A decisão de Miriam

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― Desculpe-me o atrevimento por minhas palavras, mas não estou com cabeça para brincadeiras, Dante. ― Ela virou-se com os olhos sombrios e um tanto indignada. ― Falo sério quando digo que deverei partir.

Ele engoliu em seco, sua respiração estava acelerada e hesitou antes de falar.

― Eu também estou a falar a sério, Miriam ― afirmou sem pestanejar, aproximou-se com cuidado, e quando ela finalmente percebeu que o que falava era real, ficou atordoada e baixou os olhos inquietos. Negou com a cabeça.

― Isso... é um absurdo ― disse, a voz muda e o coração a bater sem parar. ― Terá noção do que me diz?

― Trata-se de uma criança, da vida dela. E essa criança é o meu sobrinho, filho do meu irmão. Acha mesmo que é um absurdo? ― Questionou e com as duas mãos segurou o rosto de Miriam para que olhasse para si. ― Eu darei o meu nome a essa criança.

― Eu amo seu irmão, como acha que ele iria reagir a tal coisa. E os seus filhos, os seus amigos e a Lady Straton. Tem consciência do que isso iria causar? Não é certo. ― Miriam olhava para todos os lados menos para Dante, só de imaginar seu corpo estremecia.

― Eu também amo o meu irmão, faço isto por ele. Tento preservá-la a si, ao filho que espera e confio conseguir isso estando ao meu lado. Mais tarde, quando conseguirmos livrar Callum, então lhe contaremos toda verdade. ― Tentou, mas a babá afastou-se com um riso frio e forçado. Passou as mãos pela cara e soltou um longo suspiro.

― Nunca deveria ter-lhe contado isto. Não está a pensar direito. Posso muito bem viver aqui e ter este filho, prometo que não vou a lado algum.

― E passamos a impressão de eu não ser um homem honroso ou que não assumo com os meus feitos? O que pensa que irão falar, que eu a engravidei e não assumi. Porque de Callum ninguém sequer suspeitará.

― Pois deixe que falem, nós sabemos a verdade. E ninguém se importará, não passo de uma criada.

― Está errada, Miriam. E eu tenho numa educação a dar aos meus filhos. Mas pare para pensar nessa criança, no que ela vai passar. Acha certo colocar alguém no mundo para sofrer, para ser humilhado e mal tratado? Deseja que o seu filho tenha a mesma vida que teve, sem lar ou no que se inspirar. Viu como Callum cresceu desorientado apenas por pertencer a uma mãe diferente, agora imagine uma criança sem pai, sem família, sem raízes e sem origens.

― Sempre poderei dizer que o pai... morreu.

― E pretende privá-la de ter um pai quando teve outra solução. ― Dante arqueou o sobrolho. ― Nem parece algo vindo de si.

― E a sua vida? Vai se prender a mim, e sabe muito bem as consequências que isso terá. Deveria se casar novamente e ter uma mulher de verdade ao seu lado. Alguém a quem possa amar e ser a mãe de seus filhos. Já parou para pensar na sua vida como meu suposto marido? Isso é inconsequente, não posso aceitar. ― Miriam tinha os olhos muito abertos e saiu a andar até a janela. Lá fora chovia sem parar e o cheiro de terra molhada impregnava pelo ar.

― Eu vivi todos estes anos, viúvo e sozinho, sei muito bem como me organizar quanto a... certos assuntos. ― Tossicou e suas faces coraram de vergonha. ― Sei muito bem que consequências futuras.

― O Callum nos irá odiar ― murmurou, uma bola formou-se em sua garganta e sentiu seus olhos encherem-se de lágrimas. Dante colocou uma mão no seu ombro e ficou a observar a chuva atrás de si.

― Espero que ele perceba que o faremos porque algo se passa, e que seja coerente o suficiente para não cometer nenhum erro ― disse e cerrou os maxilares. ― Ele certa vez me contou que o relógio que me ofereceu para pagar o dote de Sara foi sua avó que tinha dado e que lhe era importante. Não espere sempre fazer as coisas pelos outros, Miriam. Neste momento eu estendo a minha mão para si. A Miriam é a amiga dos meus filhos, amada pelo meu irmão e será muito bem-vinda nesta família apesar das circunstâncias irregulares. Tenho a certeza que será desejada.

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