6. Porque Ela Dança Comigo (Bónus)

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A casa onde morava ficava no alto de uma colina, longe do barulho da cidade e de vizinhos curiosos. A companhia de segurança era obrigada a trocar os trabalhadores e os sistemas de acesso uma vez por mês, e apesar de poucas vezes ter visita, quando as tinha, os carros passavam por cancelas e um processo de vistoria minucioso.

A entrada da casa branca tinha pilares romanos e uma bela porta de vidro que só aparentava ser frágil, mas era blindada, assim como as várias janelas que iam do chão ao teto. A sua casa era toda decorada de branco, com sofás de veludo que formavam um L, um ecrã igual ao de cinema ocupava mais da metade da parede, dois vasos de porcelanas estavam em cima de uma consola antiga, com um espelho em cima. Os quadros eram obras caras que retratavam Dante, Rembrandt, Da Vinci e Raphael. Um exímio tapete oriental substituía a carpete, e a cozinha em aberto com a sala de jantar era toda equipada com tudo o que qualquer mestre de culinária poderia sonhar.

Ocean parou a distância observando o brilho da limpeza de sua casa, os livros estavam ordenados por ordem alfabética e cores, assim como os discos de vinil que tanto prezava. Tirou o casaco e a gravata, correndo para o quarto da lavandaria pois jamais voltava a albergar uma peça usada, no guarda-roupa, e em seguida foi guardar a sua mala no escritório. A casa tinha cinco quartos, mas Sky tinha feito questão de os ocupar com outras funcionalidades, deixando apenas a suíte principal onde dormia. Uma forma clara de não receber visita.

Voltou para sala, ligou a música clássica e enquanto escutava La Bohème de Puccini, preparou algo para beber e relaxar. Tinha sido uma semana cansativa para variar, mas era o único momento em que não se permitia pensar nos fantasmas do passado. O telefone de última geração tocou, despertando-o de seus tormentos e só atendeu por ver o número de Walter ali na tela.

— Alô? Aconteceu alguma coisa?

Relaxa tio. Eu só liguei para saber se você está bem.

O presidente da GaSky respirou fundo, e deu um gole da sua bebida. Raramente bebia, mas tinham dias em que precisava se afogar ou explodiria.

— Estou bem sim, e você? — Perguntou tentando encontrar uma amabilidade na voz que não existia. Era duro como uma pedra, e mesmo criando os filhos de sua irmã com todo o afinco, tinha deixado os dois na mansão Sky a viver com os empregados.

Mais ou menos. Sabe o que eu queria? — Walter soube soar a um pedinte que não comia há três dias, e por isso o tio o deixou continuar. — Chama o Pequeno-Falcão para brincar comigo. Amanhã é sábado.

— Pequeno-Falcão? — Não compreendeu.

O Marlon, filho da moça das roupas cheias de alegria.

Sky teria rido se pudesse pois as crianças tinham uma maneira de ver o mundo de uma forma diferente. Moça das roupas alegres repetiu para si.

— Verei o que faço.

Tio? — Chamou antes de desligar. — Você me ama?

— Claro, Walter.

Então por quê todo mundo me deixa sozinho aqui nesta casa tão grande? O Liam não para em casa, e você vêm muito poucas vezes. — Fez uma pausa. — É porque eu não sei andar? Prometo que quando completar oito anos conseguirei andar de novo e vocês todos irão gostar de mim.

Um aperto ocorreu o gélido coração de Sky ao ouvir o sobrinho dizer aquilo. Acreditava que iria andar, mas a sua paraplegia era irreversível.

— Amanhã virei visita—lo e... trarei o seu amigo. — Se arrependeu em seguida de dizer aquilo, pois tudo o que queria era estar em sua casa sem ninguém o incomodar.

Something About Ocean [DEGUSTAÇÃO]Onde as histórias ganham vida. Descobre agora