― Tio Callum... ― Sara esbugalhou os olhos como se fosse um gato pedinte.

― Gostava muito de poder ajudar, Sara. Mas ao que consta só disponho de dois cêntimos ― disse a colocar a mão no bolso e desatou a rir, estendendo as moedas para os gémeos.

― Não é de bom-tom a oferta monetária às crianças, ainda por cima na mesa durante a refeição. ― Censurou Miriam de sobrolho unido, não gostava do comportamento daquele jovem.

― Não será algém como tu que me vai ensinar as boas maneiras! ― Retorquiu Callum sem modos e com a face amarrada. Dante bateu na mesa num movimento involuntário e os copos de leite oscilaram.

― Chega ― decidiu numa calma assustadora e levantou-se da mesa. ― Meninos terminem e vamos embora!

Sara soltou um resmungo irado e subiu as escadas a correr. Seus longos cabelos balançavam nas suas costas e as mãos cobriam as faces. Ditch e Gabriel a seguiram, subiram os degraus para o quarto a fim de irem carregar as mochilas.

― A senhorita Miriam deverá fazer o favor de ir buscar as crianças à escola. Hoje trabalharei até mais tarde ― pediu Dante a arranjar a gravata torta, a qual a babá não deixou de reparar.

― Com certeza, mas se me permite ― disse aproximando-se dele e delicadamente começou a arranjar o nó da gravata azul escura. Ele não deixou de sentir o cheiro a Jasmim que exalava do corpo feminino, era o mesmo cheiro de sua falecida mulher, Anna. Callum observava a cena a sua frente e franziu o cenho ainda mais do que lhe era possível.

As crianças desceram a cantar empolgadas, menos Sara que vinha de beiço feito e as faces vermelhas. Miriam afastou-se de Dante assim que terminou e sorriu para os meninos.

― Os dentes? ― Perguntou com amabilidade, e Ditch e Gabriel esboçaram sorrisos brancos e o hálito fresco. ― Ótimo! Vou preparar uma surpresa agradável para vocês.

As crianças gritaram empolgadas já curiosas e despediram a babá com abraços. Dante se sentiu estranho por deixar seu irmão com Miriam, mas quando Callum levantou-se para sair, soltou um suspiro.

Os Morgan saíram de casa em fila indiana.

― Que rumo tomas? ― Investigou Dante a sentir a brisa bater-lhe na face.

― Amanhã teremos o encontro em casa de Madame Bouvet, preciso resolver alguns assuntos antes ― respondeu a acender um charuto. ― Até mais.

Dante acenou e foi pelo caminho oposto ao dele a conversar com os dois filhos mais novos, uma vez que Sara estava zangada e não ia falar tão já.

***

 Miriam andava cheia de pressa, sua longa trança baloiçava suspensa no centro das costas, não queria chegar atrasada para ir buscar as crianças logo no seu primeiro dia, mas tinha perdido o tempo diante de uma máquina de costura. Por isso estava completamente alheia aos olhares dos habitantes da pequena cidade, não sabia que diferente de Londres, era difícil ver algum negro a passear livremente por aqueles lados tão remotos. Avistou a única escola que albergava todas crianças e jovens de Little-Woodshire e no meio da multidão conseguiu reconhecer os Morgan. Logo sorriu e lhes acenou.

― Boas senhoras! Sou Miriam Fuller, a babá dos Morgan, e vim buscá-los ― disse à entrada da escola onde estavam três senhoras de rosto carrancudo. Não pareciam simpáticas, e o semblante das três piorou ao olharem para a mulher de baixo para cima.

― Não recebemos nenhuma informação ― respondeu a senhora Elvet seriamente, tinha os cabelos brancos unidos num coque e usava um vestido da cor das roupas dos alunos.

Xadrez, à Preto e BrancoWhere stories live. Discover now