Infância Alternativa

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                                  Infância Alternativa (18 de maio, 1988 às 4:00 da manhã)



Apenas o ruído da porcelana sendo guardada podia ser ouvido, os criados acordaram cedo para terminar a arrumação dos armários, Carlos andava de um lado para o outro impaciente, sobre o tapete persa. A sala era imensa, tendo um enorme lustre a iluminar seus passos impacientes, sua bela esposa, apesar das dores, sorria graciosamente sentada no sofá, extremamente confortável.

— Acalme-se amor, ele já vai chegar.

Haviam se mudado exatamente no dia anterior para a nova e belíssima casa, localizada em Alphaville. O médico garantira que o bebê não nasceria antes do próximo dia vinte, no entanto, fora acordado vinte minutos atrás por sua esposa, que sentia as contrações. Era seu segundo filho, a pequena e graciosa Penélope exibia seus lindos cachinhos negros pela sala, ela também acordara ansiosa esperando pelo seu irmão. Carlos, dono de uma das mais famosas multinacionais de São Paulo, embora passasse a maior parte do tempo trabalhando e mal tinha tempo para a família, fazia questão de estar presente em momentos decisivos como aquele.

Aguardavam pelo motorista que havia recebido folga e tivera que ser acordado às pressas. Geralmente, o bondoso senhor tinha um quarto na mansão, mas como eles haviam acabado de se mudar, deixaram que ele tirasse um dia de folga.

— Coitado do Antônio, Carlos, acordá-lo assim, à essa hora!

Carlos sentou ao lado da esposa, beijando carinhosamente sua testa. Não disse nada, por mais que tentasse e de certa forma fosse um executivo frio e imponente, estava nervoso demais para se arriscar dirigindo, colocando em risco a vida da adorada esposa e da pequena Penélope, que já pulava em seu colo, tocando a barriga da mãe e depois encostando a orelha.

— Ele disse que quer sair já, mamãe...

— Ele chegou – avisou a governanta, ainda em seus trajes de dormir.

Carlos ajudou sua esposa a se levantar, pegou sua bolsa e a pequena Penélope no colo e se dirigiram para a saída, onde o motorista já os esperava.

Carlos e Talita se conheceram em uma festa, embora as famílias fossem amigas e igualmente ricas, Carlos fora enviado para estudar fora do país, e em uma das muitas festas que os pais de Talita ofereciam em sua casa, ele já de volta ao Brasil, teve certeza que não voltaria a deixar o país. Embora fosse a intenção de ambas famílias unirem seus negócios e fortuna, o casamento dos dois não fora um investimento, Carlos realmente amava Talita, a pequena Penélope e o menino que estava prestes a nascer.

O parto não foi demorado, cerca de uma hora após, chegaram ao hospital, o bebê exibia seus pulmões, chorando fortemente. Um bebê muito saudável, com quatro quilos e duzentos gramas, foi trazido ao quarto para a mãe e para o pai, que já esperava ao lado da esposa muito emocionado. Carlos segurou com cuidado o pequeno e olhando seus lindos olhos, sorriu feliz, o apoiou na cama para que Talita conseguisse tocá-lo enquanto a pequena Penélope cuidadosamente acariciava a face pequena.

— Carlos, nosso filho é lindo!

— Lindo, como você – Carlos respondeu, fazendo esforço para não derrubar nenhuma lágrima.

Passou a mão levemente por sua cabeça dizendo:

— Ele se chamará J!

O pequeno J crescera em um ambiente repleto de amor e doçura, embora raramente visse seu pai. Sua mãe, a pequena Penélope e até mesmo os criados o adoravam. Seus primeiros passos foram em direção à sua avó paterna, que não cansava de contar a todos que ela foi a primeira que ele escolheu para arriscar o primeiro caminho percorrido. Assim como Penélope, J teve aulas de canto, música, inglês, francês e espanhol, estudou nos melhores colégios e teve tudo que o dinheiro pudesse comprar. Desenvolveu verdadeira adoração pela irmã, que o tratava como se fosse seu filho, com tamanha dedicação, cuidado e carinho. Estava crescendo um pouco solitário, segundo os relatórios da escola, preferia a presença das meninas ao invés dos meninos, o que naquela idade não era comum, era natural haver uma certa concorrência entre os sexos, mas ele era bem-disposto, possuía excelente saúde e era muito inteligente, aos cinco anos, já dizia que gostaria de ser cientista, onde inventaria robôs parecidos com os humanos.

Colecionador de Almas  ( Físico esgotado pela 2º vez!)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora