Capítulo 04- Lar doce lar

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Uma casa normal de dois andares, dois banheiros, uma sala e uma cozinha. Um jardim razoável, e nele um balanço de madeira que fiz meu pai pendurar quando menor, mas que de certo tempo parou de ser usado, acredito que qualquer coisa o quebraria fácil.

Reviro os bolsos com a mão a procura da chave, a mochila e depois de muito esforço a encontro em algum fundo. Ao entrar, tranco a porta e lembro novamente o quão libertador é poder andar apenas de roupas íntimas pela casa.

Subo as escadas, meu quarto é o terceiro do corredor, sendo o da frente o banheiro e o primeiro o quarto dos meus pais. O mais estranho é que ao passar pelo quarto deles ouço ruídos, e ambos só chegam de noite.

— Oh... Jhon — Diz uma voz feminina em meio de vários gemidos, e não é minha mãe.

A curiosidade me faz querer ficar ali, encosto minha cabeça na porta e além dos gemidos, é possível ouvir o bater da cama na parede. A parte cômica disso tudo é que minha mãe sabe, ela sabe que é chifrada por ele todas as vezes que possível, que de todas as vezes que ele bebe, a única coisa que se pode esperar dele é que ele parta seu coração, é um inútil alcóolatra e isso me revira o estômago.

Pego uma camisa relativamente grande para mim, qualquer uma serve. E então, suando frio e muito nervosa, minha atitude é a seguinte:

Sem pensar duas vezes e com muita coragem — da que não tenho — empurro a porta e imediatamente ambos olham para mim horrorizados, meu pai é pior. Estou em choque, não sei que reação deveria ter, e ao mesmo tempo a única coisa que eu sei é que estou com raiva, muita.

— Querida... — Ele diz pegando o lençol e colocando por cima do corpo, totalmente desastrado.

Mas não recuo, levo-me para frente e acabo pisando num sutiã vermelho nojento. Olhando em volta vejo que faz tempo que não entro no quarto, acho que pior do que trair, é trair com uma foto de família bem na sua cara. Uma que estava na cômoda, assistindo tudo.

— Você é uma desgraça Jhon. — Digo sorrindo, mas não de felicidade, talvez nervosismo. Pego o porta retratos e jogo no chão, e o barulho de vidros se partindo é inevitável. — Você destruiu tudo Jhon. — Jhon que traiu minha mãe, que nos deixou em pedaços... Esse não era mais meu pai.

E não faz diferença se eu pisei ou não nos cacos de vidros, mas eu sai, com as últimas forças que tenho tentando não chorar na frente de um ser tão desprezível, mas é inevitável, algumas lágrimas escorrem. Me tranco no meu quarto e logo se é possível escutar batidas frenéticas na madeira.

— Querida, por favor, me escute. Desculpe-me princesa, papai te ama. Serenity. — Minha vontade é manda-lo calar a boca, dizer que sinto aversão a ele. Mas permaneço em silêncio, trocando de roupa, e colocando todo dinheiro do cofre em minha bolsa, que aliás não é muito.

Há um galho de árvore bem na frente da minha janela, não será a primeira e provavelmente não será a última que meu amiguinho aqui irá me ajudar. Desço por ele e a última coisa que escuto é "Não faça isso comigo Serenity, me perdoa". Ele só pode estar fazendo uma piada de mal gosto com a minha cara.

Corro para meu refúgio, uma praça quieta que quase ninguém mais vai, em meio a muitas árvores, com um ar misterioso que me agrada. Mas quando chego vejo um garoto ali, loiro de costas.

Não posso desabar de tanto chorar e isso me frustra, agora não tenho mais para onde ir, não tenho nada.

— Não me importo de te ver chorar, Serenity. — Diz a voz que reconheci como sendo de Mathew.


Serenity | #Wattys2016Where stories live. Discover now