Capítulo 36

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Eu sou uma pessoa que nem sei como se namora, não sei lidar com essas situações de ciúmes do Pedro. Eu gosto de ser livre e não suporto que ninguém me prenda e me impeça de fazer algo. Por mais que eu goste de Pedro, eu não quero ser impedida de conversar com garotos e não poder nem sequer tocar em alguém, sem que ele implique.
A noite quando estamos na mesa jantando, o clima fica estranho entre eu e meus pais. Eles conversam entre si mas sinto que estão me ignorando. Digo algo para quebrar o clima:
- Então... O que vocês acharam do evento?
Digo colocando uma colher de purê de ervilha na boca.

Os dois me olham ao mesmo tempo ficando em silêncio e depois de alguns segundos respondem minha pergunta.
- Eu achei interessante um evento desse tipo em uma escola. E você cantou super bem, foi bem expressiva. Mas... aquela briga entre Pedro e aquele rapaz foi bem desnecessária.
Diz meu pai em um tom sério.

- Eu também gostei filha, você cantou lindo.
- Obrigada.
Digo em um tom envergonhado.
- Mas eu fiquei triste de você não ter me falado que estava namorando com Pedro. Sempre te dei liberdade sobre esses assuntos; ainda mais Pedro que gostamos muito dele.
Diz meu pai.
- Eu sei que foi errado, eu só achei que fosse cedo ainda para falar... Nem sabia se isso era concreto, mas também tem pouco tempo pai. Desculpas.

Um imenso silêncio toma conta do restante do nosso jantar.
[...]
Eu peço para Pedro não vim até aqui hoje a noite por que estou um pouco cansada, e não estou com cabeça para discussões. Ele parece não gostar mas é melhor assim. Posso ver que ele tem tanto medo de me perder que acaba me sufocando.
[...]
Uma vez ao mês eu e Sofia escolhemos para acamparmos atrás da minha casa, onde tem um espaço com algumas árvores e plantas.
Estamos armando uma barraca de quatro lugares sobre a grama, que é bom por que é bem mais espaçosa. Trouxemos tudo que vamos usar durante a noite, desde lanterna, travesseiros, cobertores e comida. Coloco na tigela uma porção de batatas chips e comemos com refrigerante de maçã verde.
- Ei o que acha da Ana?
Digo e tomo um gole de refrigerante.
- Quem é Ana?
- Aquela do segundo ano, é bem magrinha e alta.
- Huum. Mas não sei o que acho dela por que não converso com ela. Mas sei que ela tinha uma melhor amiga no ano passado, as duas ficavam sempre juntas e de repente se afastaram; o que foi estranho por que eram muito unidas e depois viraram desconhecidas. Eu não sei mas algo sério deve ter acontecido entre as duas.
- É que ela parece estar querendo se aproximar de mim sabe. Ela parece ser legal.
- Sei, toma cuidado viu! Vai que ela foi falsa com essa tal amiga.

Sofia da um sorriso debochado, e eu atiro uma batata chips nela.

- Eu não acredito que seja isso, ela parece ser uma boa pessoa. Só acho que você está com ciúmes.
Digo dando um risada.
                        ***
Recebemos a notícia de que o Floco, cachorrinho do Sr Donavan acabou não resistindo a infecção e faleceu. Fico muito triste por que era um cachorro muito dócil, e mais triste ainda por que ele era a única companhia do velhinho. É uma pena que isso tenha acontecido e ele tenha que viver sozinho.
- Pai, eu estava pensando se a gente não poderia dar de presente um outro filhote para o Sr Donavan.
- Acho que seria uma boa ideia mas não por agora, ele deve estar muito triste pelo falecimento do cãozinho.
- Nos podemos esperar passar algumas semanas, e já ir providenciado um filhote para ele. Eu acredito que irá faze-lo feliz.
- Boa atitude a sua Maria Clara. Podemos fazer isso sim, vou tentar arranjar algum.
- Obrigada.

Ansiosa já ligo meu notebook e pesquiso filhotes em doação na região.
Encontro alguns que nasceram a uma semana, a moça que entrei em contato disse que daqui a 4 semanas podemos pega-lo até que desmame.
Fico feliz em poder ajudar alguém.
                     ***
Durante essa semana não encontro com Rodrigo no colégio, o que é estranho por que dificilmente ele falta de aula. Penso que pode estar doente ou tenha viajado, eu acho que não tenho coragem de ligar para ele e saber o que aconteceu, mas ao mesmo tempo estou preocupada e quero ligar. 

Mais tarde quando Pedro vem até minha casa, resolvemos enfim nossos desentendimentos. Digo a ele que esse ciúme excessivo está me fazendo mal em tão pouco tempo de namoro; ele é uma pessoa um pouco arrogante em relação a aceitar que estar errado, mas o medo de me perder acaba o fazendo compreender.
- Eu estou feliz por estar com você Maria Clara, não quero te fazer infeliz.
Ele diz me dando um abraço acolhedor.
- Está tudo bem agora.
Digo retribuindo o abraço.

Depois de algum tempo Pedro vai embora e corro para meu quarto, pego meu celular em cima da cama e fico por alguns segundos pensando se ligo ou não para Rodrigo. Não sei se faria certo em ligar mas é o que vou fazer, pelo menos vou saber o que está acontecendo.
O telefone chama, chama até que ele atende com uma voz rouca.
- Oi.
- Oi, como você está? Não vem indo a aula esses dias.
- Eu... estou bem. Eu só não estudo mais nesse colégio.
- O que? Por que?
Digo tão desesperadamente que acho que ele acaba percebendo minha tensão.
- Eu vim morar com minha tia por um tempo. Não é muito longe da escola, mas estou estudando em um colégio mais próximo da casa dela.
- Mas que pena! Isso é ruim, mas sua mãe e sua irmã ainda estão morando aqui? 
- Sim elas estão, eu vim mesmo para passar um tempo com minha tia que fica muito sozinha. Talvez eu volte depois.
- Entendi. Eu liguei por que estava preocupada, apesar dos desentendimentos que tivemos eu gosto de você.
- Eu também. Infelizmente não deu para eu ir ao café literário, Mas tenho certeza que você se deu bem. Vou sentir sua falta Clarinha.
-  Também sentirei...

Fico pensando se o motivo de Rodrigo ter se mudado realmente é pela sua tia. A maneira como ele disse não me convenceu, parece que foi por minha causa, talvez ele quer ficar longe de mim e não me ver mais. Fico triste por isso, apesar do que aconteceu eu não quero Rodrigo longe de mim; eu acho que eu poderia viver bem ainda gostando dele e namorando Pedro. Mas as vezes só de pensar que não há possibilidades de ficar com Rodrigo me faz sentir mal, eu só queria arrancar esse sentimento de mim e gostar dele novamente apenas como amigo.
Queria de verdade gostar de Pedro assim como ele gosta de mim, mas é tudo tão complexo; não quero faze-lo sofrer fazendo-o acreditar que o amo, mas ao mesmo tempo me sinto bem em saber que há alguém que gosta de mim e que quer ficar comigo. 
Na verdade isso é egoismo da minha parte, estou pensando somente em mim e no que eu sinto. Vou continuar com ele até que surja algum sentimento da minha parte, não acho ser impossível; mas há um coração em jogo e não posso machuca-lo. 

Eu MesmaWhere stories live. Discover now