— É, realmente estou espantada em se recordar dessas coisas. Por quê isso?

— Deve ser porque eu gravo momentos importantes, mesmo que mínimos, de pessoas importantes. — piscou enquanto terminava seu lanche e embolava o plástico que viera no alimento, o jogando dentro do copo de isopor vazio. E ela nem havia engolido um mísero pedaço daquela torta ainda em suas mãos. Ele viu isso.

— Quer que eu te salve nisso também? Posso te dar em aviãozinho, ou túnel de trem, você escolhe... — perguntou atrevido arrancando uma alta gargalhada dela, consequentemente rindo junto. Incrível como nessas simples ações, ela era inconscientemente encantadora.

— Não exagera Adrien! Sou quase maior de idade, pare de me humilhar assim. — deixou o prato em cima da mesa e cruzou os braços fazendo bico.

— Quase, só um ano e alguns dias. E oh, eu já tenho carteira de motorista, uma linda BMW na minha garagem e legalização. Acho que ganhei nisso aqui. — embora não gostasse de auto convencido, os olhos azuis brilharam ao ouvir o nome da marca.

— Sério que tem uma BMW, senhor riquinho-maior-de-idade? É meu sonho ter uma! — exasperou animada depois de engolir um pedaço da torta (finalmente).

— Vou levar isso como um elogio. E sim, tenho. Só que nem sempre dirijo nela. Meu pai ainda prefere que Gorilla seja meu motorista por segurança. — revirou os olhos.

— Nossa... que triste. Então me empresta no meu aniversário? É daqui a um mês. — tentou imitar a carinha triste de Manon ganhando somente uma risada baixa.

— Você? Dirigindo? Posso não o usar muito, mas não quer dizer que não goste ao ponto de querer perdê-lo em qualquer poste ou numa infeliz loja.

— Há há há há, muito engraçado Adrien. Estou rindo. — falou sarcástica.

E então, veio uma coisa em sua mente incessante que queria saber à todo custo.

— Mudando de assunto... — encarou o prato praticamente vazio na mesa e voltou a vista para ele. — sobre as brigas daquela hora, estava se referindo a Félix?

O leve sorriso em seus lábios se desfez numa linha reta e séria. Ele finalmente conseguiu um bom momento e ela tinha de meter esse medíocre no meio. E Marinette ficou receosa pela reação dele.

— S-se não quiser falar sobre isso, t-tudo bem. De verdade. — a voz saiu trêmula em súplica.

Adrien, ainda com a carranca no rosto, apenas suspirou.

— Sim, o próprio. — a fala era carregada de repulsa e seriedade, e ela engoliu seco notando o quanto esse assunto o afetava. Ele pensou em dizer algo, mas achou melhor não. — Pode parecer bobagem o que irei pedir, entretanto... não permaneça muito com ele. Moramos na mesma casa, e eu posso te afirmar com toda a certeza de que ele é intragável. Não se meta com Félix, Marinette, se envolverá em muito mais do que imagina.

Ambos mantinham o olhar cravado no outro. Com o dito, ela mordeu o lábio inferior em aflição, mas despertou outra sensação em Adrien. Ele aproximava vagarosamente, intercalando o foco entre aqueles olhos que lembravam um puro oceano e seus lábios rosados presos no dente. E ela não recuava. Por alguma razão inexplicável, permaneceu em inércia, se sentindo cada vez mais envolvida pelo perfume amadeirado em seus pulmões. Suas mãos foram delicadamente seguradas por outras maiores e esguias, numa percepção calorosa na região. Lufadas de ar misturaram-se, juntamente com seus corações batendo intensamente.

Sim, até que enfim chegara o momento em que mais sonhou durante esses meses. Ele provaria de seus lábios e podia imaginar sentir um doce sabor de cereja ou morango insistente em sua memória, o querendo experimentar mais e mais, numa vontade infinita que somente dessa forma se resolveria.

Aproximava-se mais até constatar que seus lábios não estavam mais fincados, no momento entreabertos e aquilo o atiçava de todos os modos possíveis. E então, finalmente se tocaram. Delicadamente, mas tocaram-se, e Marinette pensou se seu coração sairia pela boca no instante.

Estava acontecendo.

Finalmente.

Porém, no mesmo milésimo, o sinal soou gritante, espantando à todos, principalmente ambos. Marinette arregalou os olhos, se afastando involuntariamente como um pulo tomando todo o ar possível e olhando para todos os lados, menos a face de Adrien. Já ele se encontrava da mesma maneira, todavia focado no rosto vermelho e abismado da garota esperando por alguma reação que não fosse ela começar a gritar e o esmurrar com acusações de audácia. Trocaram mais uma vez olhares e tentou falar.

— M-Marinette, perdão, e-... — fora drasticamente interrompido por uma voz melancólica.

— Não! Não fale nada.

Jogou duas notas de euro na mesa e com isso saiu apressadamente para as escadas. Adrien encarou as notas marcadas com um dois e apenas queria uma arma para atirar contra a própria cabeça. Reclamava tanto de Nathanael e Félix, mas fora ele quem conseguiu dissipar a oportunidade de uma relação melhor com ela em um ato impulsivo. Abaixou a cabeça e apoiou as mãos nos joelhos sentindo um peso gigante em suas costas a cada palavrão que murmurava baixo para si mesmo.

Maldito seja!

~•~

Ainda no mesmo lugar, continuou a assistir toda a cena com um sorriso sereno.

— Mestre, você acha que isso vai dar certo? — o kwami verde perguntou incerto sobre o episódio.

— Creio que sim, pois estarão ligados eternamente e adversidades assim ocorrem. É apenas o começo. Paciência pequeno, muita paciência...

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e.e.

Half of Person❌MiraculousWhere stories live. Discover now