Capítulo 27

531 118 26
                                    


    Após a morte de Ricardo, foi com grande surpresa que ao voltar para casa, J ouviu de sua esposa, que estavam esperando um filho, sabendo ele que não podia ter filhos, ela com certeza o teria traído ou feito algum tipo de inseminação artificial, ambos seriam contra as leis de Deus, por isso, havia decidido matá-la, mas antes, precisava saber o que ela esperava. Aguardava com ansiedade a hora correta de se fazer um ultrassom e assim que ouvisse a palavra "menino", partiria com Tereza imediatamente para o quarto dos brinquedos, a manteria ali por mais alguns meses e após fazer o parto... Chegou a salivar, enquanto se imaginava segurando o pequeno demônio pelos pés, enquanto batia sua cabeça de encontro à parede.

— Senhor? Senhor! Está se sentindo mal?

A enfermeira perguntava a J, que demorou um pouco a voltar ao seu estado de consciência, mas assim que se lembrou que estava no hospital com Tereza, esperando pelo ultrassom, perguntou com desespero:

— É um menino?

— Senhor! Vou chamar o médico para que o atenda, não ouviu ou não digeriu o que acabei de explicar, sua esposa não está grávida, nunca esteve, todos os sintomas apresentados até agora, são resultados de uma gravidez psicológica, muito comum em quem anseia pela chegada de um filho.

J não disse mais nada, então Tereza não o havia traído, isso era bom, mas havia perdido seis meses esperando uma gravidez que não existia, ele tinha pressa em terminar sua missão, saiu do hospital às cegas, sem nem ao menos esperar pela esposa, apenas desapareceu pelos corredores até ganhar a rua, estava de volta à ativa! Tereza mal podia acreditar, que J havia desaparecido sem ao menos falar com ela, pensou o quanto ele estava decepcionado por não terem tido um filho, se sentiu incapaz e deprimida, resolveu não procurar por ele, com certeza ele estava se sentindo tão miserável quanto ela, por não poderem aumentar a família. Ligou para sua mãe vir buscá-la com Clarinha, ficaria em casa esperando por J, ele voltaria assim que se sentisse melhor, deveria ter ido a alguma igreja, para pedir ao Senhor que lhes desse um menino, assim como ela faria quando que se recuperasse.

Estava a caminho da Cracolândia, não tinha tempo de escolher algum menino de seu agrado, esperara tempo demais com a gravidez inventada de Tereza, precisava de um garoto para hoje! O Elevado Presidente Costa e Silva, também conhecido simplesmente como Elevado ou Minhocão, nome extremamente sugestivo para a mente doentia de J, possibilitou a vista de sua presa antes mesmo de parar o veículo, era um garoto de aproximadamente uns dez anos, tinha uma calça de moletom cinza já bem surrada, uma camiseta branca bem larga e um boné virado para trás. Enquanto tomava conta dos carros, o garoto fez sinal para que J se adiantasse, sinalizando uma vaga, apontou para o local e sorriu, fazendo o sinal de positivo para ele.

J abaixou o vidro e ficou olhando o garoto, que agora se aproximava de um carro que estava saindo, colocou alguns trocados no bolso e acenou em despedida para o motorista, estava de chinelo e tinha os pés bem sujos, provavelmente conseguiu o calçado recentemente, podia imaginar aqueles pés andando pelo asfalto nu.

— Garoto! – fez sinal com a mão e assim que ele se aproximou, lhe mostrou uma nota de cem — Quer ganhar uma grana extra?

O garoto o olhava de maneira desconfiada.

— Não mexo com drogas, não, tio!

J sorriu, não era adorável? Além de um rosto delicado, olhos verdes que pareciam duas esmeraldas, tinha uma voz suave, doce, poderia ser sua Lolita! J então sacou seu revólver, dizendo:

— Entra no carro e levanta o banco, agora, entra aí!

Ele não podia se arriscar colocando o garoto no porta-malas, afinal, ali era um ponto de movimento, mas dentro do carro, seria menos óbvio alguém vê-lo desaparecer. Mal podia esperar até chegarem em casa, em especial, no quarto dos brinquedos, nunca antes teve um menino com olhos verdes, assim como os seus, assim como os de sua irmã Penélope, chegou a desejar que ela tivesse sobrevivido aquele dia fatídico, hoje ela seria de grande ajuda, poderiam juntos expiar os pecados do mundo juntos, com ela, sua missão seria concluída ainda mais rápido.

Colecionador de Almas  ( Físico esgotado pela 2º vez!)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora