O inferno estava prestes a começar

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– O que está dizendo? – Perguntei já aos prantos no chão com o rosto completamente vermelho, tanto pela bofetada, quanto pelas lágrimas. A mão dele era pesada, e com certeza ardia mais que o inferno que ele tanto dizia.

– Nós já descobrimos seu segredinho, sua imunda! – Meu pai gritou nervoso. À essa altura as veias já saltavam de sua testa, estavam alto relevo. Aquilo me deixava nervosa, ao ponto de querer me esconder. Eu já tinha o visto assim, mas nunca com ninguém da nossa família.

– Que segredo? Eu nunca escondi nada de vocês! – Eu tentei argumentar soluçando. Tive que mentir, para ele estar naquele estado já havia descoberto sobre eu e Keana e aquilo estava começando a borbulhar dentro de mim, minhas pernas estavam moles.

– Ah, então quer dizer que isso não era um segredo? – Ele riu nervoso e ao mesmo tempo debochado, pegando uma foto do envelope escrito em letras itálicas "O segredinho da sua filha" e a esfregando em meu rosto.

Eu não conseguia ver o conteúdo da foto, que cada vez mais se amassava entre meu rosto e as mãos dele. Aquilo me machucava, eu não sabia o que fazer, como reagir em meio à tantos acontecimentos. Só depois que ele a amassou e a jogou sobre mim, eu pude entender do que se tratava. Cuidadosamente me abaixei para pegar as fotos que ele jogava no chão enquanto sacudia, transtornado, o envelope. Olhava pra cima trêmula com medo de ser acertada por mais um de seus golpes. Sequeis as lágrimas e enxerguei. Eu e Keana. Nos beijando. Ontem na praça. Eu e Keana. Sorveteria, quarta passada. Eu e Keana. Mãos dadas, calçada da escola. Quando meus olhos bateram naquilo, meu choro se intensificou como o de uma criança que perde os pais numa multidão e tem certeza de que nunca mais vai vê-los. As lágrimas geladas desciam de uma a uma sem intervalos sobre meu rosto pálido que naquele momento já estava mais que vermelho. Minha mãe, depois de toda a cena se abaixou pra sentar no sofá e chorava junto comigo, mas sem olhar pra mim. Repousava o rosto em uma das mãos, com o braço apoiado nos joelhos, tentava se conter. Eu não sabia se o seu choro era de pena, desgosto, ou ódio de mim. Ela tentou se aproximar, meu pai a empurrou pra trás, fazendo-a cair sentada sobre o sofá novamente.

– Você é uma imunda Lauren Michelle! – Meu pai disse quase que num sussurro, enquanto afundava os dedos grossos em minhas têmporas. Como se forçasse aquilo à entrar em minha mente.

Eu tentei segurar o choro, mas a dor contida em mim por conta das palavras pesadas do meu pai era mais forte. Chorei, como se o mundo fosse acabar. Um choro pesado, enquanto sons da minha falha garganta eram emitidos a cada tosse lacrimejante. Meu nariz estava perdendo sua eficácia, pouco a pouco ia se fechando, como o meu coração naquele momento. A única saída era respirar pela boca, enquanto mais e mais lágrimas desciam. A respiração pesada estava se fazendo presente, eu sugava todo o ar que meus pulmões conseguiam. Enquanto meu pai se descabelava andando em círculos pela sala. Um misto de ansiedade, nervoso, medo, pânico, se instalava dentro de mim e eu sentia como se fosse desmaiar à qualquer momento. Meu ouvido zunia como se um microfone estragado fosse posto ao lado dele.

– Porque você fez isso conosco, Lauren? – Mike disse chorando.

– Eu não fiz nada, pai! – Lauren dizia enquanto soluçava.

Mike que estava mais calmo, se exaltou novamente e foi até ela a segurando pelos ombros. O medo estava estampado nos olhos verdes de Lauren que te tanto chorar estavam desbotados em meio a vermelhidão que tomava conta de toda a sua face. Nada daquilo foi o suficiente pra que ele parasse, ficando cada vez mais agressivo. Seus dedos se afundavam nos ombros brancos da filha como se fossem perfurá-la, como se ela fosse um boneco de borracha prestes a explodir.

– MAS É CLARO QUE VOCÊ FEZ! O QUE TE DEU NA CABEÇA PARA SE ENVOLVER COM UMA... GAROTA?! – Mike gritou a sacudindo muito. A cabeça de Lauren ia e voltava pra trás causando terríveis dores nas vértebras de seu pescoço. Ela voltou a chorar com mais intensidade, agora pela dor física.

[Camren] My SinOnde as histórias ganham vida. Descobre agora