisse, o dono de Worthen já estava perdido para ela. Quando ele apenas tinha Anabelle como amante, Emma acalentava a esperança de que ele pudesse torná-la sua esposa - ele não amava a cantora. Mas com Jane era completamente diferente. Aquela mulher o conquistara de verdade.

Depois de cavalgar uma parte da manhã com Emma, Edward resolveu passar um tempo na biblioteca. Sentou-se no sofá e percebeu um jornal dobrado. Era o The Times. Abriu-o e começou a ler as notícias. Quase todas falavam do tifo e de como a Irlanda era o país que mais sofria com aquela praga.

Umas das colunas documentava que uma nova forma de exportação para Inglaterra e América seria possível. Uma empresa de navegação seria a responsável, traria os grãos da Irlanda. A expectativa era de que isto geraria mais empregos para a situação precária do país. Outro artigo trazia uma crítica ao reinado inglês. Ele dizia que havia uma massa de grande pobreza na Irlanda e que proprietários de grandes escalões e governos não faziam nada além de sugar o trabalho dos camponeses que estavam a viver em um estado deplorável de doenças e fome.

Tudo o Que Mais Importa (Versão Wattpad)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora