Capítulo 4

12.6K 1K 47
                                    


Boa leitura!


Oi Dani — Ela diz com a sua voz rouca de sempre e sorrir.

— Helena — Eu digo e seu nome deixa um gosto amargo em minha boca.

Durante muitos anos eu ensaiei o que eu falaria caso visse Helena de novo, mas nunca achei que esse dia iria chegar. Quando ela me abandonou com nossa filha, foi como se um ciclo da minha vida tivesse se fechado, e eu estivesse pronto pra começar outro.

Mas agora, aqui está ela, do mesmo jeito que eu sempre me lembrava, sorrindo com se fossemos velhos amigos, ou pior ainda, como se nada tivesse acontecido.

O que você quer aqui? Melhor, o que você tá fazendo aqui? Eu pergunto com raiva transbordando da minha voz, e por um momento, não a reconheço.

— Eu não sei, só vim. Estou procurando por você há muito tempo e quando soube que tinha se mudado pra cá...

— Desembucha Helena, eu não tenho o tempo todo.

— Não vai me convidar pra entrar? — Ela pergunta me encarando e eu juro por Deus, que por um momento eu penso o que aconteceria se eu a enforcasse.

— Não! Você não é bem vinda aqui. Então por favor, trate te voltar pra onde você estava e esquece que eu existo — Eu digo fechando a porta e nesse momento ouço o telefone tocar.

— Daniel, não! Você não pode fazer isso. — Helena grita e eu volto, temo que com esse escândalo ela possa acordar Antônia.

— Sim, eu posso e estou fazendo. Você não tem mais direitos aqui Helena, você perdeu tudo isso quando saiu por aquela porra de porta há cinco anos atrás e no meio da madrugada. Você perdeu o direito quando deixou sua filha e seu marido apenas com uma fodida carta. Você perdeu todo e qualquer direito Helena! — Eu digo tão calmamente que ela dá um passo pra trás. Acho que em todos os cinco anos que ficamos juntos, ela nunca me viu tão calmo e ao mesmo tempo tão ameaçador.

— Eu me arrependi no minuto que larguei vocês, mas eu não sabia o que fazer Dani — Ela diz e lágrimas escorrem do seu rosto, mas eu não me importo. Não mais. — Acredita em mim, eu amava você e a Antônia, vocês eram meus. — Ela sussurra o final.

— Você disse certo, éramos. Mas agora ela é a minha filha, e você é apenas uma pessoa que ela guarda a foto na sua mesa de estudo... Você é uma desconhecida pra sua própria filha, ela não precisa de você. — Eu digo e respiro fundo, preciso colocar tudo pra fora. — E, por favor, me chame de Daniel, você não tem mais intimidade comigo pra apelidos. — Eu me viro pra entrar e vejo-a descendo os primeiros degraus da varanda. —Ah, Helena? — Eu chamo e ela se vira e vejo um brilho de esperança em seus olhos.

— Sim?

— Nunca mais volte para nossas vidas, por favor.

Eu digo e entro em casa. Meu coração está disparado, minhas mãos tremem e vejo Bob vindo em minha direção. Meu Deus parece que eu terei um ataque cardíaco. Como pode a mulher que um dia você amou com loucura, hoje você sentir apenas repulsa? Pena? Onde será que todo aquele amor que eu sentia por Helena foi parar?

— Papai, o que foi? — Vejo Antônia vindo em minha direção. Ela tem um ursinho em uma de suas mãos e o seu cobertozinho na outra.

— Não é nada querida, eu estava indo fazer sua sopa — Eu digo indo em sua direção e a pegando no colo. Ela encosta sua cabeça na curvatura do meu pescoço e suspira.

PERDAS E DANOSOnde as histórias ganham vida. Descobre agora