𝐂𝐇𝐀𝐏𝐓𝐄𝐑 𝐄𝐈𝐆𝐇𝐓

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Ele então assentiu e seguimos em frente. Senti falta de uma lanterna após andarmos por longos minutos de tensão. Somente a luz da lua clareava o lugar, mas não era tanta coisa. Por isso, era desconfortável. Além do mais, em algum momento, algo nos assustou enquanto caminhávamos. Era algo mais parecido com galhos se quebrando.
     — Ouviu isso? — perguntou Henry, parecendo mais fascinado do que assustado. O que estava acontecendo, afinal? Seria o irmão dele? Harry estava brincando com os nossos medos? Eu estava há muito tempo com seu irmão, que parecia ser a pessoa que Harry mais odiava no mundo. Logo, o espírito que me assombrava não poderia estar muito contente àquela altura. — Venha... — Henry sussurrou e nos aproximamos de mais galhos quebrados, folhas e troncos soltos pelo chão. Depois do barulho assustador, não sobrou mais nenhum som por ali. — Mas o que é aquilo?... — murmurou ele para si mesmo, e se aproximou ainda mais, tirando algumas plantas do nosso caminho. Logo procurei o que quer que fosse com os olhos e vi o que eu não imaginava que poderia ser.
     — Ah, meu Deus...

Era um corpo caído. Henry então afastou mais folhas que atrapalhavam as nossas vistas e a visão ficou bem mais nítida.
     — Minha nossa... — exclamou e tentei não vomitar com o que vi. Não consegui enxergar o rosto da pessoa, mas parecia ser uma mulher. Ela estava com sangue por todas as partes e as suas roupas estavam rasgadas. Havia uma fissura na sua barriga e consegui ver alguns de seus órgãos para fora. Henry não parou de murmurar coisas e só então pareceu estar assustado. — Vou ligar para a polícia — ele falou e se afastou, indo para atrás de mim. Eu estava com as mãos na boca e perplexa com o que via.

Algo então me fez aproximar mais ainda do corpo, a fim de tentar identificar a mulher morta, e me arrependi tanto por aquilo..., porque a mulher caída no chão era a Nicole.
     — Henry — chamei por ele e passei a chorar de desespero —, é a Nicole! — Apontei o dedo e não consegui tirar os olhos dela.

Eu sabia quem tinha feito aquilo. Ele nos levou até ali porque sabia que Henry seria curioso o suficiente a ponto de irmos até o corpo que eu havia matado. Se eu fosse forte o suficiente, conseguiria ter controle sobre tudo, e ninguém sairia morto, mas não era o caso.  
     — Eles já estão vindo — ouvi Henry falando de longe e logo senti os seus braços à minha volta. — Fique calma... — pediu, e finalmente consegui desgrudar os olhos do corpo daquela mulher.

Depois de alguns minutos de angústia, ouvimos passos ao longe. Em seguida, vimos algumas luzes vindo em nossa direção. Eram os policiais, com lanternas e murmurando entre si.
     — Srta. Lee? — o homem pareceu surpreso ao me ver, e então percebi que era o investigador que visitou a minha casa naquele mesmo dia. Ao nosso lado, alguns policiais analisaram tudo ao redor e uma mulher com luvas checava o corpo de Nicole. — Está tudo bem com vocês? O que aconteceu?
     — Achei que tinha visto alguma coisa, então viemos até aqui e a encontramos — explicou Henry, meio atordoado... — Vamos precisar ir até a delegacia?
     — Na verdade, não. Foi bom que a encontraram, para que possamos investigar melhor tudo isso. Não é bom saber que corpos sumiram sem ao menos deixarem pistas. São vários fatores que fazem disso algo muito assustador — respondeu Hurt, e consegui perceber a decepção nítida em seu rosto. — Aliás, eu sugiro que vocês não andem por aí desprotegidos. Há alguém muito perigoso à solto e acreditamos que essa pessoa não está sozinha... — continuou, olhando para os lados como se procurasse alguma coisa. — Ele é realmente muito inteligente, mas não vou deixar ir tão longe — terminou e eu tentei não ficar mais temerosa.

Aquilo começava a ficar perigoso e eu já estava mais do que amedrontada. Harry queria fazer alguma coisa e estava precisando da minha ajuda, porém eu não sabia o que ele estava planejando. Pessoas continuariam morrendo e eu tinha medo de que o Dr. Hurt conseguisse descobrir quem estava fazendo tudo aquilo. Eu seria posta em prisão perpétua ou ele próprio também seria morto, assim como qualquer um que tentasse entender o que estava acontecendo.
     — Bem, estamos cansados e a Melissa está exausta. Podemos ir? — perguntou Henry, e então saí do meu devaneio. Eu estava precisando mesmo descansar.
     — Claro — respondeu o investigador, com um ar gentil. — Boa noite e tomem cuidado — assim se despediu de nós com um aperto de mão. Henry me puxou e seguimos novamente para a parte do cemitério que todos conheciam.
     — Você não deveria ter se encorajado tanto daquela maneira, algum... louco poderia estar lá — reclamei após alguns minutos caminhando, me referindo ao irmão dele. Henry, no entanto, se virou para mim e, mesmo depois de ter visto o que vimos, parecia bem calmo. 
     — Eu sei, e me desculpe. Fiquei curioso…, eu sei que vi alguma coisa passando, Melissa. Se você estivesse no mesmo ângulo de vista que eu, com certeza teria visto também.

Ele parecia preocupado com o que eu estava pensando, mas não entendi o porquê daquilo. Eu tinha acabado de ver o corpo da nossa ex-colega de trabalho com os órgãos postos à céu aberto e o importante para ele era que eu não achasse que ele estava vendo coisas?
     — Eu acredito em você — tentei confortá-lo, e fui sincera, então nos aproximamos mais do meu carro. — Só fiquei preocupada com tudo isso...
     — Eu sei como está se sentindo…, mas precisamos nos dar apoio agora, precisamos ficar juntos — ele falou, depois parou e tocou o meu rosto com o indicador. Senti um pequeno frio na barriga e lhe dei o melhor que eu podia de um sorriso. Ele tinha razão... mas era o certo? Henry não correria algum perigo se eu passasse a ficar tão próxima daquele jeito? — Você precisa descansar, Melissa, está cansada...

Eu estava com medo de ficar sozinha, era a verdade, porque eu sabia o que iria acontecer quando Henry fosse embora. No entanto, ele com certeza não era a melhor companhia naquele momento – não naquelas circunstâncias.
     — Tudo bem, vou descansar.
     — Até mais.

Ele se despediu com um beijo na minha testa e me deu um sorriso torto. Em seguida, deu meia-volta e caminhou em direção ao outro lado da rua. Fitei o carro ao meu lado e me encorajei a entrar no mesmo. Quando sentei no banco, não consegui sentir nenhuma energia fora do comum. Estava tudo muito quieto e... normal?

Franzi o cenho e me coloquei a conduzir. Já passava das oito da noite e eu não sabia o que havia de errado comigo. Eu estava pensando no Harry, no que ele poderia estar fazendo e no porquê de não ter aparecido em nenhum momento para mim enquanto estive dentro do cemitério. Onde ele estava? E o que estava fazendo? 

Entrei em casa sentindo receio e logo tranquei a porta. Encontrei Bruce na cozinha e com a geladeira aberta. De repente então, comecei a ouvir uma risada fraca, que depois aumentou até se tornar uma gargalhada. Percebi que quem estava rindo era ele mesmo, ainda de costas para mim, mas sabendo que eu estava ali na sala de estar, parada.
     — Você os vê também, não vê? — ouvi sua voz fraca, ainda acompanhada de risadas. Antes que eu percebesse, Bruce já tinha se virado para mim, os olhos vermelhos por conta do álcool. — Você sabe que eles estão aqui…, perto de nós — ele sussurrou a última frase, atropelando as palavras e com um pequeno sorriso.
     — Não sei do que está falando.
     — Ele quer você, Melissa, você deixou que ele se acomodasse aqui e agora está encrencada. É melhor ter cuidado... — Bruce me avisou, mas daquela vez estava sério.

E estava falando de quem?

Do Harry?

Do Diabo?

Não pensei que Harry estivesse falando sério quando disse que o meu pai o achava uma ameaça, achei apenas que ele estivesse me manipulando. E aquilo eu também não consegui entender, já que os dois eram maus para mim e o mínimo que deveriam ter era algum tipo de ligação. Bruce era uma pessoa ruim e havia vários espíritos dentro da nossa casa por conta de suas atitudes. Seu corpo emanava más energias, o que era péssimo. Harry, contudo, parecia não fazer parte daquilo. Bruce falava como se já o conhecesse, mas Harry não aparentava ser uma coisa boa para o meu pai.

Senti os meus pés me moverem e, quando me dei conta, já estava dentro do meu quarto, com a porta trancada. Fechei todas as luzes e olhei para os cantos. Eles estavam ali de novo, parados e me olhando. No entanto, o silêncio era enorme e o frio na barriga também.

A minha respiração acelerou e eu tentei evitar ao máximo o que estava prestes a fazer. Eles estavam se aproximando de mim aos poucos e parecia que iriam me levar para algum lugar.

Então eu precisava fazer aquilo.

Eu tinha que fazer aquilo.
     — Onde você está, Harry?... — sussurrei, sentindo uma vontade imensa de chorar. Ele estava irritado comigo, daquilo eu tinha certeza. Todos aqueles espíritos ruins estavam ali porque ele estava permitindo. Harry deveria estar ali junto com eles, mas só que ele não estava.

Chamei por ele mais uma vez, mas não consegui ouvir a minha própria voz. Eles estavam bem na minha frente e a última coisa que senti foi uma tontura e uma dor enorme na cabeça.

hope • hs | book 1 (CONCLUÍDO)Where stories live. Discover now