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Sexta feira, 07 de Agosto de 2015, 19:30

Sentia os fios de suor brotarem em seu colo, enquanto corria pra se arrumar.
Qualquer lugar naquele momento parecia ser um pedaço do inferno de tão quente, e ela já podia se imaginar presa numa boate, dançando e com Tequila em seu sistema.
Ia ferver.
Saiu de casa pronta pra subir na bicicleta, mas a ideia de pedalar pareceu assustadora. Deu de ombros e atravessou a rua, invadindo a casa do amigo - sem tocar a campainha, para variar. A casa cheirava a cerveja, tinha louça na pia, e fezes do Zeus perto da entrada. Na bancada da cozinha, uns quatro ou cinco envelopes de conta se empilhavam, e nem tinham sido abertos. Cece juntou as sobrancelhas formando um V entre elas, e fechou a porta atrás de si.
- Sabe, você precisa parar de entrar assim na minha casa, ou um dia você vai me pegar transando aqui, ou peladão, não sei. - ouviu a voz de Nick vindo da sala, e entrou no comodo em seguida.
Agora podia entender o porquê da zona na casa. Ele estava sentado na sala, de frente para o vídeo game, com várias guloseimas na mesa de centro e diversas garrafas de cerveja e água. Ele devia estar ali há horas e horas, sem nem piscar.
- Opa, posso ver o quanto você tá transando ultimamente. - ironizou e passou na frente da TV de propósito, fazendo-o soltar um palavrão.
Abriu as cortinas da sala e ouviu um resmungo vindo do amigo. Enrico estava inquieto no carrinho, e Cece já ficou um pouco irritada. Tirou o bebê dali e foi conferir se Zeus tinha ração. Assim que foi pego, Rico se acalmou um pouco, mas Cece sentia sua fralda pesada. Voltou para frente da TV, fazendo Nick pausar o jogo. - Você, pelo menos, deu mamadeira pro seu filho? - disparou a pergunta sem o deixar reclamar.
- Lógico que eu dei.
- Há quanto tempo você tá sentado aí?
- Faz um tempinho... - ele coçou o rosto, parecia irritado com ela e com sono.
- Você pelo menos dormiu? - as bolsas e as olheiras de Nicholas indicavam a resposta.
- É uma competição, em tempo real. Daqui a pouco me passam, e eu tô ganhando, então se você puder... - gesticulou para que ela saísse de frente da TV, mas ela não fez. Ao contrário disso, ela apenas trocou o peso do corpo para outra perna.
- Nicholas Baker, meu querido, eu não consigo expressar o quanto eu estou pouco me fodendo para isso. Vale dinheiro?
- Vale minha honra.
- Ninguém liga pra sua honra. Agora vai trocar a fralda do seu filho, pelo amor da minha Deusa Rihanna, e depois você continua esse jogo. Ou eu juro que desligo tudo da tomada agora e você vai do começo.
Nick a olhou no fundo dos olhos, e sabia que ela estava falando sério. É lógico que ela estava falando sério, ela faria isso sem nem pensar. Ela, dessa vez, arqueou as sobrancelhas esperando para que ele tomasse uma atitude, e ele sabia que discutir ia ser dez vezes pior. Afinal, era Cece, ela fala, as pessoas fazem. E se não fazem de primeiro, ela dá um jeito com que façam. Largou o controle no sofá e foi pegar o filho, e assim que o fez, sentiu o peso na fralda.
- Opa, nossa, filhão, que isso.
- Que bonitinho. - sentia o sarcasmo na voz dela e nem se virou para olhá-la. - Agora me empresta a chave do seu carro?
- Pra quê?
- Tá muito quente pra ir pedalando.
- Pode pegar. - ele deu de ombros e apontou com a cabeça pro chaveiro.
- Valeu. - estalou um beijo na bochecha de Nick e foi pegar a chave.
Ao passar pela bancada da cozinha, pegou os envelopes, deu meia volta e voltou para o sofá da sala.
- Nick, tô abrindo suas correspondências - berrou para ele que já estava no banheiro com Rico e abriu envelope por envelope.
Todos eram contas. Cece se perguntava frequentemente qual seria a situação financeira do amigo, agora que tinha resolvido não pegar um centavo dos pais. Mas agora, ali, vendo as contas dele, se tocou de que recusar o dinheiro dos pais naquele momento talvez não tivesse sido uma boa ideia. Nick voltou pouco tempo depois, brincando com Rico. Ele tinha lavado o rosto, molhado o cabelo e estava sem a camiseta manchada de mostarda. Ele a viu lendo as correspondências e parou atrás do encosto do sofá para ler por cima de seu ombro. Sabia que ela provavelmente ia ficar pensando nessas contas até que ele contasse que tinha pagado, então colocou as mãos nos ombros dela e falou com tranquilidade:
- Relaxa, eu tenho grana ainda.
- Eu sei que tem, mas até quando?
- Cece, eu vou conseguir um emprego. Calma.

Como esperado, a pista da boate estava tão cheia e tão quente que parecia que ela se desfazia em suor. Tipo, literalmente.
E isso trajando uma camiseta top verde com o escrito 99 em branco, um short calcinha preto, meias de jogador de futebol americano e o cabelo preso em duas Marias Chiquinhas. As duas listras pretas na bochecha completavam a temática das dançarinas naquela noite, e honestamente, Cece ainda não tinha entendido como a tinta não tinha derretido e manchado todo o seu rosto. De dez em dez minutos ela ia ao banheiro para tirar um pouco o suor do rosto e do colo, ou não chegaria ao fim da noite.
Um grupo de rapazes - muito, muito bêbados - faziam uma sessão de fotos naquele momento. Era foto com mão na cintura, foto com beijo na bochecha, foto com Cece estendendo a mão para que eles beijassem. Um deles a apertava tanto na cintura que parecia querer arrancar pedaço - e ela deixaria, se não estivesse trabalhando. Crazy In Love começou a tocar, e quase automaticamente, todas as Go Go Girls se juntaram para coreografar, mesmo que não tenha sido ensaiado, afinal, era a coisa mais viciante já feita pela humanidade. Quando a perguntavam se ela não gostaria de um "emprego mais comum", era disso que se lembrava: ganhava para dançar, ganhar Tequila de graça e tirar foto.
Em pleno verão Espanhol, as boates de Ibiza estavam lotadas - todas, sem exceção. E com isso, vinham as muitas e muitas doses de Tequila de mãos masculinas, apenas para que eles tivessem o prazer de pagar uma bebida para uma moça bonita, as muitas gorjetas - de mãos também masculinas -, apenas para que eles pudem colocar o dinheiro entre os seios e o sutiãs das garotas. Ah, o verão em Ibiza...
Cece amava o verão.
De longe, com uma bandeja vazia em mãos e suor brotando na testa, Cece avistou Marco. Descendente de Italianos, pessoa mais alegre que ela já teve o prazer de conhecer, supervisor de um resort gigante. Nunca uma ideia tão brilhante passou pela sua cabeça tão rápido. Tão rápido que Cece correu para colocar duas doses de Tequila na bandeja, empinar os seios dentro da camiseta e seguir até ele, antes que perdesse a coragem de fazer aquilo.
- Marco! - saudou, se aproximando para um beijo na bochecha. Ele sorriu quando a viu, e a abraçou pela cintura.
- Cecilia! Querida! Como está linda, banbina!
- Obrigada, Marco. Você também, ein - deu dois tapinhas em seu ombro. - Não tá nada mal. - por fora sorria, mas por dentro estava difícil equilibrar a bandeja com as bebidas, sorrir o máximo possível e ainda estar grudada ao gerente. - Toma, para você. - entregou uma dose da Tequila para ele, que sorriu - Por conta da casa.
- Ah, mi amore! Mas só se você beber comigo. - apontou com os olhos para a outra dose.
- Opa, claro. - mal teve tempo de beberem, e Cece já disparou a pergunta - Marco, posso te pedir um grande favor?
- Claro, banbina.
- Eu sei que vai parecer abuso, mas é mais desespero do que qualquer outra coisa.
- Cecilia, você pede, eu faço. É só falar. - ele sorria, mas Cece estava se sentindo horrível usando Tequila e os seios para pedir favores.
- Eu tenho um amigo, que agora é pai, e ele precisa de um emprego, mas ele não tem qualificação nem experiências anteriores. Mas ele é inteligente, esperto, bonito, poliglota, carismático e tem uma lábia desgraçada. E eu queria saber... Se não tem nenhuma vaguinha no seu pessoal. Pra ele. Vaga... Pra ele.
- Cecilia... - ele sorriu, enquanto ela queria enfiar a cabeça num buraco - Tu amigo é mi amigo. Manda ele passar amanhã na minha casa, eu converso com ele lá. Odeio entrevistas no resort, muito cheio, muita correria. Non, non, non.
- Sério?
- Claro, mi amore. Toma - pegou um guardanapo e uma caneta, escreveu seu endereço e seu telefone - De tarde, sim? Preciso dormir de manhã. - gargalhou praticamente sozinho, porque Cece ainda estava besta.
- Meu Deus, Marco, você não existe! - abraçou-o com força, enquanto ainda o sentia rindo.

Sábado, 08 de Agosto de 2015, 15:25

- NICHOLAS!
A porta bateu contra a parede, causando o maior estrondo.
- Lá vem o furacão Cece. - ouviu Nick, mas nem se abalou. Fechou a porta com mais um baque e entrou na sala.
O olhos de Nick imediatamente se viraram para os amigos que estavam na sala, quando viu que Cece tinha entrado em sua casa de regata e short de pijama. Naquele dia, ela estava especialmente eufórica, quando deveria estar cansada. Ela nem ligou para os três rapazes desconhecidos espalhados pela sala, mas sim por Nick ainda estar no mesmo jogo.
- Tá de brincadeira comigo que você ainda tá jogando essa merda? - fez cara de desgosto - Esquece! - abanou as mãos no ar, roubou o controle da mão do amigo e pausou o jogo. - Eu sou muito foda, não sou? - se sentou ao lado dele no sofá, com pernas de índio, e bateu palminhas excitadas.
- Também é muito modesta...
- Eu consegui pra você uma entrevista. - levou as mãos ao ar como quem conta uma grande notícia. - Sou ou não sou muito foda?
- Como? Que entrevista? Como conseguiu?
- Como eu consegui? Com meus peitos e Tequila. E também o cara é um amor. Mas isso não vem ao caso, o problema é que é hoje. Então você tem que se arrumar e ir. Hoje. Daqui a pouco.
- Cecilia!
- Presta atenção, é pra trabalhar no Thesuites, meu amor. O hotel mais coloridinho da vida. Eu já avisei a ele tudo que ele tinha que saber, então você só tem que chegar lá e mostrar seu carisma, seu inglês, seu espanhol, seu alemão e principalmente seu italiano, porque ele é italiano. Seja gentil, mostre os dentes, essas coisas...
Nick a olhava sem piscar enquanto ela desembestava a falar, e assim que ela parou, ele respirou fundo, sem saber muito o que falar.
- Cece, esses são Ezra, Henri e Juan. - apontou para os amigos.
Cecilia olhou para os três, que escondiam suas risadas atrás de suas respectivas garrafas de cerveja.
- Oi. - disse, simplesmente. Depois se voltou para Nicholas - Não sei porque você tá sentado aí, quando era pra estar se arrumando.
- Cece, eu...
- Escuta aqui, Baker. Você tem filho pra bancar, conta pra pagar, cachorro pra alimentar e fica aí jogando esse jogo chatinho. Eu consegui uma entrevista pra você num puta de um hotel, você só tem que ir lá e fazer charme. Eu sei que dá medo, acredite, eu passei por isso há uns sete anos, mas passei. Então levanta essa bunda magricela do sofá, deixa seus amiguinho jogando o jogo pra você não perder essa merda, eu cuido do Enrico, e você vai pra entrevista.
Todos os quatro espalhados pela sala a olhavam, três deles assustados pela maneira como ela falava com Nick, e Nicholas assustado com a ideia da entrevista. Depois de praticamente quatro anos, as grosserias de Cece pareciam chuvas de pétalas de flor. Mas ela o conhecia, e percebeu de primeira que ele estava com medo da entrevista.
- Nick, vai dar tudo certo. Mas só se você for se arrumar. - ela sorriu. Ele parecia pensar por um momento, antes de bufar e se virar para ela.
- O que eu visto?
- Ah! - a loira bateu palminhas novamente, e se levantou do sofá - Vou procurar uma roupa, você vai pro banho. - o puxou pela mão em direção ao quarto e praticamente o arremessou para dentro do banheiro.
Separou uma camiseta pólo e uma bermuda, que juntos iam o fazer parecer um frequentador de clubes de pólo. Deixou tudo em cima da cama dele e voltou para a sala, onde agora os três rapazes conversavam entre si, e nenhum deles pegou o controle para continuar o jogo para Nicholas. Ela pegou uma cerveja na geladeira, se jogou no sofá e soltou um arroto, antes de falar para os rapazes:
- Viram? É assim que se faz.
- Vocês... Namoram? - um deles, Henri, perguntou coçando a nunca, e ela deduziu que provavelmente eles tinham visto Nick com alguma garota.
- Nope.
- Ufa! - Cece riu.
- E vocês são tipo, amigos só? - outro deles, um com cabelo tigela estilo surfista, com o rosto bronzeado e a maior cara de californiano perguntou. Ele era praticamente a versão masculina de Cece, até mesmo nas sardas debaixo dos olhos.
- Yep.
- Que bom. - sorriu, por trás da boca da garrafa, e Cece sabia muita bem o que significava aquele sorriso.
Nick apareceu novamente após alguns minutos, com as roupas que Cece tinha separado, perfumado e com o cabelo devidamente penteado e com gel. Ele estava claramente nervoso, esfregava as mãos com frequência e dizia que era porque estava calor. De fato, o calor estava castigando naquele dia, mas ela o conhecia, e sabia que ele estava nervoso. Arrastou-se no sofá até grudar no amigo, pegou sua mão e esfregou no sofá até secar todo o suor que tinha ali, e depois entrelaçou seus dedos. Segurou sua mão até que ele saísse de casa, e enquanto isso não aconteceu, os amigos dele o davam dicas de como se portar na entrevista. Dicas essas que Cece contrariou todas, visto que conhecia Marco.
- Sorria muito, conte piadas, elogie a casa dele, fale dos seus estudos, mas nunca se gabe demais, mostre bom humor, use lábia. E sorria muito! - disse.
- Eu acho que eu vou falar de você - ele brincou.
Quando ele decidiu que estava pronto pra ir, Cece o deu um beijo na testa de boa sorte, e garantiu que cuidaria de Rico até que ele voltasse. Diferente do que pensou, assim que Nick saiu, os amigos dele não foram embora. Os três continuaram sentados no sofá e conversando, enquanto Cece imaginava se eles tinham intimidade para continuar ali. Depois pensou que eles poderiam ser legais e poderiam interagir, mas assim que um deles começou com piadinhas misóginas, ela saltou do sofá e foi buscar Rico no berço.
- Foi mal, pessoal, mas eu vou pra minha casa e não vou deixar vocês aqui. - ia dizendo, fazendo os três se levantarem do sofá e caminharem até a porta.
Ezra e Henri se despediram e saíram caminhando, mas quando viram que Juan estava lá ainda, pararam e esperaram na calçada aos risos. Juan, por sua vez, abordou Cece da maneira mais direta possível.
- Então, você é solteira, né? - Cece gargalhou com a pergunta e assentiu - Então quer dizer que você toparia sair comigo?
- Desculpa, eu não faço essa coisa de "encontro" - fez aspas com a mão livre, já que a outra segurava Rico.
- Por que não?
- Porque é chato pra caralho. - batia o pé na calçada, esperando para voltar para a casa de Nick.
- Então você nunca teve um encontro?
- Sim, um. E foi chato pra caralho. - Juan a olhava de um jeito engraçado, os olhos estavam brilhando diante do sol. Ele era maravilhosamente lindo, e não seria ruim sair com ele, tirando a parte onde ela não estava mentindo quando dizia que não ia a encontros. Porque eles realmente a entediavam.
- Bom, e se eu te garantir que não vai ser chato, você sai comigo?
Cece ponderou, tinha um fim de semana de folga da boate a cada quarenta e cinco dias, não tinha uma boa rodada de sexo há um tempo, agora vivia cansada. Sair com um cara lindo como aquele num belo fim de semana de sol não poderia ser tão ruim. Ele sorria para ela, enquanto esta pensava no assunto.
- Tá, okay. Mas nada de sair pra comer e nem cinema, pelo amor de Deus. - ele abriu um grande sorriso e piscou.
- Me encontra no píer amanhã, no café Sidney. Às dez da manhã, ok?
Cece acenou e gesticulou para que ele fosse embora. Começou a atravessar a rua em direção a sua casa, mas assim que eles sumiram de vista, ela deu meia volta e voltou para casa de Nick.

Domingo, 09 de Agosto de 2015, 10:20

No fim das contas, Juan tinha um Iate.
Um. Iate.
Cece sonhava em ir num jet ski, e de repente, ela estava em um Iate.
Um Iate.
Ela poderia tranquilamente morar ali, e com Tequila. Tinha cozinha, banheiro, quarto, sala, piscina...
Pra que piscina num automóvel que fica no mar?
Ela nem sequer tinha contado para Nick, quando ele chegou de noite, que ia sair com o colega dele. Primeiramente porque sabia que ele ia ter um ataque de ciúmes, e segundo porque ele estava tão animado sobre o andamento da entrevista que ela não queria de jeito maneira interromper a conversa pra contar que ia sair com um amigo dele. Mas como é que não ia compartilhar com seu melhor amigo que ela tinha ido num iate?
Mas apesar de tudo, mais tarde, quando não estava mais tão babaca por estar ali no Iate, ela se pegou na situação que sabia que ia acontecer: estava entediada. Quer dizer, não tinha muita graça ficar deitada ali, sentindo o iate navegar, enquanto Juan falava sem parar e minuto em minuto perguntava se ela queria alguma coisa. Não era legal no fim das contas. Ele parecia estar se esforçando sem limites para agradá-la, quando tudo que ela queria ali era um drink e talvez fazer um sexo no sofá, apenas para não constranger o rapaz que comandava o Iate.
Foi só mais tarde, quando eles já tinham rodado por um bom tempo, que Juan se acostumou com o jeito de Cece e deixou a situação rolar, sem a tratar como uma boneca de cristal. Parou de tentar achar assuntos nada a ver, de perguntar o tempo todo se ela queria alguma coisa, e de ficar com medo de encostar nela. Toda a virilidade que ele tinha mostrado na tarde anterior estava finalmente aparecendo. Ele tinha ligado o rádio de dentro do iate, tirou a camiseta - sim, ele ainda estava de camiseta, enquanto Cece entrou no iate já de biquíni -, a tocava de vez em quando, falava palavões e algumas obscenidades. Cece lhe contou sobre o emprego, e para variar, a reação dele foi ficar boquiaberto, enquanto ela descobria que ele era só uma versão 2.0 do Nick - não trabalhava e nem fazia porra nenhuma da vida. Mas mesmo assim, ele não tinha conteúdo. Não tinha sobre o que falar com ele, a não ser baboseiras e piadinhas, alguns flertes acompanhados de olhares maliciosos. Cece não sabia se tinha sido chamada ali porque ele tinha a achado carismática, ou se porque a tinha achado bonita. Ou seja, não sabia se ele estava levando aquilo a sério, ou se ele estava tentando prolongar o dia para deixar o inevitável acontecer, assim como Cece.
Porque era inevitável.
Perto do meio dia o calor estava esmagador, e Cece já sentia suas bochechas começarem a esquentar, e imaginava como estavam vermelhas sob as sardas. Sob os óculos de sol podia ver as entradas do abdômen de Juan se aproximando de onde estava, com dois drinks trincando de tão gelado que estavam, os cabelos loiros caindo sobre os olhos azuis e o sorriso cheio de dentes brancos lhe mirando sedutoramente.
- Toma - esticou a mão com um tubo de protetor solar nela para ele, enquanto ele a entregava uma das taças - Você tem a missão de não me deixar virar um camarão.
Sentiu ele se ajoelhando em suas costas e se passou um tempo antes que ele a tocasse. Girou lentamente os cabelos de Cece nos dedos, os afastando das costas dela, para só então começar a distribuir o líquido por seus ombros. Ele foi frágil no começo, deslizando as mãos com cuidado enquanto o líquido ainda gelado não aderia em sua pele, mas assim que fez, Juan colocou força nas mãos. Elas eram ásperas, como as de um trabalhador que ele não era, pesadas e grandes. Ele as deslizava com firmeza e lentidão pelos ombros, vez ou outra subindo para o pescoço, mas para uma massagem do que qualquer outra coisa, fazendo arrepios e mais arrepios subirem pela coluna de Cece, a fazendo se contorcer sob as grandes mãos de Juan. Qual tinha sido a última vez que recebia o resquício de uma massagem em alguma área que não se concentrasse debaixo da calcinha? Quer dizer, qual tinha sido a última vez que tinha sido acariciada em qualquer área, mesmo?
Logo as mãos de Juan foram para a área da cintura, e Cece até se inclinou um pouco para frente, aproveitando o carinho, enquanto ele passava as mãos enrijecidas pela lateral de sua barriga, até pararem na linha do biquíni abaixo dos seios, e Cece soltar um quase inaudível e longo gemido. Pôde senti-lo rindo de leve diante da entrega dela, mas ela não ligava. Quem liga? Estava bom estar ali, e naquele momento ela só esperava que não demorassem muito para nãoestarem mais ali.
De repente, as mãos ásperas e firmes não estavam mais ali, e Cece abriu os olhos em desolamento, e Juan já tinha dado a volta e se postado em sua frente.
- Você sabe mergulhar? - perguntou com um sorrisinho malandro, e Cece arregalou os olhos, a boca, se duvidar até as narinas.
- Ai. Meu. Deus! A gente vai mergulhar? - abriu o maior sorriso que conseguia, enquanto ele apenas assentia - Caralho! Quantos metros?
- Seis. Topa?
E num pulo, Cecilia estava de pé e extremamente excitada. O iate estava parando perto da praia do outro lado da ilha, onde ela nunca tinha estado. Não estavam muito longe da terra, mas estavam sozinhos ali. Juan sumiu dentro do iate por um tempo, e voltou depois com alguns equipamentos. Perguntou se ela precisava de algum, mas não estavam muito fundo, não precisaria de nenhum, então fez um aceno com a cabeça negando. Parou perto da escadinha que levava até o mar, não aguentando mais esperar, e quando Juan se aproximou o suficiente, ela se jogou na água, mergulhando com perfeição. Ele saltou logo atrás, e ao afundar, viu Cece nadando para o fundo.
Ela tinha um amor imensurável pelo mar, aquela imensidão azul, escura, fria... Infinita. Ali não tinha coral, apenas alguns peixes pequenos, que se olhasse bem - poderia reconhecer um por um, dos livros de biologia marinha que lia quando percebeu que não iria estudar aquilo, já que sua mãe a mataria, mas não permitira que ela fosse bióloga -, mas ainda era o oceano, sendo calmo e tranquilizador, cômodo... Via de onde estava apenas as pernas de Juan, e emergiu, parando a sua frente. Ele sorria sem mostrar os dentes, e quando perguntado se ele não ia mergulhar, a resposta foi rápida: não. Já Cece não conseguia sorrir mais, sua boca já se abria ao máximo.
Cara a cara com ele, podia ver cada detalhe de seu rosto. Os olhos azuis brilhavam no sol, as sardas estavam ressaltadas pelo sol, o cabelo caindo nos olhos, o gogó subindo e descendo enquanto Cecilia se aproximava lentamente dele, as unhas raspando seu braço, cumprindo o caminho de seus braços e ombros até atingirem sua nuca, e os dedos se afundarem ali, sentindo-o se arrepiar como tinha feito com Cece, as pernas contornando sua cintura, enquanto sentia os dois braços firmes circularem sua cintura.
Não tiveram cerimônia, nem frescura, nem impedimentos. Quando as bocas se encontraram, Cece soube imediatamente que aquele era o começo do encontro, e definitivamente não era o final do fim de semana.

Quarta feira, 12 de Agosto de 2015, 16:00

Quando acordou naquela manhã de quarta feira, não se assustou ao sentir o braço em cima de sua barriga.
Tinha sido assim desde domingo, quando eles decidiram que não tinha que acabar no iate. Juan a acompanhou até em casa, e com a sorte de não terem cruzado com Nick, lá ele passou. Beberam, transaram, conversaram, beberam mais e transaram mais. Na segunda feira, Cece nem se preocupou em o acordar quando saiu para ir trabalhar, ele estava desmaiado, e não que ele fosse acordar antes que ela chegasse. Mas ela estava errada, porque quando atravessou a porta de sua casa, lá estava ele de frente para a geladeira aberta, pelado, sua bunda redonda apontando para Cece. Bebia a água gelada que tinha ali, e não perdeu tempo ao agarrá-la e colocá-la sobre a bancada da cozinha, se encaixando no meio das pernas finas da garota. E ela não ia reclamar. E depois tomaram banho. E depois foram para o quarto. E então a sala. E então Cece foi para a boate ensaiar, e então voltou para casa. E depois o quarto. E o banho de novo. Na terça feira, a mesma coisa. Ela não se incomodava em tê-lo ali, principalmente porque tinha percebido que quando enjoassem um do outro, ele ia colocar a cueca que até aquele ponto estava jogada em algum lugar da casa da loira, já que ele estava pelado desde domingo, e ir embora. Não iria tentar manter contato e nem nada do tipo. Tinha coisa melhor?
Quando ela chegou de René, Juan estava deitado na cama dela, o lençol de algodão o cobria do joelho até a entrada do abdômen, ele mantinha o braço dobrado atrás da cabeça e sorria assistindo qualquer merda que passava na televisão que Cece não ligava para saber o que era, porque assim que viu aquele monumento estirado em sua cama, não soube fazer outra coisa a não ser montar nele e tacar-lhe um beijo. Tinha jurado para si mesma que ia mandá-lo para casa naquela noite, porque andava cansada e tinha transado tanto nos últimos dias que mal sentia suas pernas, mas se esqueceu de tudo aquilo quando entrou em casa. Esqueceu tanto que não viu a noite surgir, e não percebeu que tinha perdido o ensaio na boate. Estava nua, sentada sobre o quadril de Juan, enquanto dividiam um pote de sorvete, e as mãos do rapaz acariciavam suas coxas, de vez em quando deslizando as mãos para a parte interna, fazendo Cece se tremilicar. Seu celular começou a tocar, e foi a primeira vez que falou com Nick desde sábado, quando atendeu a ligação.
- Não foi ensaiar? - ele perguntou diretamente, e Cece lambeu a colher antes de responder.
- Nope. Como você sabe?
- A luz da sua sala tá acesa. - Cece pensou que tinha fechado as cortinas, mas agora, só se perguntava quantas pessoas tinham visto a bunda de Juan por ali - Pode passar aqui?
- Hm... - Juan apertou suas coxas e ela se contorceu e riu, e do outro lado da linha, Nick também se contorceu, ao saber o que se passava na casa de Cece e imaginar a cena - Posso. Só me dá um minuto. Ou dez.

Quando ela atravessou a porta de sua casa, o cabelo estava molhado, usava uma regata preta sem sutiã e um short jeans, e ah, entrava puxando ninguém menos ninguém mais do que seu amigo pela mão. E tinha demorado quarenta e sete minutos. Juan também estava com o cabelo molhado e trajava apenas uma bermuda jeans, sorria e deu um grande cumprimento de mão a Nick quando o viu. Nicholas não teve como evitar, sentiu suas entranhas se revirarem e sabia que devia estar ficando vermelho de raiva, então apenas mandou ele ficar à vontade e se enfiou na geladeira, fingindo procurar alguma coisa ali. Cecilia não assistiu a cena, depois de dar oi para Steve e uma garota que, com a mesma certeza de que o sol surge todas as manhãs, ela garantia que ela era latina, ela voou para o quarto verde de Rico. Ele dormia no berço, e parecia que ter ficado três dias sem vê-lo, tinha o feito crescer para caramba. Com uma mão sob as costas e a outra mão sob a nuca, o ergueu do berço e o acomodou em seus braços, indo para a sala novamente em seguida. Nick questionava a falta de camiseta de Juan, que sem vergonha o respondeu que não sabia onde estava, e honestamente não lembrava se quando chegou na casa de Cece, estava com ela. E foi então que Nick percebeu que eles tinham saído, e desembestou a fazer pergunta sobre o domingo deles.
- Nick, dá um tempo. - ela mandou, indo se sentar no sofá.
Ele fechou a cara e voltou a fingir que tinha alguma coisa pra fazer na cozinha, e antes que Cece esquecesse, se virou e chamou o melhor amigo.
- O que aconteceu?
- Nada. - respondeu seco, fazendo-a erguer as sobrancelhas.
- Então pra que fui chamada aqui com tamanha urgência?
- Ahhhhhh! - ele praticamente gritou, de repente passando seu ataque de ciúmes e se lembrando do porque de ter ligado - Eu passei. A vaga é minha.
O rosto de Cece se iluminou e ela saltou do sofá, correndo até a cozinha e abraçando Nick com toda a força do mundo. Não saberia explicar o orgulho que sentia só de saber que ele ia trabalhar, pois tinha certeza, se o que faltava para ele era maturidade, agora não ia faltar mais. Ele ia saber como era ralar pro que era preciso, e ia crescer.
- Parabéns, parabéns, parabéns... - sussurrou, para que apenas ele ouvisse.
- Muito obrigado, Cece. Muito obrigado.
Estalou um beijo no pescoço dele e afundou o rosto ali.
- Você sabe que eu faço de tudo por você.

Assim que Juan recebeu uma ligação do pai, pedindo que ele fosse para casa, Nick relaxou, e Cece sabia que a temporada de sexo all day all night tinha acabado. A latina, Cece descobriu mais tarde, era Daya, maravilhosamente novo caso de Steve. Mas isso ela descobriu sozinha, porque ela sorria para ele de segundo em segundo, e ele não conseguia parar de olhar para ela com aquele ar apaixonado. Ela estava muito feliz naquela noite, por ela, por Nick, por Steve, por Rico que crescia saudável e ficava cada vez mais loiro, mas seus olhos agora pareciam com o do pai. Estava a maior barulheira na sala quando o telefone de Nicholas tocou, e ele correu para atender. Fez uma cara estranha por um momento, mas tampou o microfone e chamou por Cece.
- É sua irmã. - deu de ombros, como se perguntasse como ela sabia o número da casa de Nick, mas depois pensou que Cece tinha passado ele para contato.
Com o corpo um tanto paralisado, Cece saiu do chão e passou Rico pra o colo de Daya, se caminhando para onde Nick estava com o telefone.'
A primeira coisa que passou pela sua cabeça é que alguém tinha morrido. Porque sua irmã nunca tinha lhe ligado. Ninguém do outro lado do oceano nunca a ligou.
Cece saiu da casa com o telefone e se refugiou no quintal com Zeus, ficou lá por uns bons dez minutos. Quando voltou para a sala, estava mais branca do que o normal.
- O que foi, Cecilia?
- Era a Emmy, me... Me chamando pro casamento dela.  

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