14.

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Beatriz

Agora encontro-me a olhar a minha pequena a dormir tranquilamente nesta cama de hospital. Apanhei um grande susto e por momentos pensei o pior. Ver a Lottie cheia de dores e com cara de choro cortou-me o coração. Senti-me impotente sem a conseguir ajudar.
Quando o Harry chegou e o abracei senti a segurança de volta e a paz de que te tudo ia correr bem. Quando os meus olhos encontraram os dele foi o suficiente para saber que independentemente de tudo o que aconteça entre nós ele vai estar sempre lá. Foi bom tê-lo cá e senti-lo por perto. Existe algo que nos liga de forma tão forte que tenho medo que possa escapar a qualquer momento. É estúpido eu sei, mas passámos por tanto que todos os pequenos gestos valem tanto, mas tanto. Amei ver os sorrisos dos meus filhos, sim o Thomas incluído independente de tudo, quando viram o pai neste momento, valeu e prevaleceu por tudo de errado que tenha acontecido.
Por momentos as palavras do Harry que não foi ele que me enviou os papéis pairam na minha cabeça e nem sei como reagir. Se por um lado quero acreditar, existe algo que me deixa de pé atrás. Não sei explicar.
Aqui e agora, encostada neste sofá desconfortável e observando a minha menina, noto como a vida pode ser tão injusta comigo, mas ao mesmo tempo me faz aprender com essa injustiça. Vejo a Lottie despertar ligeiramente e olhar-me com lágrimas nos olhos. Apresso-me a aproximar dela.

- Que se passa meu amor? Dói-te alguma coisa? – Pergunto enquanto passo a minha mão nas suas bochechas limpando as suas lágrimas.
- Mãe... Posso perguntar-te uma coisa? – Assinto. – Tu já não gostas do pai?
- De onde veio essa pergunta agora? – Sou apanha desprevenida com a sua pergunta.
- Eu sei que vou ter um mano da outra senhora, mas eu não quero. Quero ser apenas eu, a Emma e o Thomas. Quero ter-te a ti e ao pai comigo. Não quero dividir o meu pai com mais ninguém a não ser contigo e com os manos. – Sento-me a seu lado e ela deita a cabeça no meu colo.
- Lottie, a mãe nunca deixou de gostar do pai. Aliás eu ainda gosto e muito. Mais do que queria ou deveria. Eu percebo que não queiras dividir as atenções com outro mano, mas pode ter a certeza que o pai vai estar sempre lá quando tu precisares.
- Oh, mas não é a mesma coisa. Todos os dias na escola me dizem que o pai já não gosta de mim e da Emma e que é por isso que ele saiu de casa.
- O pai adora-vos e vocês são a coisa mais importante da vida dele.
- Mas e tu? – Arqueio a sobrancelha. – Não gosto de te ver e ouvir chorar.
- A vida é complicada e os problemas que tenho com o teu pai vão resolver-se.
- Mas vocês vão separar-se. Eu ouvi a avó Anne falar com a avó Ellen sobre isso. Mas eu não quero mãe. Não quero ficar sem ti e sem o pai. Quero os dois juntos outra vez. – Fico de coração apertado de pensar que a minha filha tem este medo e insegurança.
- Mesmo que eu me separe do teu pai, tu e os teus irmãos vão poder continuar a estar com os dois. Vocês vêm sempre em primeiro lugar. – Ela assente ainda triste.
- Como é que tu e o pai se conheceram? – Sorrio com a pergunta e depressa o meu cérebro me transporta para a memória da altura em que me cruzei com o Harry nos corredores da faculdade.

Vou em direção à aula quando no corredor choco com o grupo do Harry. O olhar da Inês fixa-se no do Niall, mas havia outro olhar em cima de mim.

-Vejam por onde andam. – O Harry diz meio rudemente.
- Desculpa. Isto é público e nós estamos atrasadas.
- Mais uma razão para verem por onde andam. – Olha-me profundamente
- Já pedi desculpa, ok? – Digo já meio alterada com a maneira como ele fala.
- Oh miúda tu sabes com quem estás a falar? – Pergunta com alguma fúria.
- Sim sei. Estou a falar com um idiota mal criado que me está a atrasar para as aulas.

- E não voltaste a falar com ele depois disso?
- Nesse mesmo dia voltamos a falar sim, mas ele foi bruto comigo.
- A sério? Mas se ele gosta de ti como pode ser bruto com quem gosta?
- É, mas na altura ele ainda não sabia que gostava de mim. – Sorrio com a lembrança das nossas discussões constantes.
- Mas e como soubeste que ele gostava de ti?
- Estás muito curiosa. – Faço cara de espantada com tanta pergunta.
- Apenas quero saber como a história de amor dos meus pais funciona. – Rio com a sua frase.
- O amor nem sempre é um conto de fadas.
- Sim, mas a tua história com o pai vai ter um final feliz que eu sei. Mas agora conta-me mais coisas.
- E posso saber para que queres saber isso tudo?
- Porque todas vezes que falas no pai sorris e isso é tão bom. – Sorri para mim e eu abraço-a.
- Vamos mas é dormir que já é tarde e tu ainda estás a recuperar. Amanhã conto mais da minha história.
- Prometes? – Assinto e ela deixa-se aninhar no meu colo fechando os seus olhos e caindo num sono tranquilo.

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