Capítulo 23

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    Andrade parou seu carro particular às 22 horas de uma segunda feira em frente à casa de Paulo, desceu e tocou a campainha, não demorou muito e um Paulo muito abatido, com os olhos extremamente vermelhos saiu com um lenço nas mãos ainda enxugando os olhos, abriu o portão sem falar nada e voltou para dentro, Andrade fechou o portão atrás de si e seguiu Paulo em silêncio, o encontrou sentado na cadeira da mesa da cozinha com o olhar perdido e cansado.

— Eu sinto muito pela Natália, Paulo.

Paulo não disse nada, continuava em silêncio, olhando o infinito, depois, lágrimas mais grossas retornaram com toda força e ele começou a dar socos na mesa, a fazendo tremer.

Andrade colocou a mão em seu ombro, tentando acalmá-lo, mas ele parecia tomado pela fúria.

— Foi minha culpa! Eu não deveria tê-la deixado sozinha! Eu deveria estar morto, não ela!

Andrade esperou que Paulo se acalmasse, tirou um frasco de whisky do paletó e esperou que ele o bebesse inteiro, eles precisavam conversar e precisava da ajuda de Paulo.

— Onde você estava, Paulo?

— Viajando.

— Eu sei que esteve viajando, mas para onde e fazendo o quê?

— Investigando e pare de me aborrecer, respeite minha dor!

— Paulo, eu não sou o Farias, eu quero escutar tudo o que tem a dizer sobre esse assassino.

— Não seja hipócrita, você só quer me escutar porque sabe que sou o único que o conhece, já associaram ele aos meninos e sabem que sou o único a poder fazer o retrato falado.

— Você está errado, a filha de Natália já tem idade suficiente para fazer, eu poderia apenas te prender, por não colaborar com a polícia e dizer que está ocultando provas.

Paulo deu um sorriso fraco e continuou, embora com raiva, sabia que a culpa não era do ex colega de trabalho, mas sim a hipocrisia da Lei brasileira.

— Você não vai fazer isso, os "gênios" chegaram à conclusão de quem é o assassino, mas não sabem o porquê e nem quantas vítimas mais ele fará, e muito menos, sabem como encontrá-lo.

— E você sabe? Andrade tirou uma caderneta do bolso, mas ao ver que Paulo não falaria nada, voltou a guardá-la e decidiu por uma conversa mais amistosa.

— O único motivo de não ter sido exonerado ainda, é que disse ao delegado que você não estava equilibrado e o convenceria a fazer um tratamento psicológico, eu te conto tudo o que sei e você me conta tudo o que sabe, o que me diz?

— Escuta bem, Andrade, eu não vou deixar você me manipular, nós dois queremos encontrar esse desgraçado, mas temos motivos diferentes.

— O que quer dizer com motivos diferentes?

— Você quer encontrá-lo para prendê-lo, mas eu, vou encontrá-lo e matá-lo.

Paulo levantou uma mão para silenciar Andrade, que começara uma frase.

— Poupe meu tempo, não existe lei nesse país de merda, que irá fazer com que ele pague, se pegar vinte anos, se pegar!

Andrade passou a mão pelo rosto, Paulo estava certo, a lei era falha, por mais crimes que ele tivesse cometido, nunca sofreria as consequências, teria direito a uma cela privada, por segurança recomendada pelo Recursos Humanos, teria uma televisão, todas as regalias de uma pessoa com curso superior e se tivesse um bom comportamento, se trabalhasse durante sua pena, logo estaria na rua.

Colecionador de Almas  ( Físico esgotado pela 2º vez!)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora