O problema de Sara

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Dante acabava de chegar de um encontro com a Lady Straton, obviamente sugerido por Madame Bouvet. Tinham ido assistir a uma ópera no teatro municipal e aproveitaram para trocar algumas impressões de cortesia. Apesar de Madame Bouvet fazer questão e ter-lhe enviado várias cartas nas últimas semanas, ele ainda não se sentia preparado para aceitá-la como uma possível companheira. Da primeira vez se tinha casado por amor e não esperava que fosse diferente numa segunda vez. Quando precisava de aliviar as suas necessidades como homem, então procurava uma mulher da Casa La Bomboniera. A proprietária providenciava jogos e mulheres para todos os homens que quisessem relaxar.

Entrou na sua casa meio indisposto, mas o jardim onde Miriam e os seus filhos tinham passado as semanas a arranjar encontrava-se bonito, e em breve ia começar a florir. Respirou fundo antes de fechar a porta, tirou o chapéu e pendurou-o na parede junto com o longo casaco.

― Papá, papá! ― Chamou Ditch a descer às escadas apressado, abraçou-o entre as pernas a ofegar sem parar.

― O que se passa? ― Perguntou de sobrolho arqueado. De um momento para o outro seu coração acelerou ao encontrar a preocupação nos olhos do filho.

― A Sara, ela não se encontra bem. ― Disse puxando-o pelo braço, mas o pai passou pela frente visivelmente aflito. Subiram as escadas com rapidez saltando os degraus dois à dois, e logo ao atingir o patamar, Dante entrou para o quarto da filha. Miriam estava perto da janela com os braços cruzados, e Sara estava sentada na beira de uma cama de tamanho médio, chorava baixo. O doutor Gilbert arrumava os seus pertences dentro de uma pequena mala de couro velha.

― O que se passa? ― A aflição na face do patriarca estava em evidência notável, andou até Sara e abraçou-a num conforto. Ditch e Gabriel estavam escondidos por detrás da porta. ― Boas, doutor.

O médico de família era um homem robusto, com alguns fios brancos escassos na cabeça. Os óculos sem aros estavam na ponta do nariz longo. Virou-se para Dante, tinha um ar apreensivo. Miriam deitou um olhar para os gémeos, repreensivo, e ambos correram para se fechar no quarto ao lado.

― A sua filha está de esperanças e pela última vez em que viu as suas regras, passam quase cinco meses ― disse o doutor Gilbert num tom desapontado. Tinha cuidado das crianças dos Morgan por duas gerações e era a primeira vez que via algo do género. Por sua vez Dante tinha os olhos abertos, afastou-se de Sara sem acreditar. Não parou de pestanejar uma vez que fosse e conduziu a vista para a barriga proeminente.

― C...como? Isso é impossível... a Sara é uma criança, só tem quinze anos e... ― Dante não encontrava palavras para completar os pensamentos, queria negar o que seus olhos viam. Passou a mão pelos cabelos.

― A Sara completa dezasseis em breve, mais do que a altura certa para começar a ser cortejada. ― O doutor Gilbert tentou amenizar, mas não serviu. Dante levantou-se sem acreditar e deitou um olhar de desapontamento para sua filha. ― Ela abusava do corpete para apertar a barriga, o que poderia ter-lhe causado problemas graves, se não tivesse passado mal e me chamado, algo pior aconteceria a sua filha. Não compreendo como a sua criada não prestou devida atenção!

Miriam arregalou os olhos e sentiu suas faces arderem.

― Eu não podia! Eu não teria como saber... Eu nunca... ― Não completou a frase sentindo-se envergonhada. Baixou os olhos sem saber o que dizer e só então reparou na silhueta de Callum totalmente escandalizado parado na porta.

― Diz-me um nome! ― Gritou dirigindo-se até sua sobrinha. ― O NOME, SARA!

A adolescente desatou a chorar sem parar e cobriu a face com as mãos. Dante ainda estava em transe e virou-se para o irmão.

Xadrez, à Preto e BrancoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora