Nerd baladeira...

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- Amelie! Amelie! Vem logo!!!

Minha mãe gritava desesperadamente porque a nossa série favorita ia começar.

- Calma!!!

Eu não corria. O máximo que eu conseguia fazer era andar rápido e sempre foi assim, por causa da minha dismetria. Dismetria é nada mais, nada menos, que a diferença do comprimento entre os membros inferiores, ou seja, pernas, então eu apenas caminhava o mais rápido que conseguia.

- Pronto! Ufa!

Me acomodei no sofá enquanto minha mãe entrelaçava o braço no meu. Ela era a minha melhor amiga, minha confidente para tudo, quer dizer, quase tudo. Eu só não falava com ela sobre sexo, mas eu era virgem mesmo, então, não tinha o que esconder.

Quando o episódio terminou eu já estava sonolenta, mas o toque da campainha me fez despertar. Ouvi passos do meu pai e a voz grave dele que dizia:

- Oi Nathan! Entra!

Dei um pulo do sofá no mesmo instante. Nathan, meu amigo de longa data e vizinho. Tão vizinho que a janela do meu quarto dava para o quarto dele. Eu via tudo, até o que não devia ver, mas isso felizmente, era só as vezes.

- E aiiiiii maluca! - ele disse sentando ao meu lado

- E ai? - perguntei com um sorriso largo

- Precisamos fazer o trabalho de química! - ele disse abrindo o livro

- Trabalho? Agora?

Era uma tarde de Sábado e eu não estava a fim de estudar.

- Nate, podemos deixar para mais tarde ou amanhã? - perguntei

- Claro que não, até porque mais tarde eu vou sair... - ele disse com um risinho malicioso nos lábios

- Sair de novo? Afff... - bufei

- "Afff", porque? Vou sair com o Peter e com o David... - deu de ombros

- Claro... - revirei os olhos

- Vamos! Que tipo de médica você quer ser hein? Vamos começar isso logo! - exclamou

Fomos para o meu quarto e estudamos a tarde inteira. Ele era o típico "nerd" que não tinha cara de nerd. Ele era o mais popular da escola. Aquele que as meninas só aparecem na escola para ver. Aquele que chega na sala de aula e todas suspiram. E ele nem se esforçava para isso. Ele era apenas ele. Por isso ainda era meu amigo. Ele nunca foi de se gabar ou de ficar com muitas meninas, quer dizer, não que eu tenha visto. Ele era bem "come quieto" também. Falava que ia sair com os amigos e de repente eu o via chegando em casa com uma garota. O melhor - para mim - é que ele nunca namorou. Ele dizia que ia namorar só na faculdade ou até depois! Dizia que queria aproveitar e curtir ao máximo a vida e a beleza que ele ainda tinha. É, ele também tem senso de humor.

Nathan era o único - além do meu amigo John, que é gay - que meu pai deixava entrar no meu quarto e ainda fazia questão de todas as vezes ter certeza de que a porta estava aberta. Quando deu a hora, Nate saiu desesperado. Eu suspirei alto só de imaginar ele em uma balada, dançando e rindo o tempo todo. Bom, eu não saía há séculos! E depois que começou o último ano e as provas de preparação para a faculdade eu saía menos. Nathan também queria fazer medicina, mas ele era tão vidrado em química e biologia que nem precisava estudar.

- Amie? - disse minha mãe entrando no quarto. - Porque não sai um pouco? Não quis ir com o Nathan? - perguntou

- ele não me convidou mãe... e mesmo se tivesse convidado eu não estou a fim... - respondi

- porque não chama o John? - sugeriu

- John é gay mãe! Ele odeia baladas héteros!

- Odeio nada!!!

A EscolhaWhere stories live. Discover now