capítulo 22

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Sophia

Durante todo o trajeto pra casa da Beta, ficamos em silêncio. Estou muito preocupada com o que pode ter acontecido com ela. Deus permita que não seja nada grave.

Arthur insistiu em me trazer. Disse que não deixaria que eu viesse sozinha a essa hora. Estou com vergonha por ter deixado ele no vácuo, mas Beta está precisando de mim, e não posso deixar de ajudá-la, afinal, eu sei que faria o mesmo por mim caso eu precisasse.

Chegamos em seu apartamento, e eu saio do carro com pressa.

-Eu te espero aqui. - ele diz, antes de eu sair.

Subo rapidamente, e a porta não está trancada quando entro. Beta está sentada no sofá da sala, com os pés encima do mesmo. Os joelhos dobrados e uma xícara de chá nas mãos. Seus olhos  vermelhos, e a maquiagem borrada me mostram que ela estava realmente chorando. Ainda veste a roupa que saiu, e seus cabelos castanhos estão um pouco desarrumados.
Ela olha pra mim, e dá um sorriso fraco.

-Obrigada por vir, espero que não tenha atrapalhado nada. - ela diz. Bem, ela atrapalhou, mas eu não diria isso a ela.

- Não, imagina. Agora me conte, o que aconteceu? Por que está assim? - ela bate ao seu lado do sofá, e eu me sento. Ponho meu braço em seus ombros, e ela deita sua cabeça no meu ombro.

-Eu não presto Soph. Isso que aconteceu. Eu não sirvo pra nenhum homem. - já via seus olhos enchendo de lágrimas novamente.

-Mas o que está dizendo, Beta? Você é linda e muito simpática. Qualquer homem daria muito por você. - digo.

-Não Soph, você não sabe. Eu não sirvo pra ninguém. Sou uma indecente, imoral. Todos que sabem disso, se afastam de mim. Até você vai se afastar quando souber. - ela soluçava em um choro que me dá vontade de chorar também.

-Não vou me afastar de você Beta, fique calma... - eu lembro de Rodrigo, com certeza ele fez algo pra ela. Eu mato esse imbecil ! - Foi Rodrigo, Beta ? O que ele fez pra você? -

-Não é culpa dele. Nem dele, nem de nenhum homem. Quem iria querer ficar com uma... Mulher como eu ?- falava, e chorava. Suas palavras não tinham nenhum sentido pra mim. Ela é linda, divertida, e muito legal. Qualquer homem gostaria de sair, conhecê-la...

-Como assim como você? - quero entender o que está acontecendo pra poder  ajudá-la.
Ela se senta, e eu a encaro.
Respira fundo, e deixa os ombros caírem.

-Me prometa que não vai me julgar, nem tirar conclusões antes que eu te explique tudo. - ele falava pausadamente.

-Prometo. - ela limpa as lágrimas com as mãos, e se prepara pra começar a falar.

-Eu menti pra você. -Meu coração já começa acelerar logo daí. Tento me acalmar. -Menti sobre meus pais. Eles não moram no interior da cidade, ou em qualquer lugar. Eles estão mortos.- oh céus.  - Morreram faz cinco anos em um acidente de carro. Eu estava perdida Sophia. Estava sem saber o que fazer, ou aonde ir. Tive que vender a casa e o carro pra pagar dívidas que nem sabia que existia. Fiquei sem dinheiro, sem casa, sem ninguém. - ela começa a soluçar de novo, e lágrimas escorrem de meus olhos. Seguro suas mãos, demonstrando todo carinho e sentimento que tenho. Continua:

"Quando me vi sem saída, conheci uma mulher que disse que tinha uma solução pro meu problema. Me deu abrigo, e eu ingênua , acreditei que ela era uma boa moça caridosa que estava com pena de mim. Mas não Sophia, ela não era.
Depois de quase um mês em sua casa, ela se revelou. Me obrigou a me... A me prostituir. " não consigo deter minha surpresa. Prostituição? Beta era prostituta?

"Tive que fazer isso pra pagar pelas despesas que ela teve comigo. Passei um bom tempo fazendo isso. Tentei fugir várias vezes, e até pedir ajuda, mas ela sempre me pegava e ameaçava de todas as formas. Eu era muito nova, e tinha muito medo. Até que um dia eu consegui. Consegui fugir com algum dinheiro que escondia dos programas, e com a ajuda de Guilherme. "

-Aquele cara que é segurança da boate que fomos aquele dia?- pergunto, lembrando-me dele.

-sim. - assente.

"Ralei muito pra chegar até aqui. Trabalhei em várias lanchonetes e fui garçonete em vários lugares até conseguir trabalhar na empresa, e enfim comprar esse apartamento, e comprar meu golzinho de segunda mão. "

"Hoje, quando saí com Rodrigo, um dos homens com quem fiz um programa, me viu e perguntou na frente do Rodrigo, o quanto eu queria pra que fizéssemos um trio. Rodrigo ficou muito puto, e me chamou de coisas que você nem pode imaginar, na frente de todos. Saí correndo de lá. "

Estou estarrecida. É muita coisa pra minha cabeça. Eu nunca faria uma coisa dessas, mas não a julgo. Ela não tinha saída.
Rodrigo é um maldito filho da puta! Nem a deixou explicar nada. Se eu o vir algum dia, eu juro que... Nem sei!

-Soph, fale alguma coisa, por favor.- ela queria saber o que estou pensando a respeito.

-Beta, eu sei que esse "Trabalho" não é nem um pouco digno, mas você não queria. Foi obrigada a isso, então você não tem culpa. Conseguiu fugir, e está aqui trabalhando e vivendo a vida honestamente. Tem que seguir em frente  esquecer disso tudo. Sei que é difícil, mas o homem certo pra você, vai entender pelo que você passou. Rodrigo é um ridículo que não te merece.-

-Tenho medo de esse homem não chegar Soph. Tenho medo de ficar sozinha pra sempre, por conta de meu passado. Eu só queria esquecer tudo, e seguir em frente. Mas é difícil, muito difícil. - a abraço e ficamos ali por um tempo. Ela precisa de colo e carinho.

-Posso dormir aqui com você? - pergunto.
Ela me olha com uma mescla de carinho e felicidade.

-eu adoraria ! - lembro que Arthur ainda está lá fora me esperando.

-Tenho que ir lá fora, Arthur veio me deixar e ainda está me esperando lá fora. - ela dá um sorrisinho.

-humm... Eu quero saber de tudo. -

-Amanhã eu conto tudo. Vai preparando a cama. -

~Ω~

-Aconteceu alguma coisa grave? - Arthur pergunta, genuinamente preocupado.

-Bem, mais ou menos. Mas nada que não seja resolvido. Hoje vou dormir aqui. Sinto muito por não podermos continuar...- ele sorri.

-Não tem problema, meu anjo. Temos muito tempo amanhã, e depois, e depois... - o calo com um beijo. Arthur é tão lindo, que as vezes não acredito que está comigo.

-Até, morenaço. -

-Até, meu anjo. -

~Ω~

-Soph, muito obrigada por estar aqui. Não sei o que faria se você não existisse. -
Estávamos deitadas na cama de Beta, a luz apagada e eu já estava pegando no sono.

-Eu também não sei.- digo, e ouço seu risinho. Bom, pelo menos a fiz sorrir.

-Boa noite Amiga. -

-Boa. -

Caio em devaneios sobre o dia de hoje.
Hoje me mudei.
Hoje quase perdi minha virgindade.
Hoje soube que meu amor tem uma filha.
Hoje soube que minha melhor amiga foi forçada a ser uma prostituta...

Ah! Eu mereço um bom descanso.

***

(Me  perdoem pelo capítulo curto.)

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Bj da Ray 😘❤

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