11 | s t a r v i n g

5.3K 639 550
                                    

11

Starving

Nós sabemos que um apocalipse zumbi está prestes a acontecer quando:

a) cientistas começam a fazer testes malucos e as notícias sobre um possível zumbi na Terra se espalham pelo mundo;

b) os sinais de televisão, internet e luz são cortados;

c) não pode sair de casa porque pode ser atacado (hipoteticamente falando, claro) por algum cachorro que que foi infectado pelo vírus;

d) quando sua irmã pede para conversar com você.

Não que nenhum dos primeiros três itens aconteceram comigo, mas seria mais provável, na minha cabeça, encontrar com a senhorita Stevens sendo devorada por algum zumbi do que cogitar a ideia de Spring pedir para conversar comigo.

Apenas a ideia de enxergar a minha irmã sentada na minha cama, encarando cada parte do meu quarto e se preparando para conversar sobre qualquer coisa me parecia algo distante. Muito distante, vale reforçar. Quando essa ideia passou a ser algo real, eu não fazia de como agir.

Porque Spring realmente estava sentada na minha cama e se preparando para falar sobre algo comigo.

C-o-m-i-g-o!

Quando ela me abordou no meio da cozinha parecendo sem rumo e desesperada, pensei que ela fosse reclamar de Winter e o volume da sua música ou talvez sobre Summer e sua falta de senso prático já que ela havia deixado o carro estacionado na grama e provavelmente Joseph deveria estar atrás dela, mas nunca em mil anos pensei que Spring fosse desabafar comigo.

E fosse ir além disso: pediria para ter uma conversa sobre o que a atormentava.

Ainda no automático subimos para o meu quarto enquanto ela suspirava em intervalos curtos e agora estávamos as duas ali,sentadas e sem saber como agir. Por mais que eu tentasse descobrir o que tanto tinha atormentado a minha irmã, a única coisa que me parecia relevante o bastante para a deixar dessa maneira seria Harvard. Ah, a tão preciosa e amada faculdade vinha tirando todo o tempo livre e noites de sono de Spring desde... Sempre?

Tudo bem, dois anos.

De qualquer maneira, a única coisa que fazia sentido ─ no meu ponto de vista ─ seria que a entrevista em Harvard já tivesse sido marcada e que Spring já tivesse ido até lá e algo desastroso tenha acontecido. Mas, levando em conta que a carta havia chego não fazia muito tempo, não era Harvard que estava tirando a lucidez da minha irmã.

Ela torceu o rosto em uma careta de desespero e suspirou uma última vez antes de começar a conversa.

─ Tem esse garoto... E, bem, você sabe...

Sinais em vermelho brilhante piscaram diante dos meus olhos quando me dei conta que Spring estava falando sobre um garoto comigo. Um garoto! Quando na vida eu iria pensar que a minha irmã viciada em estudar e manter a mente ocupada com trabalhos e mais trabalhos iria falar sobre garotos comigo? E isso não se deve nem ao fato das paredes erguidas para nos afastar: eu realmente nunca achei que Spring fosse falar sobre esse tópico comigo. Nem mesmo quando éramos unha e carne.

Não era Harvard que estava tirando a lucidez da minha irmã, mas sim um garoto! Um garoto estava sendo mais importante do que qualquer outra coisa para ela. Um. Garoto.

Eu estava chocada demais para falar alguma coisa que não fosse:

─ O apocalipse zumbi está realmente começando.

Broken Hearts Club | ✓Onde as histórias ganham vida. Descobre agora