A decisão de Callum

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   Callum aguardava impaciente na pequena sala de espera, seu pé não parava de bater contra o soalho de madeira e alguns trabalhadores tanto quanto clientes olhavam-no de esguelha pelo barulho que estava a fazer. Parecia inquieto e olhava para o relógio a cada segundo passado.

Dante surgiu por uma das portas de madeira e suspirou ao ver o irmão.

— Boas! — Saudou firme, estava cansado, pois não tinha dormido a noite inteira. — O que te traz aqui? Pensei que fosses estar a dormir depois da noite perigosa que enfrentaram ontem.

— Preciso lhe falar meu irmão — disse a levantar-se num pulo, o rosto estava corado e os olhos inquietos. Agarrou o mais velho com força pelos braços. Dante coçou a vista cansada e respirou fundo, olhou para o relógio de ferro pendurado na parede velha, marcava nove horas da manhã.

— O que será tão urgente que não poderá esperar até que eu chegue à casa? Se não é de sua compreensão meu caro, estou no horário de trabalho — resmungou Dante com ar sério, mas achava estranho que o seu irmão mais novo lhe procurasse no trabalho, alguma coisa haveria de ser, só não sabia o quê.

— Não é de todo urgente, mas é importante — murmurou Callum com os olhos fixos nele e soltou os seus braços devagar. Passou a mão pelos cabelos. — Para mim é importante.

— Está bem — concordou Dante por fim. — Disponho de quinze minutos, vamos tomar um café. — Afastou-se para trajar o casaco e falou com o seu colega a avisar que ia sair por alguns minutos. Usou o chapéu e chamou o irmão com o olhar. Os dois deixaram o jornal e encontraram as ruas molhadas e frescas da cidade. Coches atiravam água para os lados e todos andavam munidos de guarda-chuvas, uma vez que o tempo era traiçoeiro. Também era possível ver algumas árvores caídas ou inclinadas devido a tempestade. Eles caminharam em silêncio, embora Dante olhasse para o irmão de esguelha a fim de tentar decifrar o que poderia ser tão importante.

Dirigiram-se para o café do pequeno hotel residencial e sentaram-se em uma das mesas redondas. O lugar não estava muito cheio e tinha a vista para a rua principal.

— Dois cafés — Dante pediu ao servente bem vestido com terno e colarinho, que se aproximou da mesa deles.

— Com um cheiro de uísque para o senhor? — Perguntou o servente dirigindo-se a Callum, já o conhecia muito bem. Mas este por sua vez corou ligeiramente e negou com a cabeça.

— Não, obrigado — respondeu sem hesitar e viu Dante arquear o sobrolho admirado. Esperaram o servente se afastar, e voltaram a mergulhar num silêncio absoluto até trazerem os cafés para mesa. Estava fumegante e Callum fez cara feia ao sentir o paladar natural sem nenhuma gota de álcool dentro. Fazia muito tempo que não o bebia assim.

— O que lhe preocupa? — Perguntou Dante indo direto ao ponto, uniu as mãos e o encarou. Viu Callum desviar os olhos para um ponto nenhum, mas apenas não lhe queria enfrentar quando começasse a falar. Corou ainda mais antes de abrir a boca.

— Dante... — iniciou e coçou o cabelo devagar. — Lembras certa vez quando me disse que quando eu compreendesse sobre o amor, veria que estar com quem se ama é muito melhor do que passar mais uma noite com alguém?

— Perfeitamente, estarás apaixonado?

— Apavorado.

Dante riu baixo já a perceber o que se estava a passar na mente do irmão, acenou afirmativamente e levou a xícara aos lábios num movimento lento.

— Poderia saber quem é a azarada? — Questionou e bebeu um gole.

— A Miriam! — Respondeu Callum com as duas mãos a segurar a xícara, mas sem dar nem um gole sequer. Estava trémulo e ligeiramente assustado.

Xadrez, à Preto e BrancoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora