Capítulo 05- Tudo vai ficar bem

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— E o que você sabe sobre mim? — Digo abaixando a cabeça, é tão difícil. — Não irei chorar, não quero isso.

Ele sorri de maneira triste, como se esperasse essa resposta, e o balançar leve de seus cabelos por culpa da brisa, o faz parecer realmente um galanteador.

— Sabe, certa vez eu conheci uma garota como você. — Ele diz fitando o céu alaranjado e rosa em perfeito contraste, o sol está se pondo. — Ela era teimosa e tentava aguentar todos os problemas do mundo, carregando-os como se fossem seu fardo. Mas quando ficava perto de mim. — Ele sorri como se tivesse tendo mil memórias correndo por sua mente. — Ah... Ela desabava, e era lindo.

— Você é estranho, sabe disso? — Mudo o rumo da conversa.

— Todos somos. Aliás você não deve ser do tipo rebelde que sai de casa essa hora para ficar num lugar quase sem movimento e no mínimo muito suspeito com um garoto estranho. — Eu dou um sorriso e ele devolve um na mesma intensidade.

É como se a dor do meu peito estivesse passando, quando ele arrancou esse sorriso de mim até me esqueci que tinha problemas. Ele está numa jaqueta de couro, calças jeans e eu, estou usando um shorts e uma blusa moletom, no mínimo imunda. Mas não me sinto mais tão desconfortável perto dele, quem sabe nós realmente nos conhecemos antes, só que em outra vida.

— Eu sou do tipo que pediria seu número. Caso, estivesse tendo um bom dia, que não é o caso de hoje. Ou pelo menos te induziria a fazer isso. — Digo rindo

— Como se isso não fosse uma indução. — Ele me provoca com um sorriso. — Me passe o seu.

Nós ficamos muito tempo conversando, como se o tempo tivesse passado voando, e por muito desse tempo eu fui capaz de esquecer o sexo imundo do meu pai com sua amante que nem sei o nome.

Descobri que Mathew tem 19 anos e está no seu último ano escolar, odeia inverno e ama a primavera. — e se negou a me explicar o por que, o que é bem estranho já que o inverno possui milhões de qualidade, apesar de também não ser minha estação favorita, e concordo que a primavera tenha sua beleza. — que ele faz coisas incríveis com as mãos, tipo mágica, tudo fruto de uma coordenação motora bem trabalhada. — o que por sinal nunca terei —.

Nossa conversa é interrompida quando meu celular toca, quando o pego, bem, é um número desconhecido. Ele me olha como se me encorajasse a atender, e eu o faço, no momento em que escuto a pessoa do outro lado da linha, minha respiração tranca.

— Você pode ter um milhão de motivos para me odiar, para não querer voltar, mas, Serenity. Peguei seu número no celular de Jhon — A voz de uma mulher um pouco robótica pela transmissão e falhando em alguns pontos diz. — Quando sua mãe chegou eu ainda estava lá, por favor não desligue. Eu me arrumei o mais rápido possível quando ouvi ela gritando com seu pai, eles estavam numa discussão intensa quando ouvi algo se quebrando e logo depois ela implorando-lhe para parar. Desculpe não fui corajosa o suficiente para ajudar, acredito também que se o tivesse feito seria pior. Mas Serenity, estou preocupada.

Naquele momento é como se tudo que tivesse acontecido hoje, me desse um chute no estômago, a alegria momentânea que Mathew me proporcionou já se foste. E sinto minha garganta arranhar como se pudesse vomitar a qualquer momento, novamente meus olhos marejam e desesperadas linhas de lágrimas escorrem por minhas bochechas geladas, Mathew me olha em silêncio como se não quisesse se intrometer. Sem me despedir, sinto minhas pernas correndo o mais rápido que consigo, é automático. Desculpe por não dizer adeus Mathew.

As esquinas até minha casa nunca foram tão longas, dizer que estou ofegante ainda é pouco, com o coração a mil avisto finalmente minha casa, só mais alguns passos. Com as luzes acesas e porta semi aberta.

Ao entrar só tenho certeza de uma coisa, o silêncio é assustador.

Minhas pernas tremem e meu coração vacila, apoi nas paredes para ter ajuda para andar, ninguém no andar de baixo. Subo as escadas e não preciso de muito, após passa pela porta do quarto deles é possível ouvir um baixo gemido de dor.

— Mãe. — Digo indo o mais rápido possível ao seu encontro. Agacho-me de seu lado e percebo que ela está deitada sobre os cacos de vidro do porta retratos que quebrei mais cedo. Ela está soluçando de tanto chorar com uma mão apertando o canto da barriga — O que ele fez com você? — Digo com as lágrimas voltando a cair.

O quarto está uma zona, repleto de marcas que não deveriam estar aqui, papel de parede parcialmente rasgado, coisas quebradas. Completamente destruído.

— Já vou chamar uma ambulância, tá? Não dorme por favor mãe. — Digo apertando desesperadamente as teclas do celular, com a mão tremendo, vendo sangue escorrer pela blusa branca dela formando uma pequena ilha no chão.

A abraço o mais forte que posso, ela já havia fechado os olhos, eu digo que vai ficar tudo bem, que era para ela não desistir, pois eu não seria ninguém sem ela comigo. 

Serenity | #Wattys2016Onde as histórias ganham vida. Descobre agora