Capítulo 1

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Estávamos na sala arrumando os últimos detalhes para "a viagem dos sonhos do meu pai". Porque acredito que só ele estava feliz em mudar de país, e eu estava odiando essa vontade incansável de mudar de vida que ele tinha colocado na cabeça,

- Pai, eu não vou para os Estados Unidos! A cultura deles é totalmente diferente das nossas! Eu não quero morar em um lugar estranho e longe das pessoas que eu gosto. - Falo chorosa.

- É claro que você vai Dandara! Veja a sua mãe e os seus irmãos como eles estão empolgados, segue o exemplo deles e para de choramingar! - Meu pai bufava de raiva, ele não gostava de ser contrariado.

- Eles, assim como eu, estamos sem opção de escolha pai. Mas, já sou bem "grandinha" e sei o que vai acontecer. Vamos sofrer muita humilhação, isso sim! - Retruquei. E como os meus irmãos são crianças, para eles tudo é diversão e nem sabe o que é ser humilhado. Por favor pai, por favor, me deixa ficar, todos os meus amigos moram aqui no Brasil.

- Eu já falei que não! Essa é a nossa chance de mudar de vida! E arruma logo essa droga de mala senão vou te dar umas "bofetadas''.

- Ah! Você acha mesmo que uma pessoa negra vai se dar bem nos Estados Unidos? Você está sonhando alto demais né pai? Nunca vamos mudar de vida naquele fim de mundo! - Falo aos gritos e com certo deboche.

Me sento no canto da sala com a cabeça entre as pernas e choro muito, porque no fundo eu sabia que ele não iria mudar de ideia e teríamos que partir.

Fui obrigada a deixar o Brasil com apenas quinze anos de idade para morar nos Estados Unidos com a minha família, ter que passar pela experiência de viver em um lugar desconhecido e longe dos meus amigos me enlouquecia só de imaginar.
Um vazio imenso tomava conta do meu ser e ao se aproximar o dia da viagem essa tristeza fazia com que algo dentro de mim se revirasse e isso embrulhava o meu estomago e a minha vontade era de vomitar toda aquela angústia que estava presa na minha garganta.

Enfim, chegou o dia tão esperado, "a grande viagem dos nossos sonhos'', só que não! Eu odiava a ideia de viajar e não concordava em deixar o Brasil para tentar a sorte em um lugar desconhecido, nunca tivemos nenhum tipo de contato com '' esses americanos'' nem mesmo com os futuros patrões dos meus pais, eles poderiam ser uma farsa, aquilo me soava uma grande loucura.

Mas, o meu pai parecia estar cego e queria de qualquer maneira mudar de horizontes em busca de um tesouro perdido, na minha opinião, jamais iria encontrá-lo porque tudo isso não passava de uma ilusão e essa "mina de ouro" não existe.
Alem de tudo, eu pensava como iríamos sobreviver em um lugar onde as pessoas odiavam brasileiros, essa era a impressão que eu tinha sobre os americanos. - Aquilo martelava na minha cabeça o tempo todo.

Bom, eu tiro essas conclusões porque quem falou tudo isso foi a minha prima Esther, que é comissária de bordo e morou nos Estados Unidos dois anos e eu acredito plenamente em sua versão! Como dizem por aí a primeira impressão é a que fica. E essa é a minha impressão sobre os Estados Unidos, até que me provem o contrário.

Deixo para traz todas as lembranças dos meus amigos da escola, da rua de terra onde brincávamos de queimada e dividíamos espaço com os meninos que jogavam bola.

Morávamos em uma casa simples, mas ela era nossa, tinha um quintal enorme rodeada por várias arvores frutíferas, goiabeiras, mangueira e meu pé de cerejeira que era lindo quando florescia.

Vou sentir muita saudade de tudo isso! - E uma lágrima escorre pelo meu rosto.

Apesar dos meus lamentos, não tive outra escolha e viajei com toda a minha família.

Três anos se passaram...

E com esses anos também passou a minha vontade de desistir de viver, como eu temia as coisas só foram piorando a cada dia, via a tristeza no olhar do meu pai, mas ele não se dava por vencido, tentava se mostrar feliz, escondia o seu desespero e sofrimento atrás de um sorriso falso e amarelo.

Dandara OsaharOnde histórias criam vida. Descubra agora