Capítulo 2: Quando eu me torno nós / Parte 1: Leve como o ar

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Narração - Kayra O'Connor
Tá legal, muitos podem dizer que estavam tendo um dia estranho, mas com certeza não foi tão estranho quanto o meu. Pra começar, assim que acordei e levantei da cama, tropecei no lençol e caí, depois comecei a sentir minha marca de nascença arder como nunca antes. Sim, exatamente a minha marca de nascença, no meu ombro direito, não todo ele, sentia a queimação em todo o seu contorno. Uma marca bem esquisita, só pra constar, mas provavelmente única, então não posso reclamar, até que eu gosto. Ela tem o formato perfeito de um triângulo, com um traço próximo à ponta que aponta pra cima. Molhei o banheiro inteiro tentando acertar água encima dela, pra ver se aliviava, mas nada de alívio, apenas um banheiro inteiro pra enxugar. Como era o sábado do grande jogo entre o time da nossa escola, Silver Port High School, os Sharks, contra nossos rivais da Uper Side High School, os Bulls, preparei meu uniforme de torcida pra levar e me trocar no vestiário da escola. Depois de escolher uma roupa qualquer decidi colocar gelo na minha marca, pra aliviar aquela dor horrível. Fui até a cozinha e encontrei minha mãe se preparando pra sair. Ela é advogada e tem um caso importante pra resolver, logo no sábado mais importante pra mim, na verdade pros rapazes dos dois times e os outros alunos das duas escolas, que também era um sábado importante pra ela.
- Já tá indo, mamãe? - perguntei assim que me sentei à mesa, depois de pegar gelo no congelador, colocar dentro da bolsa de gelo e pressionar no meu ombro.
- Daqui a pouco, querida. - ela respondeu e me viu com a bolsa de gelo. - Não vai me dizer que torceu o pé logo hoje, não é?
- Não, é só pra aliviar uma dor no meu ombro, uma queimação, na verdade. - corrigi assim que vi a expressão dela parecer preocupada. - Só tá ardendo um pouco.
- E acha que gelo alivia isso?
- Eu espero que sim, porque é tudo o que eu tenho. - respondi dando de ombros.
- Já que diz. Toma seu café, não quero que passe mal no meio da apresentação. - Ela me disse assim que virei pro prato que ela havia preparado pra mim com uma maçã, alguns morangos, dois waffles, e um lanche natural, além de uma copo enorme de vitamina de banana.
Não sei como ela não quer que eu passe mal durante a nossa apresentação de torcida depois de comer tanto. Mesmo não sendo tão pesados, a não ser os waffles, não vão durar muito tempo dentro de mim depois de três piruetas. Depois de um tempo eu percebi que seria difícil comer e segurar a bolsa de gelo ao mesmo tempo. Eu desejava mesmo ter poderes pra segurá-la ali. Pedi pra minha mãe segurar pra mim, só até eu comer o suficiente pra me manter disposta e não vomitar no meio do campo. Senti a bolsa de gelo ser pressionada no meu ombro por uma força além da minha.
- Obrigada! - agradeci sem olhar pra trás.
Comi a maçã e alguns dos morangos, dei algumas beliscadas nos waffles, no lanche natural, e bebi quase toda a vitamina. Acho que teria sido mais fácil ela ter deixado no copo do liquidificador pra eu beber, porque tava praticamente tudo no meu copo. Assim que terminei, me virei pra olhá-la, colocando a mão na bolsa de gelo pra segurá-la.
- Agora já pode soltar, mamãe. Já termin...- eu parei de falar no mesmo instante em que não a encontrei segurando a bolsa de gelo.
Olhei em volta da cozinha, chamei por ela e não a vi. Chamei mais alto dessa vez e ouvi sua voz vindo do corredor dos quartos, até que ela apareceu na porta da cozinha me perguntando o que houve. Eu não respondi de início, apenas fiquei de boca aberta. Se não era ela, então quem estava segurando a bolsa de gelo no meu ombro?
-Uhm... Nada, nada não. Só queria saber se já tinha ido. - eu gaguejei no início, dando a primeira desculpa em minha mente. Ela percebeu de alguma maneira que eu tava agindo de forma estranha.
- Tudo bem... - respondeu desconfiada. - Guarda o que sobrou na geladeira e lava a louça. - ela disse depois de ver que eu não havia devorado tudo o que ela preparou - Não quero encontrar nada nessa pia quando eu voltar, entendeu, mocinha?
- Pode deixar, mamãe. - respondi aparentando não gostar nada da ordem dela.
Lavar a louça não é uma das minhas tarefas favoritas, na verdade, odeio lavar a louça, mas como vivemos só nós duas aqui preciso cooperar com as obrigações da casa. Ela se despediu de mim e fui até ela pra dar um abraço. Depois disso ela foi embora.
Isso foi só o começo desse dia esquisito. Iam acontecer muito mais dessas coisas estranhas.
Olhei pro relógio e vi que tava quase na hora de Jaxon passar em casa pra irmos juntos até a US, foi quando percebi que havia deixado meu celular no quarto. Subi correndo pro meu quarto pra pegá-lo e no caminho me lembrei que tinha que lavar a louça ainda.
- Depois que voltar eu lavo. - disse a mim mesma e continuei até meu quarto, mas no fundo desejava que a louça se lavasse sozinha.
Quando cheguei no quarto e peguei o celular vi que havia uma mensagem de Jaxon dizendo que já tinha saído de casa, há quinze minutos. Voltei até a sala, respondendo outras mensagens de alguns amigos. Me lembrei, então, que eu tava esquecendo a garrafa com água e a bolsa que deixei na cozinha, assim que fui tomar o café. Ao entrar na cozinha me deparei com a pia sem nenhum prato, limpa, completamente seca. Os pratos, copos e talheres no escorredouro estavam brilhando, sem exagero, estavam realmente brilhando. Pensei que poderia ter sido minha mãe, mas em tão pouco tempo em que fui no quarto pegar o celular e voltei, ela não poderia ter voltado, lavado toda a louça e ido embora sem que eu soubesse.
A buzina do carro de Jaxon tocou em frente a minha casa. Fui forçada a deixar aquilo de lado, já que ele não parava de tocar aquela buzina ridícula. Era irritante, principal característica do Jaxon, que, aliás, ficava mais evidente a cada dia. Com certeza nossa relação não vai durar muito mais tempo.
Saí de casa trancando a porta e me apressei até o carro dele, colocando minha bolsa em meus pés. Ele não me cumprimentou, apenas reclamou que eu havia demorado. Fingi não ouvir e seguimos nosso caminho pra Uper Side High School.
Ao chegarmos no estacionamento do colégio, saímos do carro e Jaxon olhou em volta, procurado um carro em especial.
- O maricas do Haymond deve ter ficado com tanto medo de enfrentar o campeão aqui, que nem veio pro jogo. - Ele disse estufando o peito e rindo sozinho. Apenas revirei os olhos e segui até o vestiário feminino separado pras líderes de torcida de Silver Port.
Encontrei as garotas, nos trocamos e conversamos muito, o tempo todo minha marca queimava, me incomodando demais. Eu tava desconfortável e todas perceberam isso, mas disse que não era nada. O jogo ia começar, mas antes nós, líderes de torcida, deveríamos fazer nossa performance. A marca me incomodou demais, mas consegui fazer todos os movimentos corretamente. Ainda bem que não me atrapalhou. Depois que terminamos as líderes da US começaram a sua apresentação, mas nem todas as atenções estavam pra elas. Do outro lado do campo, na arquibancada dos Bulls, eu pude sentir o olhar de alguém sobre mim. Era um garoto que àquela distância aparentava ser asiático, não tinha certeza. Aquilo já tava começando a me assustar, porque nem durante o jogo ele deixou de me observar. Me desconcentrei algumas vezes durante algumas coreografias, mas consegui me recuperar rápido e improvisar alguns movimentos não ensaiados.
***
Quando o jogo havia acabado não pude perceber onde ele estava, os jogadores estavam saindo de campo e todos da arquibancada também estavam saindo para ir até a lanchonete, como tradição em jogos na US, onde o dinheiro dado pelos alunos no intervalo do jogo seria arrecadado pra ser doado ao orfanato Uper Side. No meio de toda a multidão eu não pude encontrá-lo. Decidi deixar aquilo de lado e ir até a lanchonete. Jaxon havia ido com os outros jogadores, não se lembrando de que eu também tava lá e nem de me esperar pra irmos juntos. Isso não me surpreendeu. Não sei porque ainda levo isso adiante.
Quando tava chegando na lanchonete pude sentir uma energia estranha. Se eu dissesse isso pra alguém diriam que a única coisa estranha era eu. Da janela pude ver dois garotos agachados olhando um pro outro. Seus olhos brilhavam de maneira sobrenatural. Um pude reconhecer sendo o capitão dos Bulls, Kamdor, que tinha suas íris brilhando em vermelho e o outro garoto era aquele que tava me observando durante o jogo, que tinha suas íris brilhando em um tom cinza. Na porta tinha um garoto com o uniforme dos Bulls, mesmo de lado podia ver um brilho amarelo sair de seus olhos. Minha marca queimava ainda mais, que chegou a ser insuportável aguentar. Antes que eu cedesse a dor pude ver os três desmaiando do nada, como se fosse mágica.
Eu me senti tonta, aquilo iria acontecer comigo também. Então, ao invés de desmaiar, imagens de seis pessoas lutando contra um cara esquisito, com uma máscara de samurai de ferro vieram à minha mente, como se tivesse cegado minha visão, me fazendo ver apenas aquilo, como se eu estivesse lá. Fechei os olhos com força e balancei a cabeça pra tirá-las da minha mente. Eu tava realmente assustada, não entendia nada. Algumas pessoas em minha volta viram que eu tava estranha, a maioria olhava pra dentro da lanchonete, vendo os três desmaiados. Dando passos pra trás, me virei e saí de lá o mais rápido possível. Não tinha exatamente um lugar pra ir, já que eu não tava no meu local. Enquanto andava procurando um lugar isolado fui parada pelas outras garotas da torcida da minha escola.
- Kayra, a gente tava te procurando. Onde você tava? Não esperou a gente pra irmos até a lanchonete. - Liz começou a falar.
- É, e nós fomos até lá e você também não tava. O Jaxon tá te procurando, aliás. - Carla avisou.
- Desculpem, meninas, eu só tô um pouco distraída com umas coisas na minha cabeça, preciso tomar um ar antes do jogo recomeçar. - eu as respondi, tentando não parecer tão abatida quanto eu tava, mas Liz percebeu e não deixou passar.
- Kay, tá tudo bem com você? Não tá com cara de quem tá muito legal. Na verdade, até parece que viu, sei lá, um fantasma. - de todas as garotas, Liz era a mais próxima de mim, posso dizer que é minha melhor amiga. Sempre que eu precisava ela tava lá pra mim.
- Eu só preciso tomar um ar mesmo, Liz, não se preocupa. Eu encontro vocês quando o segundo tempo estiver pra começar.
- Tudo bem, a gente te espera no campo. - Liz respondeu hesitante. As outras, por outro lado, não se importaram e começaram a voltar pra lanchonete.
- Não esquece que o Jaxon tá te procurando, Kayra. - Carla falou novamente, não que eu estivesse me importando com isso. Fosse o que for, Jaxon poderia esperar.
Eu apenas suspirei frustrada. Sei que nenhuma das outras gosta de mim de verdade, só andam comigo por serem as populares líderes de torcida da escola, ficando atrás de mim e da Liz, que somos as que possuem mais status entre o grupo. Além de tudo, ainda existe o fato de praticamente todas as garotas da escola, principalmente elas, gostarem do Jaxon, já que ele é um cara com uma bela aparência e o líder do time, sendo assim, consequentemente, o cara mais popular de Silver Port. Mas esse negócio de status, popularidade, é tudo uma perda de tempo. Eu não ligo pra isso. Só sou uma líder de torcida por gostar do que faço. Sou ginasta e dançarina, como eu não poderia me sentir atraída por isso? Elas sentem um tipo de raiva por mim, porque Jaxon acabou me escolhendo dentre todas as líderes de torcida. Hoje eu sei que é um fato que eu não devo me orgulhar. Temos nossos momentos, mas sempre temos nossos problemas. É nisso que um namoro de popularidade dá. Liz percebeu minha frustração, além do mal estar que eu estava sentindo.
- Não liga pra elas, não merecem que você perca seu tempo se estressando com toda essa estupidez. - ela me disse apertando meu ombro, de maneira reconfortante.
- Pode deixar. Não vou me preocupar com nada disso. - Liz me respondeu com um sorriso. - Eu só preciso ficar um pouco sozinha agora, só pra respirar um pouco.
- Tá legal. Não tendo nada a ver com elas ou com o Jaxon, eu deixo, sem problemas.
- Pode acreditar, não tem nada a ver com isso.
- Leva o tempo que precisar. - ela me abraçou e foi pra lanchonete, mas nem um passo depois ela se virou pra mim novamente - Só lembra de voltar pro campo pra continuar nosso trabalho na torcida.
- Não vou esquecer! - exclamei sorrindo.
Assim segui meu caminho pra lugar nenhum, até decidir voltar pro campo e ficar atrás das arquibancadas onde os torcedores de Uper Side estavam.
Lá havia uma área livre, com alguns arbustos, árvores e era bem aberto. Porém é possível ver o muro que corre em volta, mais ao fundo, pra que nenhum aluno espertinho tente fugir. Era o lugar perfeito pra passar o tempo, até o jogo começar. Eu tava observando aquele lugar desde que nos posicionamos no nosso lado do campo.
Quando cheguei pude ver alguns garotos que percebi serem da minha escola. Ah, claro, os "rivais" dos jogadores de futebol, um grupo de skatistas e surfistas, que não eram arrogantes, mas também não são os melhores amigos dos atletas da escola. Me sentei encostada em uma das árvores, um pouco afastada de onde estavam. Nenhum deles me notou.
Quando encostei a cabeça na árvore pude sentir o ar tocar suavemente meu rosto, assim como sempre sentia. Era algum tipo de sensibilidade extrema que nenhum médico conseguiu determinar o que era. Nesse momento me distraí, fazendo o que qualquer pessoa diria como "brincando com o ar". Na verdade eu tava experimentando, assim como outras vezes, a sensação suave e gelada que sentia quando tocava a palma da minha mão. Meus dedos estava abertos e eu juro que consigo ver o ar passar por entre todos eles. Era algo inacreditável. Com certeza, se eu dissesse pra alguém, me chamariam de louca por isso. Mas aquilo me deixava tão relaxada que eu esquecia de tudo a minha volta, até mesmo dos rapazes que estavam a poucos metros de mim. Porém algo me fez voltar a realidade, na verdade alguém. Ouvi uma voz familiar me chamar e vinha de onde aqueles garotos estavam. Eu conhecia aquela voz, desde muito tempo, talvez poderia dizer desde sempre.
- Hey, Kay! - Dacre me chamou. Ele acenava pra mim. Olhei em sua direção. - Tá com fome? - Ele me perguntou, apontando para os vários lanches e bebidas que eles compraram na lanchonete da Uper.
- Não, Dacre, valeu. - respondi elevando minha voz, quase que no mesmo tom que ele usou, pra negar sua gentil oferta.
- Qual é, Kayra? Não tem ninguém aqui além dos caras, não precisa fingir que me odeia ou coisa do tipo. - Ele insistiu de braços abertos.
Aquilo meio que era verdade, perto de todos os outros eu evitava falar ou manter qualquer outro tipo de contato com o Dacre, se eu tentasse todos com quem eu andava me encheriam o saco, então meio que fui forçada a me afastar dele, pelo menos enquanto todos estivessem olhando. Dacre é meu amigo desde que comecei a escola, no jardim de infância, crescemos juntos, mas nossos gostos não se assemelhavam tanto, assim acabei indo para o grupo dos atletas e ele pro grupo dos que estão de boa com qualquer coisa.
É claro que eu não poderia recusar seu convite, deveria aproveitar o momento em que não havia ninguém do time comigo pra poder passar um tempo com alguém que me deixa ser do jeito que eu sou, que me faz sentir livre. Sorrindo, me levantei e caminhei até eles.
- A gente comprou muito refrigerante, mas como você é "fitness" vou deixar você ficar com meu suco de laranja. - Ele disse me dando a garrafa.
- Ah, valeu, Dacre. Eu tava morrendo de sede. - respondi tomando a garrafa da mão dele e tomei o suco como se mão houvesse amanhã. Dacre e seus amigos me deram olhares estranhos.
- Se tava com sede por que não foi comprar nada pra tomar?
- Eu só queria ficar sozinha um pouco. Não tava me sentindo muito bem e acho que uma multidão não ia me ajudar.
- Não tá bem? O que você tem? Quer ajuda pra ir até a enfermaria? Deve ter alguém lá. - Ele me perguntou preocupado. Apesar do jeito largado que ele costuma apresentar, que não se envolve, nem se importa muito com os outros, Dacre tem um grande coração e sempre que ele pode tenta ajudar os outros.
- Não, tudo bem, já tô melhor. - disse pra tranquilizá-lo.
- Eu espero que seja verdade. - ele murmurou, me olhando com o canto do olho enquanto bebia seu refrigerante favorito.
Eu sorri pra ele e me sentei ao seu lado, pois até então eu tava ajoelhada na grama macia daquela parte reservada da escola. Senti como se finalmente fosse ficar em paz e me distrair um pouco, mas não durou muito tempo. Ouvi a voz de Jaxon me chamado histericamente e a voz de Liz logo em seguida, chamando por ele, com um tom de quem não tava nada feliz com ele.
- Kayra, cadê você? - ele perguntou pela última vez quando apareceu na entrada de onde estávamos e olhou em minha direção.
Me levantei o mais rápido que pude e caminhei até ele, quando percebi que ele tava vindo até nós. Não queria que uma confusão entre os garotos começasse.
- Jaxon, deixa ela em paz. Dá um tempo pra ela. - Liz disse logo atrás dele.
- O que houve? - perguntei a ele.
- Por onde você esteve, garota? Te procurei por toda parte. - ele tinha um tom de voz um pouco elevado.
- Se você abaixar seu tom de voz a gente pode conversar. - eu disse sem expressar nenhuma emoção. E assim ele fez, até que percebeu que eu tava com Dacre e seus amigos.
- O que você tava fazendo com esses derrotados? - ele perguntou de maneira arrogante, apontando pra eles.
- Eles não são derrotados e eu... - comecei a falar e estava pronta pra defendê-los, cansada dessa birra ridícula entre eles, mas Jaxon não deixou que eu terminasse.
- Não importa. - ele me interrompe - Preciso de dinheiro. Os caras tão me enchendo o saco pra comprar alguma coisa, porque vão doar o dinheiro pra aquele orfanatozinho e eu não tô afim de gastar meu dinheiro com isso.
- Eu não acredito que você fez tudo isso pra pedir dinheiro pra ela. - Liz falou indignada.
- Fica na sua, que o assunto é com a MINHA namorada. - ele fez questão de entonar "minha" quando disse, virando o rosto pra ela.
- Faço das palavras da Liz minhas palavras. - eu disse mantendo o mesmo olhar que o dela.
- Qual é, Kayra? Para de enrolar. Me dá logo o dinheiro, só pros caras pararem de me encher.
- Eu não vou dar nada pra você. Gaste seu próprio dinheiro. Você não vai morrer por doar alguns trocados pra quem precisa mais dele do que você. - respondi.
- Óbvio que preciso do meu dinheiro. Não vou gastar com uns pirralhos catarrentos que vivem naquele buraco.
- Eu não acredito que tô ouvindo isso. - eu ri ao terminar de falar, colocando minhas mãos na cintura. Não era possível que algum ser humano em sã consciência pudesse dizer algo tão grosseiro e estúpido daquele jeito. - Quer saber? Eu vou embora. Não dá mais pra ficar no mesmo lugar com você depois disso. - eu disse e tentei passar por ele pra ir embora, mas Jaxon me impediu, segurando meu braço. - Me solta, Jaxon! Agora! - falei alto.
- Você não vai pra lugar nenhum. - ele disse me segurando ainda mais forte.
- Me solta. Você tá me machucando! - eu disse tentando fazer com que ele percebesse, mas não adiantou. Eu mexia meu braço o máximo que podia pra me soltar, mas ele tava me segurando muito forte mesmo.
- Jaxon, deixa de ser idiota, solta ela. - Liz veio até nós e tentou soltar a mão dele.
- Vai embora daqui, garota. Isso não é assunto seu. - Jaxon respondeu e tava prestes a empurrá-la, quando uma mão o deteve, segurando seu outro braço.
- Você não vai querer fazer isso, né, parceiro? - Dacre perguntou, segurando o braço de Jaxon com força.
- Cai fora daqui, surfista, se você não quiser se machucar.
- Se você não soltar a Kayra agora, o único que vai sair daqui machucado é você. - Dacre falou num tom tão sério, um tom que eu nunca o vi usar antes. Seu rosto não demonstrava expressão alguma em uma situação normal de confronto que eles tinham, mas agora ele tinha uma feição de raiva e repúdio por Jaxon, expressão que nunca imaginei que ele deixaria transparecer.
- Acha mesmo que consegue? - Jaxon o desafiou.
- Não, não acho. Eu tenho certeza. - Terminando de falar, Dacre empurrou Jaxon com força, que soltou meu braço e cambaleou um pouco, antes de partir pra cima dele. Alguns socos foram trocados. Jaxon tinha mais habilidade em jogar bola do que em brigar aparentemente.
- Parem com isso. - Tentei fazer com que parassem ao ficar entre eles, mas Jaxon me empurrou para o lado. Eu acabei torpedeando e caí.
- Kay! - Liz veio até mim e me ajudou a levantar.
Porém, no mesmo momento, Dacre parecia ter se distraído e acabou levando um chute de Jaxon, no abdômen, o que o fez cambalear, perdendo o equilíbrio. Ele praticamente caiu encima de mim. Não sei como, mas Liz teve forças pra continuar mantendo os três em pé.
- Vocês estão bem? - Dacre tomou seu equilíbrio de volta e se virou pra nós.
Liz acenou positivamente com a cabeça e eu respondi que sim. Então algo me surpreendeu e Dacre parecia ter tido a mesma reação. Pude ver que seus olhos, mesmo sendo azuis, brilhavam ainda mais da mesma cor. Brilhava como se uma luz azul tivesse saindo deles. Brilhava como os olhos dos garotos na lanchonete. Como isso era possível? Minha marca queimou ainda mais do que antes e, ou eu tava louca mesmo, ou eu pude sentir que também tava brilhando, assim como marca no pescoço do Dacre, que era um triângulo perfeito apontando pra baixo. Dacre se afastou um pouco, parecia assustado e surpreso, e olhava diretamente pra mim, só não entendia o por quê. E então a sensação de que eu tava prestes a desmaiar voltou e dessa vez não tinha como evitar. Senti que eu escorregava pelos braços de Liz e caí sobre a grama do chão. Tava tudo embaçado, não conseguia ouvir mais nada com coerência, tudo o que pude ouvir foi a voz de Liz chamar por mim e ao fundo, bem ao fundo, os amigos de Dacre chamarem por ele. Ele tava desmaiando também? Ou ele achou que isso foi culpa do Jaxon e partiu de novo pra cima dele? Eu iria ter que esperar mais por essas respostas, porque naquele momento, tudo o que pude perceber é que eu havia desmaiado.

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Esperamos que tenham gostado, logo postaremos a segunda parte.
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Esta foi a primeira parte do segundo capítulo, apresentando mais um de nossos personagens. Se gostou aguarde só um pouco que postaremos os próximos capítulos, que estão sendo elaborados.

Cada capítulo será dividido em partes. Abordaremos narrativas de primeira e terceira pessoa durante o decorrer da fanfiction.

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